Brócolis, cenoura, abobrinha… basta um desses nomes aparecer no prato que muitas crianças torcem o nariz. A recusa por legumes e verduras na infância é mais comum do que se imagina — e, na maioria das vezes, não tem nada a ver com “manha” ou “frescura”. A explicação pode estar em um fenômeno natural do desenvolvimento infantil chamado neofobia alimentar.
O que é neofobia alimentar?
A neofobia alimentar é o medo ou recusa de experimentar novos alimentos, principalmente aqueles com aparência, textura ou cheiro desconhecidos — como é o caso de muitos vegetais. Esse comportamento costuma surgir entre os 2 e 6 anos de idade, período em que as crianças estão formando preferências alimentares e desenvolvendo maior autonomia.
“É uma resposta instintiva de autopreservação. No passado evolutivo, evitar o que era novo podia significar evitar o perigo. Hoje, isso se reflete no prato”, explica a nutricionista e pesquisadora da infância Fernanda Alves.
De acordo com um estudo publicado pelo Appetite Journal em 2024, cerca de 60% das crianças pequenas apresentam algum grau de neofobia alimentar. O comportamento, porém, tende a diminuir com o tempo — especialmente quando os pais e cuidadores adotam uma abordagem paciente e sem pressões.
Pressionar não ajuda — pode piorar
Forçar a criança a comer “só uma colherzinha” ou negociar com sobremesas (“se comer tudo, ganha doce”) pode parecer eficaz no curto prazo, mas é contraproducente. Segundo especialistas, esse tipo de atitude cria uma associação negativa com o alimento e aumenta a resistência.
“A criança precisa se sentir segura e no controle. Quando ela é forçada, a refeição vira um campo de batalha, e isso dificulta ainda mais o processo de aceitação”, diz a psicóloga infantil Ana Lívia Duarte.
Estratégias eficazes e respeitosas
A boa notícia é que existem maneiras lúdicas e positivas de introduzir novos alimentos. Aqui estão algumas das estratégias mais recomendadas por nutricionistas:
Exposição repetida (sem cobrança): Estudos mostram que a criança pode precisar ver (e recusar) um alimento de 10 a 15 vezes antes de aceitá-lo. Persistência, sem pressão, é a chave.
Envolvimento no preparo: Deixar a criança ajudar a lavar os legumes, mexer a panela ou montar o prato pode aumentar o interesse e a aceitação. É o chamado “efeito participação”.
Brincar com a comida (sim, pode!): Usar formas divertidas, montar carinhas no prato ou inventar histórias com os alimentos ativa a curiosidade. É o conceito da alimentação sensorial, que vê a brincadeira como parte do aprendizado alimentar.
Dar o exemplo: Se os pais não comem vegetais, dificilmente a criança irá se interessar. Comer junto, à mesa, mostrando prazer com a refeição, é um estímulo poderoso.
Oferecer variedade de formas: Um mesmo alimento pode ser apresentado cru, cozido, assado, em purês, bolinhos ou sopas. Às vezes, é uma questão de textura, e não de sabor.
Não é frescura. É parte do desenvolvimento
Entender que a rejeição não é má vontade, mas uma etapa natural do desenvolvimento infantil, ajuda a aliviar a frustração dos adultos. Com paciência, criatividade e acolhimento, é possível ensinar as crianças a se relacionarem com os alimentos de forma saudável e prazerosa.
E mais importante do que fazer o filho comer cenoura hoje, é ajudá-lo a criar uma relação positiva com a comida para o resto da vida.