O consumo de bebidas adulteradas com metanol, um álcool altamente tóxico para o organismo humano, pode levar à cegueira irreversível e até mesmo à morte. O alerta foi reforçado pelo médico oftalmologista Nazareno Barreto, ouvido pela Folha, em meio à repercussão nacional de casos registrados em São Paulo, onde três mortes já são investigadas por suspeita de intoxicação.
Segundo o especialista, o metanol é usado na indústria para fabricação de solventes e plásticos, mas não deve ter contato com consumo humano. “Metanol é uma substância extremamente tóxica para o ser humano, ao contrário do etanol, que é o álcool presente nas bebidas. Ele causa lesão hepática, neurológica e pode levar à cegueira, que é uma das complicações mais graves”, explicou.
Cegueira irreversível
O médico destacou que a substância provoca atrofia do nervo óptico, responsável pela visão. “Infelizmente isso não tem volta. A pessoa pode ficar cega de forma permanente. Em São Paulo já houve três óbitos, e uma paciente relatou ter perdido a visão após ingerir uma bebida batizada”, disse.
Barreto lembrou ainda que é praticamente impossível distinguir uma bebida com metanol de uma com etanol apenas pelo gosto ou pelo cheiro. “Quando você faz uma caipirinha com etanol e outra com metanol, os gostos são muito parecidos. Não há diferença perceptível nem no sabor nem no odor”, reforçou.
Sintomas aparecem horas após o consumo
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Os efeitos da intoxicação não são imediatos, mas surgem poucas horas depois da ingestão. Entre os sintomas estão dor abdominal, mal-estar, tontura, convulsões e, em casos graves, colapso. “Esse tempo é de horas. Muitas vezes a pessoa acredita que está apenas sob efeito da bebida, mas na verdade já é intoxicação por metanol”, explicou o oftalmologista.
O tratamento inclui o uso de antídoto em ambiente hospitalar e, em casos mais sérios, sessões de hemodiálise para remover a substância do organismo. “Se não houver atendimento rápido, as consequências podem ser fatais ou resultar em cegueira irreversível. Por isso a orientação é procurar ajuda médica imediatamente ao sentir sintomas suspeitos”, destacou Barreto.
Situação em São Paulo
A Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo confirmou que já foram contabilizados nove casos de intoxicação por metanol, sendo três mortes suspeitas em investigação, uma na capital e duas em São Bernardo do Campo. Os exames para confirmar a causa das mortes estão em andamento no Instituto Médico Legal.
Segundo a Prefeitura de São Paulo, só neste ano foram registrados 14 casos suspeitos de intoxicação por bebidas adulteradas na cidade. Em nota, a gestão municipal disse que equipes de vigilância sanitária acompanham as investigações sobre a origem das bebidas.
A Agência Brasil destacou que alguns pacientes que sobreviveram relataram perda parcial ou total da visão, além de sintomas graves de intoxicação. Os casos estão sendo apurados pela polícia, que investiga como o metanol foi parar nas bebidas e quem são os responsáveis pela adulteração.