JESSÉ SOUZA

Anuário da Educação mostra escolas sem estrutura e alunos saindo sem aprender o básico

Alunos da Educação Básica estão chegam ao final sem aprender Língua Portuguesa e Matemática (Foto: Divulgação)

Quando se trata do tema Educação, existem três realidades observadas em Roraima. A primeira delas é o que o governo diz sobre o que está realizando. Obviamente, por se tratar de institucionais pagos na mídia, é como tudo estivesse melhorando, com professores e alunos sorrindo, salas de aula felizes e estruturas sendo melhoradas.

No entanto, tem a segunda realidade, que é aquela mostrada pelas operações policiais, em que mudam os personagens, mas seguem os mesmos esquemas de desvio ou má aplicação de recursos na merenda, no transporte e compra de materiais didáticos.

Aí surge a terceira realizada, que é a dos números e das análises mostrando a face oculta jamais mostrada em institucionais e que podem revelar os verdadeiros reflexos que advém dos graves problemas, entre eles a corrupção. Aqui entram os dados divulgados pelo Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025, cujos dados são referentes a 2024, uma publicação que oferece um panorama completo e acessível para gestores públicos, organizações da sociedade civil, jornalistas e todos que atuam pela melhoria da Educação no país.

E os dados desse ano mostram uma realidade preocupante em Roraima, que tem 904 escolas de Educação Básica, com 8.472 professores e 186.657 alunos matriculados. Os dados até começam bem, com 90 de cada 100 crianças ingressando pré-escola nas redes municipal e privada. E com 91 de cada 100 concluindo os anos iniciais do Ensino Fundamental até os 12 anos de idade.

Mas quando chega aos anos finais do Ensino Fundamental, os números começam a preocupar. De cada 100 alunos, apenas 86 concluem os anos finais do Ensino Fundamental aos 16 anos. Pior: apenas 8,1% chegam ao final com aprendizagem adequada em Língua Portuguesa e em Matemática, no 9º ano. O Anuário mostra que 89,1% desse público está matriculado na rede estadual de ensino.

A idade dos alunos vai subindo e os números vão caindo: de cada 100 alunos, apenas 69 concluem o Ensino Médio aos 19 anos, com apenas 3,3% com aprendizagem adequada em Língua Portuguesa e em Matemática, no 3º ano. Os dados mostram que 90,3% desse público está matriculado na rede estadual, 4,5% na rede federal e 5,3% na rede privada.

A infraestrutura básica das escolas também é desnudada no Anuário, deixando às claras que as políticas públicas por uma educação pública gratuita e de boa qualidade estão longe de ser uma realidade. A começar pela questão do calor em sala de aula em um Estado com clima quente: apenas 70,9% das salas são climatizadas, o que significa que nem todos os alunos têm um ambiente ideal para se concentrar nos estudos, enquanto os políticos vivem em gabinetes refrigerados.

Nas escolas dos anos finais do Ensino fundamental, ter uma escola ideal para garantir qualidade de educação estão longe do ideal: apenas 27,8% possuem laboratório de informática, 14,3% dispõem de laboratório de ciências e 43,7% têm quadra de esportes, ou seja, menos da metade das escolas estaduais não dispõem de local para prática de esportes, que é um item fundamental para crianças e adolescentes se desenvolverem.

Essa realidade é muito semelhante nas escolas do Ensino Médio, onde 35% possuem laboratório de informática, 25%têm laboratório de ciências e 48,9% dispõem de quadra de esportes (um pouco mais da metade). E nem precisa de muito esforço para perceber que essas carências ocorrem, em sua maioria, nas escolas localizadas no interior do Estados e comunidades indígenas, onde o impacto do descaso é muito maior do que ocorre na periferia de Boa Vista.

Os números do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 são suficientes para mostrar o que ocorre entre o que é pregado nos discursos dos políticos e do que ocorre efetivamente nas salas de aula. E toda vez que alguém assistir ou ouvir falar de operação policial na Educação, pode ter certeza de que ali estará o principal motivo para chegarmos a esta realidade desoladora.  

*Colunista

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