
A verdade sempre surge em algum momento. A face oculta da Polícia Militar que as autoridades não querem que venha à luz dos fatos acabou sendo revelada por um grupo de policiais militares, que relataram à FolhaBV o que eles chamam de “cenário de desmotivação dentro da tropa” que contribui para esse quadro do avanço de criminalidade que estamos observando no Estado, especialmente em Boa Vista, onde faccionados venezuelanos estão impondo suas próprias leis.
Embora o que vem sendo divulgado nos institucionais na mídia e nas redes sociais mostre uma “realidade instagramável” na Polícia Militar, conforme os policiais destacaram, a realidade no policiamento ostensivo é de uma corporação atribulada pelo desmantelamento: sobrecarga de atribuições por desvio de funções, desmotivação devido à defasagem salarial, promoções atrasadas ou concedidas por meio de fraudes e até falta de combustível para as viaturas.
A partir desse cenário é possível conceber a verdadeira situação da PM, responsável pelo policiamento ostensivo, diante do avanço da criminalidade encabeçada por facções venezuelanas, em consórcio com facções brasileiras, que estão impondo o terror nos bairros mais pobres e populosos da Capital. Porém, a realidade nua e crua relatada por esse grupo de PMs vai mais além.
Os policiais citaram ainda um trem da alegria da cessão para os órgãos dos Três Poderes constituídos, onde policiais exercem funções administrativa, e o excessivo número de pedidos para atender a interesses de órgãos federais, estaduais e autarquias (Detran, Femarh, Aderr, Tribunal de Justiça, Ministério Público, Iteraima e Defensoria Pública) em caravanas que tiram os PMs de suas verdadeiras atribuições no policiamento ostensivo, que é garantir a segurança da população no dia a dia.
Com a tropa vivendo há quase uma década sem reajuste salarial, muitos policiais endividados e com sua renda familiar que não conseguem mais manter suas necessidades básicas, muitos se submetem a trabalhos extras, como motoristas de aplicativos, segurança privada e outros. Enquanto isso, o Governo do Estado concedeu um mísero reajuste de 4% parcelado, causando mais descontentamento e desmotivação não só na PM, mas em todos os setores do funcionalismo público.
Aos praças não restam mais sequer os benefícios do Serviço Voluntário Indenizado (SVI), para o qual não existe mais motivação devido ao baixo valor. Enquanto isso, conforme os PMs, boa parte dos coronéis que estão no comando de unidades enfrenta uma realidade privilegiada, exercendo outras atividades como empresários ou mesmo cumprindo expediente sem qualquer esforço ou preocupação com a qualidade dos serviços prestados à população.
Diante do quadro desmotivador e de desmantelamento, não resta sequer motivação para a tropa participar do curso de Técnicas Policiais (CTP), realizado semanalmente, pois sobrecarrega e desgasta os que já estão vivendo uma situação profissional desfavorável, na mesma medida em que as autoridades de segurança entram na modinha das corridas de rua como forma de promoção institucional e para desviar a atenção ao que realmente está ocorrendo com a Segurança Pública.
Bem acima disso ainda está a deplorável realidade de PMs cooptados pelo narcogarimpo, presos e investigados por formação de milícia e venda ilegal de armas e munições ou até mesmo corrupção eleitoral, incluindo coronéis. Trata-se de uma questão não mesmo alarmante e preocupante. A partir de tudo isso é possível entender o que está ocorrendo nos bastidores do avanço da criminalidade no Estado.
E todo esse quadro só irá despertar uma reação quando um familiar de autoridade for vítima da bandidagem por estar no lugar e na hora errados. Porque, por enquanto, a questão é tratada “apenas” como venezuelanos matando venezuelanos, quando se sabe que o buraco é bem mais embaixo… ou lá em cima…
*Colunista