Nas décadas de 1950 a 1980, os chamados baby boomers — nascidos entre 1946 e 1964 — viveram um cenário econômico praticamente inalcançável para as gerações que vieram depois. O acesso facilitado à casa própria, empregos estáveis com bons salários, ensino superior acessível e crescimento econômico contínuo criaram um ambiente raro, talvez irrepetível.
Hoje, para os millennials (nascidos entre 1981 e 1996) e a geração Z (nascidos a partir de 1997), o cenário é bem diferente — e os dados não deixam dúvidas.
Um passado dourado
Durante a juventude dos boomers:
- O custo médio de uma casa nos EUA era de US$ 17 mil nos anos 1970 (o equivalente a cerca de US$ 120 mil hoje, ajustado pela inflação).
- A mensalidade média de uma universidade pública americana era de cerca de US$ 500 por ano nos anos 1970.
- A renda média anual de uma família era suficiente para sustentar um lar, um carro, filhos e uma aposentadoria, geralmente com apenas uma pessoa trabalhando.
- O mercado de trabalho oferecia empregos com estabilidade, benefícios e planos de aposentadoria generosos.
Com inflação baixa durante muitos anos, forte crescimento econômico e expansão do crédito, os boomers acumularam riqueza e imóveis em um ritmo inédito — e, para os jovens de hoje, quase inatingível.
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A realidade das novas gerações
Millennials e geração Z enfrentam:
- Preços médios de casas ultrapassando US$ 400 mil nos EUA (em muitos mercados urbanos, muito mais).
- Dívidas estudantis que somam mais de US$ 1,7 trilhão só nos EUA.
- Um mercado de trabalho com menos estabilidade, salários estagnados e benefícios cada vez mais escassos.
- Aluguéis que crescem muito acima da inflação, tornando quase impossível poupar para o futuro.
Segundo estudo da Federal Reserve, pessoas com menos de 40 anos detêm apenas 6% da riqueza dos EUA, apesar de representarem mais de 40% da população adulta — uma diferença brutal comparada com os boomers, que tinham cerca de 21% da riqueza nacional quando tinham a mesma idade.
“É o sistema, não você” — diz Kyla Scanlon
A escritora e criadora de conteúdo Kyla Scanlon, de 27 anos, se tornou uma das vozes mais relevantes da nova geração ao discutir finanças com franqueza e empatia nas redes sociais. Fundadora da plataforma Bread, ela é conhecida por frases como: “Não é que você não esteja se esforçando o suficiente. O jogo mudou.”
Com um estilo acessível e direto, Scanlon explica como mudanças estruturais — globalização, automação, políticas monetárias e mudança de prioridades governamentais — tornaram o crescimento de riqueza muito mais difícil para as novas gerações. Em seus vídeos e textos, ela destaca como o sentimento de “fracasso pessoal” muitas vezes é, na verdade, uma falha sistêmica.
Livros para entender o colapso do sonho econômico
Para quem quer se aprofundar, aqui estão algumas leituras fundamentais:
- “Homewreckers” – Aaron Glantz
→ Uma investigação sobre como a crise de 2008 destruiu oportunidades de riqueza imobiliária para muitos jovens. - “Can’t Even: How Millennials Became the Burnout Generation” – Anne Helen Petersen
→ Uma análise da cultura de trabalho exaustiva e como ela afeta o progresso econômico dos millennials. - “The Deficit Myth” – Stephanie Kelton
→ Explica como a política fiscal dos EUA moldou (ou destruiu) o futuro financeiro de gerações inteiras. - “This is Fine” (em produção) – Kyla Scanlon
→ Livro anunciado por Scanlon, com lançamento previsto, que promete ampliar o debate sobre como jovens podem navegar um sistema financeiro em transformação.
O passado não vai voltar
A economia que moldou a ascensão dos boomers foi fruto de um momento histórico específico: crescimento pós-guerra, políticas públicas generosas, e oportunidades estruturadas para acumular riqueza. Essa janela se fechou.
Para as gerações atuais, o desafio é criar novos caminhos, com estratégias mais adaptadas ao mundo de hoje — onde não basta trabalhar duro; é preciso também entender o sistema.
Kyla Scanlon é uma das vozes que ajudam a traduzir esse cenário com lucidez. Sua abordagem mostra que, embora o “momento perfeito” não vá se repetir, é possível construir novos modelos — mais justos, mais conscientes e, quem sabe, sustentáveis.