

As notícias que circulam sobre municípios do interior indicam a necessidade de passar a limpo muitas prefeituras em Roraima, principalmente aquelas nos mapas de distribuição de emendas parlamentares estaduais e federais. O caso mais emblemático é o do Município de São Luiz do Anauá, no Sul do Estado, campeão de emendas Pix, que é alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa que investiga as finanças daquela localidade, cujo rombo pode chegar a estratosférica cifra de R$38 milhões!
Mas há outros casos que merecem atenção, a exemplo do Município do Amajari, Norte do Estado, onde servidores da saúde denunciaram nesta semana o atraso no pagamento do salário, que é algo sagrado para qualquer família de trabalhador. Só para ilustrar, vale ressaltar que esse município consta da lista 12 prefeituras que receberam repasse de crédito extraordinário no valor de R$ 70 milhões em período pré-eleitoral no ano de 2021, um dos escândalos que até hoje não foi explicado.
O Município de Bonfim, a Leste do Estado, é outro atormentado por operações da Polícia Federal que investigam fortíssimas suspeitas de corrupção. A mais recente ocorreu esta semana, sem qualquer repercussão na mídia, cujo alvo foi uma empresa contratada para realizar manutenção nas estradas. Um saque de R$500 mil na agência do Banco do Brasil em frente do Hospital Geral de Roraima (HGR) levou a PF a investigar a empresa que tem quase R$50 milhões em contratos em Bonfim, recurso esse oriundo da emenda de um deputado estadual cujo repasse foi feito por meio de “transferência especial”.
O detalhe é que a empresa, com endereço registrado no bairro de Liberdade, em Boa Vista, apresenta todos os indícios de que sequer esteja funcionando, pois no local não existe nenhuma estrutura comercial, muito menos estrutura para armazenar os maquinários necessários para realizar as obras de manutenção de vicinal, para as quais foi contratada pela Prefeitura de Bonfim. Até agora, a polícia só alcançou a família responsável pela empresa, que movimenta dinheiro vivo, sacado na boca do caixa, a fim de dificultar o rastreamento das cifras.
Enquanto tudo isso ocorre nos municípios do interior, as populações que moram nessas localidades vivem em cidades e vicinais com estruturas precárias, com famílias pobres e políticos cada vez mais ricos, inclusive com altas somas de dinheiro sendo apreendidas em caixas de papelão, mochilas e até na cueca dos políticos. E isso não é de agora. Vem de longas datas, mas é algo que tem ocorrido com frequência nesses últimos anos, como se tornasse uma prática normalizada em um Estado onde políticos cassados ficam no cargo até o fim do mandato.
Se os moradores dos municípios do interior não tomarem uma atitude séria, parando de reconduzir os mesmos políticos, vendendo seu voto a cada eleição, essa vergonhosa realidade jamais será mudada, com dinheiro alimentando dutos de corrupção enquanto restam à população pontes de madeira, salários atrasados, educação e saúde precárias, falta de emprego e outras mazelas clássicas que o povo bem conhece.
*Colunista