INVESTIGAÇÃO DA PF

Ex-prefeito é suspeito de usar empresária como 'laranja' em contratos milionários em Bonfim

Joner Chagas disse confiar na Justiça e prometeu provar a inocência. Prefeitura de Bonfim informou que todos os procedimentos seguiram rigorosamente os ritos legais. Defesa da empresária Mariângela Moletta não comentou

Joner Chagas, ex-prefeito de Bonfim. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
Joner Chagas, ex-prefeito de Bonfim. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

O ex-prefeito de Bonfim, Joner Chagas (Republicanos), é suspeito de usar uma empresária como “testa de ferro” de contratos milionários com a Prefeitura do Município. Mariângela Moletta, o marido e a filha do casal foram presos em flagrante pela Polícia Federal (PF) com R$ 510 mil por suspeita de lavagem de dinheiro.

Em nota, Chagas se diz “tranquilo”, que confia na Justiça e prometeu provar a inocência no processo.

“Ao longo da minha vida pública, sempre pautei minhas ações pelo respeito à lei, transparência e zelo com o recurso público. Tenho certeza que a verdade prevalecerá”, disse.

A Prefeitura de Bonfim informou que todos os procedimentos seguiram rigorosamente os ritos legais, em conformidade com a legislação vigente.

“Reforça que a gestão municipal atua com transparência, responsabilidade e zelo pelo recurso público. A instituição confia que todos os fatos serão devidamente esclarecidos e reafirma o compromisso com a legalidade, a ética e a boa gestão pública.”

A defesa da empresária ainda não se pronunciou sobre o assunto.

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Documentos obtidos pela Folha BV revelam que a PF foi avisada por denúncia anônima, um dia antes, sobre um saque de R$ 500 mil, que seria feito por Mariângela, sócia-administradora da Construtora Prosolo Ltda. A empresa possui mais de R$ 50 milhões em contratos com a Prefeitura de Bonfim.

A corporação monitorou os três, em uma agência do Banco do Brasil, em Boa Vista, estranhou o fato de Juliana levar a mochila para guardar o montante e decidiu abordar o trio.

Durante a abordagem, os três disseram que os maços com notas de R$ 100 seriam para pagar funcionários e aluguéis de máquinas, e que o recurso tinha origem em um contrato com a Prefeitura.

Entretanto, inicialmente, eles não souberam responder sobre os fornecedores que seriam pagos em espécie, explicando genericamente que alguns preferiam receber em dinheiro. Na sede da PF, entretanto, eles permaneceram em silêncio por orientação dos advogados.

Assim, a PF pediu que a Justiça suspenda as atividades da Prosolo e bloqueie um empenho de R$ 5 milhões da Prefeitura de Bonfim, relativo ao contrato de manutenção de estradas vicinais. O vínculo foi firmado em 2024, último ano da gestão de Joner Chagas.

Segundo o inquérito, a corporação investiga possíveis crimes de lavagem de dinheiro, associação criminosa, corrupção ativa e fraude em licitação.

Empresa de fachada

Sede da empresa Prosolo não tem fachada no bairro Liberdade, em Boa Vista (Foto: Reprodução)

Segundo a investigação, há indícios de que a Prosolo, situada no bairro Liberdade, zona Oeste da capital de Roraima, seja empresa de fachada. Isso porque a corporação constatou presencialmente sinais de que o imóvel esteja desocupado, como mato alto, cerca elétrica e medidor de energia danificados.

‘Testa de ferro’ de Joner Chagas

Em análise preliminar no celular de Mariângela, a PF constata que Joner Chagas, atual presidente da Associação dos Municípios de Roraima (AMR), possivelmente usa Mariângela como “testa de ferro” para controlar contratos milionários e dar aparência de legalidade às movimentações suspeitas.

Ainda conforme a investigação, Chagas orientava Mariângela a como realizar pagamentos e transferências. Em mensagens, ele indicava valores, destinatários e até quais contas bancárias deveriam receber os recursos. A polícia, inclusive, identificou que a Prosolo enviou valores para a filha do pregoeiro de Bonfim.

Ex-prefeito teria orientado fraude

Diálogos no WhatsApp entre Joner Chagas e a empresária Mariângela Molleta (Foto: Reprodução)

Ainda de acordo com a PF, no dia 15 de setembro, em conversa com a proprietária da Prosolo, Joner Chagas começou a tratar possível fraude na execução do contrato, ao orientar o ajuste do valor da medição dos quilômetros de estrada a serem objeto da manutenção. Chagas chegou a indicar um engenheiro do Município para atestar a execução simulada.

Chagas é ‘dono’ de ata de registro, diz PF

Diálogo de Joner Chagas com Mariângela (Foto: Reprodução)

Nesse mesmo dia, o ex-prefeito orienta a empresária a não compartilhar uma ata de registro de preços, para que ele replique o documento em vários outros municípios. Joner Chagas ainda diz que, em 2026, vai aditivar o valor da ata. Mariângela responde: “nada farei sem a sua autorização”.

“Joner se mostra como o ‘dono’ da Ata de Registro Preços, cujo teor da conversa denota clara intenção de usufrui-la o máximo possível, ao que se supoe [sic] a intenção de se utilizar de maneira indevida da maior quantidade de dinheiro possível”, revela o inquérito da PF.

Diálogo momentos antes da prisão do trio

A PF também identificou um diálogo entre eles momentos antes de o trio ser preso, em que o ex-prefeito pede a transferência dos valores de R$ 37.602,93, R$ 35 mil e R$ 10 mil para três contas distintas. Mariângela, inclusive, comenta que aguardava liberar o horário para enviar valores maiores.

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