MC Frank no grande show “É tudo nosso” na edição deste ano do Mormaço Cultural (Imagem Reprodução)

Foi uma despedida digna de quem mereceu o grande feito. Menos de um mês depois de se apresentar com sua turma no Festival Mormaço Cultural, no dia 19 de setembro, com o show “É tudo nosso”, o rapper e agente cultural MC Frank, 40 anos, se despediu do grande palco da vida ao falecer por volta das 2h da madrugada desta quinta-feira, 16, após ficar muito debilitado devido ao câncer contra o qual batalhava.

A apresentação no Mormaço foi o grande show não apenas de sua vida, mas de todos que fazem a cena do hip-hop roraimense, os quais presenciaram a periferia mandar seu recado a um grande e surpreendente público. A escolha do nome do show era uma celebração de que o marginalizado hip-hop havia dominado não apenas aquele palco de grandes artistas de renome nacional, mas dado um passo definitivo para sair da invisibilidade.

Sair da invisibilidade não significa necessariamente fama ou reconhecimento, mas se tornar um importante instrumento fomentador da criticidade, servindo de inspiração para que jovens tenham voz altiva na sociedade e que também consigam alcançar mudança de vida dentro de uma periferia rodeada por drogas, violência e falta de expectativa de vida devido à ausência de políticas públicas.

Esse é o grande legado de MC Frank, que não mediu esforço para levar sua arte à periferia, especialmente no Residencial Vila Jardim, localizado no bairro Cidade Satélite, zona Oeste da Capital, onde a periferia pulsa no seu alto grau, e repassar seus ensinamentos para a juventude do cenário do hip-hop roraimense, que hoje reconhece a grande luta e reafirma que o legado será mantido daqui para frente.

O falecimento do grande líder ocorre em um momento crucial, em que políticos se voltam contra o hip-hop tentando criminalizá-lo sob a alegação de que os rappers fazem apologia ao crime e que dão maus exemplos para crianças e adolescentes, como se outros estilos musicais não apenas incentivassem o alcoolismo e a vidra desregrada, como também não retratassem mulheres como objetos sexuais.

Mas essa é uma luta que ficará para essa nova geração que teve MC Frank como o grande mestre, que deu exemplo de liderança por meio de sua luta contra o câncer, inclusive participando do Mormaço Cultural já debilitado. Mas, talvez, de alguma forma, ele soubesse que ali era sua grande oportunidade de repassar o bastão para os seus pupilos. Essa é a lembrança que deverá ficar de MC Frank para a eternidade. O espetáculo precisa continuar, seja na periferia ou onde as oportunidades chamarem, a exemplo do show histórico “É tudo nosso”.   

*Colunista

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