JESSÉ SOUZA

Cenas perturbadoras e início de semana violento numa área conflagrada pelo crime

Cenas perturbadoras e início de semana violento numa área conflagrada pelo crime
Mais um venezuelano foi baleado em frente da Rodoviária Internacional de Boa Vista (Imagem: Divulgação)

Os últimos dias de setembro estão sendo marcados por extrema violência no trânsito e na criminalidade em Roraima, problemas estes que se tornaram os maiores desafios das autoridades, as quais mostram-se perdidas entre a realidade de falta de políticas públicas e da retórica construída para ocultar essa grande fratura social exibida a partir das ruas e transmitida diariamente pelas redes sociais, com imagens perturbadoras que obviamente não podem ser mostradas pela imprensa.

A segunda-feira, 29, pode ser considerada como um dia macabro dentro desse contexto de intensa violência urbana. A semana começou com mais um assassinato no bairro São Bento, onde se desenrola uma guerra declarada entre faccionados venezuelanos e que, dias atrás, na mesma área, houve um tiroteio em que uma mulher que passava pelo local morreu atropelada por um carro durante a fuga dos bandidos. É lá, também, onde os “donos da boca” picham recados no muro das residências.

No vizinho bairro Pricumã, mais precisamente na mesma área onde foi descoberto um cemitério clandestino usado pela facção venezuelana, ainda nessa segunda-feira, um corpo foi encontrado em estado de decomposição, desafiando as autoridades que meses atrás anunciaram uma operação para tentar descobrir quem são os criminosos e as vítimas. No entanto, até agora, sequer todas as vítimas enterradas em covas rasas tiveram sua identidade descoberta.

Para piorar o cenário dessa semana que começou violenta, a poucos metro do cemitério clandestino, no entorno da Rodoviária Internacional de Boa Vista, os bandidos tentaram matar a tiros outro venezuelano, que não morreu graças à intervenção rápida dos socorristas. Nesse mesmo movimentado local já ocorreram assassinatos e outras tentativas de execução a tiros, inclusive durante o dia, uma realidade dividida entre a audácia dos criminosos e a ineficiência das ações policiais.

Enquanto as autoridades fazem ações midiáticas para alegar que “está tudo sob controle”, inclusive contrariando dados oficiais, as ações criminosas são bem explícitas ao mostrar que faccionados venezuelanos estão em guerra sangrenta dentro daquela área que vai do bairro 13 de Setembro, passando pela Rodoviária (que fica exatamente na divisa dos bairros 13, São Vicente e Pricumã) e seguindo até o vizinho São Bento, onde a lei da bala fala mais alto nesse setor conflagrado pela facção estrangeira.

Para mostrar que a criminalidade não se resume a essa extensão dominada por faccionados venezuelanos, um corpo com marcas de tiro foi encontrado, também nessa segunda-feira sangrenta, na Vila Nova, no Município de Mucajaí, região sob o domínio do narcogarimpo, realidade amplamente conhecida não só das autoridades locais, mas também das autoridades federais que estão no combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.

Como se já não fosse uma realidade trágica por si só, os acidentes de trânsito seguem mostrando uma guerrilha gratuita nas ruas e avenidas largas de Boa Vista e  nas rodovias federais e estaduais. Inclusive cenas de terror, na Capital, circulam nas redes sociais mostrando um motociclista que quase morreu queimado após a moto que ele conduzia incendia na forte colisão na traseira de uma caçamba, no bairro Bela Vista.

Dias antes, no sábado, duas motos se colidiram na saída de Boa Vista, no trecho norte da BR-174, próximo à ponte do Cauamé, quando uma mulher morreu na hora. Só para lembrar, a semana que se passou também foi marcada por mais uma tragédia na rodovia estadual RR-205, quando outra mulher que estava em uma moto morreu. Isso apenas para mostrar a gravidade da situação, pois vários acidentes com mortes vêm ocorrendo rotineiramente naquela estrada.

Com relação aos acidentes, a irresponsabilidade, a imprudência e a imperícia são as causas explícitas, o que significa que a população precisa tomar consciência. O Ministério Público de Roraima (MPRR) lançou, na semana passada, o programa “Restaurando Condutores”, mas que não será suficiente para enfrentar o problema. As autoridades de trânsito precisam reagir, primeiro saindo de seus confortos nos gabinetes refrigerados.

No que diz respeito à criminalidade, a Polícia Civil iniciou uma operação contra o crime organizado, há quase duas semanas, mas os fatos indicam que as facções venezuelanas não tomaram conhecimento e continuam desafiando os poderes constituídos. Seguem com todo poder e violência em uma área explícita, a qualquer hora do dia e da noite, além de qualquer dia da semana, enquanto as polícias descansam e não se mostram organizadas. Essa é a realidade nua e crua exibida nas redes sociais, enquanto as autoridades seguem em silêncio.

*Colunista

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