Na crônica do último final de semana, falei do filme “Nossas noites”, de 2017, do diretor indiano Ritesh Batra, com os atores Jane Fonda e Robert Redford, que faleceu recentemente, aos 89 anos, dormindo, em seu rancho, em Utah, EUA.
“Nossas noites” conta a historia dos vizinhos, Addie Moore e Louis Waters, ambos viúvos, que concordaram em dividir a mesma cama para espantar a solidão, e logo descobrem outros sentimentos.
Recebi e-mails dos leitores Theo M., residente em Manaus e de Inês S, do interior da Bahia. Ambos relataram sobre solidão na velhice. Theo, 71 anos, viúvo, relata que ficou onze anos só, e que hoje divide a vida e a casa com nova companheira; escreveu que: “a solidão açoita, sem piedade os idosos”.
Inês, não revelou a idade: separada, nunca mais encontrou um parceiro para compartilhar a vida. Com filhos adultos, casados, morando longe, “se sente triste por viver só”.
Segundo estudos, a solidão na terceira idade impacta diretamente a saúde emocional dos idosos. Esse sentimento pode levar ao desenvolvimento de depressão, ansiedade e isolamento social. Mudanças no convívio familiar e perdas afetivas intensificam o distanciamento. A falta de apoio adequado contribui para o agravamento desses quadros. Existem caminhos de apoio que promovem acolhimento, convivência e bem-estar.
A solidão na terceira idade é uma realidade silenciosa que afeta milhões de idosos, em todos os lugares do mundo.
No filme “Meu bolo favorito” (2024), dirigido pelo casal de cineastas iranianos Maryam Moqadam e Behtash Sanaeeha, responsável pelos ótimos “O Perdão” (2020) e “Cortinas fechadas” (2013), “Meu bolo favorito” acompanha o cotidiano calmo e sem surpresas de Mahin (Lili Farhadpour), uma mulher de 70 que vive em Teerã, depois que seu marido morreu e sua filha se mudou para Europa. Sua rotina é um tédio. Seus vizinhos são fofoqueiros. Suas amigas são parcerias e estimulam ela a fazer novas coisas, mas os assuntos giram quase sempre em torno de doenças. Quando fala com a filha, por videochamada no celular, a conversa é rápida e superficial. Ela se sente muito só. Mas um dia, após uma tarde de chá com as amigas, Mahin se convence que precisa de um namorado. E a oportunidade aparece logo. Mahine está almoçando em um restaurante e escuta um grupo de homens trocando uma ideia com um taxista chamado o Faramarz (Esmaeel Mehrabi), também de 70 anos, que está comendo só na mesa ao lado. Ela percebe que o homem é solitário e parece desanimado. Eis que Mahine, então, toma uma atitude inusitada: ela segue Faramarz, apresenta-se e pede que ele a leve para casa.
Mahine flerta com Faramarz durante a corrida, ele corresponde e os dois acabam dentro da casa dela, conversando, bebendo juntos, dançando e até tomando banho. Os dois, então, descobrem a felicidade um no outro, instantaneamente.
Exímia doceira, Mahine fisgou Faramarz pelo estômago. Como fazem muitas mulheres.
A verdade é que somos seres gregários e sociais, e precisamos da companhia de um alguém para compartilhar a vida.
Luiz Thadeu Nunes e Silva
Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”
Instagram: @luiz.thadeu
Facebook: Luiz Thadeu Silva
E-mail: [email protected]