Segunda feira, 08 de setembro, início da tarde, o noticiário informa da morte da cantora Angela Ro Ro, no Rio de Janeiro, aos 75 anos.
Desde o início do ano acompanhava pela redes sociais a via crusci da cantora, que sem recursos para bancar o tratamento médico, apelava para o grande público, com vaquinhas on line. A artista havia sido internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Silvestre, no Rio de Janeiro. Ela enfrentava uma infecção pulmonar e passou por diversos procedimentos, incluindo intubação, traqueostomia e sessões de diálise.
Em maio, Ro Ro informou ter recebido o diagnostico de infecção no sangue e “suspeita de câncer”. Na época, ela pediu ajuda de fãs e amigos por doações via pix, visto não conseguir trabalhar em razão da saúde fragilizada. Dias antes de sua morte, seu advogado afirmou que Ro Ro não possuía aposentadoria e não tinha guardado reservas ao longo de sua vida. Ela recebia apenas R$ 800,00 reais, que
O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), responsável por repassar a artista o valor equivalente aos seus direitos autorais, lhe repassava.
Angela estava falida, pedindo dinheiro nas redes para pagar as contas básicas, e não vi nenhum “artista” se solidarizando ou se prestando a ajudá-la. Foi só ser divulgada a notícia de falecimento para aparecer um monte de bacana fazendo homenagens. Como dizia a canção do Nelson Cavaquinho: “Depois que o tempo passar sei que ninguém vai se lembrar que eu fui embora. Por isso é que eu penso assim, se alguém quiser fazer por mim, que faça agora…”
Nascida em 1949, no Rio de Janeiro, Angela Ro Ro foi uma das pioneiras na cena musical brasileira, destacando-se por sua voz rouca e presença de palco inconfundíveis. Sua voz chegou a ser comparada a da cantora norteamericana Janis Joplin, morta em outubro de 1970, aos 27 anos, por overdose.
Seu álbum de estreia, Angela Ro Ro (1979), tornou-se um marco da música brasileira, com sucessos como “Amor, Meu Grande Amor” e “Tola Foi Você” . Ao longo de sua carreira, lançou mais de dez discos e colaborou com artistas renomados como Maria Bethânia, Luiz Melodia, Cazuza e Ney Matogrosso.
Além de sua contribuição artística, Angela Ro Ro também foi reconhecida por sua coragem em se assumir publicamente como lésbica, tornando-se uma referência para a comunidade LGBTQIA+ no Brasil nos anos 80, quando essa exposição não era comum.
Sua trajetória foi marcada por autenticidade, talento e resistência, características que a consolidaram como um ícone da música popular brasileira.
Seu estilo de compor e de cantar, bastante original muitas vezes é associado às cantoras de ‘dor de cotovelo’ (dores do amor) como Dolores Duran e Maysa.
Mas a irreverência de Ro Ro a coloca na galeria das mulheres emancipados das décadas seguintes como Rita Lee, Joana, Simone e Zélia Duncan.
A artista lançou dez discos e escreveu 145 canções em quarenta anos de carreira.
Viveu tudo que poderia, sofrer mais do que merecia, mas entregou muito pra vida. Assim como Cazuza, Tim Maia, Cássia Eller, Angela Ro Ro marcou seu tempo com irreverência, transgressão e talento.
Ângela Ro Ro fez a playlist de amor e vida visceral, como ela.
“Amor, meu grande amor/Não chegue na hora marcada/Assim como as canções
Como as paixões e as palavras/Me veja nos seus olhos/Na minha cara lavada
Me venha sem saber/Se sou fogo ou se sou água/Amor, meu grande amor
Me chegue assim bem de repente/Sem nome ou sobrenome/Sem sentir o que não sente. Amor, meu grande amor, só dure o tempo que mereça/ é quando quiser me dizer/que seja de qualquer maneira/ Enquanto me tiver/ que eu seja a última e a primeira”.
Luiz Thadeu Nunes e Silva
Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.
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