JESSÉ SOUZA

As duas realidades imaginadas que as autoridades querem fazer o povo acreditar

As duas realidades imaginadas que as autoridades querem fazer o povo acreditar
Faccionados venezuelanos já dominam áreas de invasão nos bairros de Boa Vista (Foto: Divulgação)

As autoridades de Segurança Pública intensificaram o discurso de que a guerra entre faccionados venezuelanos em Boa Vista é problema apenas dos… venezuelanos. É como se houvesse duas realidades:  a dos crimes cometidos apenas dos brasileiros e a dos criminosos estrangeiros. Traçaram uma linha imaginária em que as autoridades roraimenses parecem se preocupar apenas com ladrões de galinha brasileiros.

Foi assim que surgiu um cemitério clandestino em que as autoridades não descobriram a identidade das vítimas nem dos bandidos venezuelanos que enterraram seus compatriotas em covas rasas no bairro Pricumã, numa área que fica atrás do terreno da Polícia Militar, onde há cinco anos foi anunciada a construção da nova sede do 1º Batalhão, a qual segue a passos lentos, inversamente proporcional à organização dos faccionados venezuelanos e brasileiros.  

Também foi assim que os faccionados venezuelanos se armaram sem ser incomodados e começaram a executar seus desafetos em via pública sob a letargia das autoridades, enquanto fazem a divisão dos bairros de Boa Vista de acordo com suas conveniências criminosas, impondo suas próprias leis. Não tardará para que os bandidos estrangeiros comecem a mandar nos bairros, a exemplo do que está se desenhado no São Bento, onde um tiroteio quase vitima duas brasileiras que passavam pelo local e que nada tinham a ver com o que ocorreria.

Enquanto há o discurso da linha imaginária de que a cidade é dividida entre crimes cometidos por brasileiros e crimes cometidos por faccionados venezuelanos, o tráfico de droga se intensifica nos bairros da Capital, que é um problema grave que advém do avanço dos criminosos venezuelanos. A droga leva adolescentes cada vez mais cedo para um submundo que só tem dois destinos: o cemitério ou a prisão. Fora a desagregação familiar, a violência doméstica e crimes sexuais contra crianças e mulheres.

É isso o que as autoridades querem que a população acredite: que essa guerra entre facção venezuelana só diz respeito a venezuelanos, enquanto os faccionados estrangeiros dominam os bairros mais pobres, injetam drogas na vida de adolescentes, cooptam jovens para o crime, contribuem decisivamente para a violência urbana e criam um poder paralelo que não tardará para entrar na política partidária, na polícia e em outras instituições – se isso já não estiver acontecendo!

É isso o que eles não querem que a população compreenda.  

*Colunista

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