JESSÉ SOUZA

Estão esperando uma grande tragédia para agirem em relação a pontes de madeira

Guia de turismo Cleuci Viana por pouco não teve parte da perna decepada ao cair na ponte do Paiva

Moradores da Vicinal 6 do Município de Rorainópolis, no Sul do Estado, tomaram a decisão radical para protestar: atearam fogo em uma precária ponte de madeira depois que ficaram cansados de tirar dinheiro do próprio bolso para fazer reparos paliativos. Essa realidade pré-histórica de pontes de madeira caindo aos pedaços é um problema generalizado no interior de Roraima.

No Município do Amajari, Norte do Estado, terra de grandes produtores de gado e de peixe, as pontes de madeira são a marca da política regional, as quais não prejudicam somente o agropeixe, mas também o turismo que é praticado na Serra do Tepequém, que é o principal ponto turístico de Roraima, abandonado e esquecido por todos os níveis de governo.

Somente na rodovia principal que corta o Amajari de ponta a ponta, da Vila Três Corações, no entroncamento com a BR-174, até Tepequém, em seus mais de 100Km de extensão são dez pontes de madeira, a maioria sem qualquer manutenção básica, a não ser os paliativos feitos com recursos dos próprios moradores, a maioria vivendo do turismo.

Por isso são obrigados não só a tapar buracos em pontes de madeira podre e no asfalto de péssima qualidade que se esfacela à primeira chuva. Mas também roçar mato na beira da estrada e coletar lixo nos atrativos, já que os políticos ignoram tudo isso porque eles não gostam de turismo, já que essa atividade gera dinheiro direto para as mãos dos empreendedores e da comunidade, onde não dá para fazer esquemas.

Os políticos nem fazem questão de esconder que odeiam o turismo. Basta acessar os perfis deles nas redes sociais para ver que eles e elas não têm uma foto sequer curtindo as cachoeiras, contemplando a natureza ou prestigiando as pousadas. Nem institucionais incentivando o turismo em Tepequém existem nas campanhas publicitárias deles. Muito menos um vídeo gravado para divulgar os atrativos. Se duvidar, pode até haver fotos abraçando e beijando peixe e gado, mas curtindo natureza não.

Se Prefeitura do Amajari e Governo do Estado fizessem o básico, que é manter estradas e pontes (construindo ponte de verdade, de concreto), seria alentador, mesmo a despeito da falta de fiscalização ambiental, regularização fundiária, água e energia confiáveis etc. Mas nem as pontes de madeira, por onde os próprios políticos arriscam suas vidas, recebem a atenção devida. Realidade esta que só piora nas vicinais onde estão pequenos produtores que ficam impossibilitados de escoar suas produções – por isso muitos até desistiram de produzir.

A questão das pontes é tão séria que os acidentes com moradores de Tepequém são recorrentes, principalmente os que andam de moto. A vítima mais recente foi a guia de turismo Cleuci Viana, que caiu na ponte sobre o Igarapé do Paiva, no domingo, sofrendo grave ferimento na perna esquerda e por pouco não perdeu a vida ou teve parte da perna decepada. Por ironia do destino, a vítima é uma das mais contundentes em suas críticas sobre a precariedade das pontes, tornando exemplo de uma tragédia anunciada.

Em Rorainópolis, agora as autoridades serão obrigadas a construir a ponte que foi queimada. No Amajari, estão esperando uma tragédia pior, que é a morte de alguém. Como estamos nos aproximando de um feriado e um grande evento de corrida, neste mês, quando milhares de turistas se deslocarão para Tepequém, será necessário pedir reforço nas orações. Porque os políticos sequer aparecerão para tirar foto e fazer vídeos para suas redes sociais.

*Colunista

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