Centenas de militares do Exército Brasileiro (EB) e da Força Aérea Brasileira (FAB) se reuniram nesta quinta-feira (9), na Serra do Tucano, em Bonfim (RR), para simular a capacidade de viaturas blindadas, tanques de guerra, viaturas e até lançadora de foguetes em defender a Amazônia em caso de conflito armado.
Em meio ao conjunto de serras, o último treino da Operação Atlas consistiu em identificar inimigos fictícios, representados por desenhos de cruz, triângulo, quadrado e círculo.
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Para o comandante militar da Amazônia, general Luiz Gonzaga Viana Filho, o maior exercício militar do Brasil em 2025 conseguiu atingir todos os objetivos.
“Esses dois grandes objetivos: deslocamento estratégico com a concentração de forças no extremo Norte do País, aqui em Roraima; e a interoperabilidade entre as forças, foram plenamente atingidos”, destacou.
O primeiro-tenente do 18º Regimento de Cavalaria Mecanizado em Boa Vista, Juliano Rodrigues, 30, definiu a experiência na Atlas como “única”.
“Estar aqui num contexto de operações com vários elementos, como carros de combate de Ponta Grossa (PR), artilharia do Rio Grande do Sul, tropas da Força Aérea, foi uma experiência única e marcante”, declarou.
A simulação
A primeira ação de ataque para desgastar o inimigo foi da aeronave turboélice A-29, conhecida como Super Tucano. O modelo desenvolvido no Brasil é equipado com duas metralhadoras .50 e possui pontos para instalar mísseis, foguetes e bombas.
Na sequência, para seguir no ataque, um grupo de exploradores usou as viaturas blindadas Guaicurus, equipadas com uma metralhadora MAG 7,62 milímetros com a cadência máxima de 1 mil tiros por minuto e alcance de até 1,8 quilômetro.
A atividade seguiu com os tiros disparados por viaturas do modelo Guarani, equipadas com metralhadora .50, com calibre de 12,7 milímetros, capaz de atirar aproximadamente 600 tiros por minuto com o mesmo alcance dos Guaicurus.
Viaturas do modelo Cascavel, depois, entraram em ação para evitar o avanço de blindados inimigos de reconhecimento equipados com canhões. Esses veículos usam canhões 90 milímetros com alcance de até dois quilômetros de distância.
Em seguida, os militares controlaram remotamente um sistema de aeronave para sobrevoar a área de alvo. A ação foi sucedida por uma execução simultânea de tiros de 105 e 155 milímetros por um obuseiro (semelhante a um canhão) do grupo de artilharia para fragilizar o inimigo.
Apesar das baixas, o inimigo conseguiu penetrar na defesa aliada. Assim, os militares passaram a empregar tropas blindadas reservas, como tanques, para restabelecer o limite anterior de defesa avançada e começar o contra-ataque aos alvos.
Por fim, o grupo de mísseis e foguetes agiu para degradar a reserva blindada inimiga, dispersando-a e ganhando tempo para completar o restabelecimento da posição defensiva. Os foguetes caem a aproximadamente 7,5 quilômetros.
O general Viana Filho destacou o ineditismo do uso desse equipamento no Brasil pelo 16º Grupo de Mísseis e Foguetes.
“Pela primeira vez nós tivemos o emprego de tiros do grupamento de mísseis e foguetes no teatro de operações amazônico. Nós tivemos demonstração de fogos de viaturas de combate da nossa cavalaria. Esse ineditismo prova a nossa capacidade de estarmos aptos a defender a soberania da nossa Amazônia”, declarou.
Visitantes
Dez alunos do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal (UFRR) acompanharam a demonstração e puderam até adentrar nos equipamentos militares. Estudante do 6º semestre, Elisama Thaís, de 21 anos, disse que a visita busca fazê-la compreender a capacidade das Forças Armadas.
“Nós estamos em um Estado de fronteira, um Estado amazônico, que lida com diversas situações muito importantes para as Relações Internacionais. Ter esse contato entre academia, estudantes, professores, Exército, representantes do governo, é muito legal e interessante, uma conexão muito importante”, destacou.
A professora de Relações Internacionais, Júlia Camargo, explicou que conhecer o trabalho das Forças Armadas é um requisito para internacionalistas.
“Quando o diplomata não consegue fazer a sua negociação, é a guerra que entra em campo. Então, para a gente, todo internacionalista, pelo menos uma vez na sua vida, vai ter que ter um contato com as Forças Armadas, ter um diálogo com os militares. Então, esse exercício é muito importante para a formação de profissionais, que vivem numa área de tríplice fronteira e que tem toda essa questão da Amazônia para ser discutida, refletida, inclusive no campo da segurança e defesa”, explicou.