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Tráfico sexual, suborno e sequestro: confira as acusações feitas contra P. Diddy

Rapper responde a 12 crimes federais; defesa renuncia a testemunhas e alega "consensualidade" de vítimas.

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Fase de acusações terminou e defesa do rapper disse que não apresentará testemunhas a favor dele (Foto: Reprodução/Internet)
Fase de acusações terminou e defesa do rapper disse que não apresentará testemunhas a favor dele (Foto: Reprodução/Internet)

Após seis semanas de depoimentos intensos e apresentação de provas, promotores federais do Distrito Sul de Nova York encerraram nesta terça-feira (24) a fase de acusação contra o magnata do rapper e empresário Sean Combs, conhecido como P. Diddy ou Puff Daddy. O processo busca condená-lo por tráfico sexual, transporte interestadual para prostituição e racketeering (crime organizado) e outros crimes. O júri agora avaliará se as evidências sustentam as 12 acusações.

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Repercussão na mídia

Fora do tribunal, o cenário foi marcado por um caos e confusão: com celulares proibidos na corte, repórteres e fãs registraram tudo com papel e caneta, enquanto influenciadores do TikTok e YouTuberes lotavam a sala de overflow (espaço adjacente com transmissão ao vivo reservado para excedentes de público) para gravar análises rápidas nos intervalos.

Fãs e adeptos da manosphere (movimento online masculinista) manifestam lealdade ao rapper, e turistas internacionais transformaram o local em ponto de observação de um “julgamento celebridade genuinamente americano”.

Rapper e amigo pessoal de Diddy, Kanye West, compareceu ao julgamento (Foto: Michael R. Sisak)

O julgamento também contou com a aparição de Ye (ex-Kanye West) e aglomerações de equipes de jornalizmo e papparazzi na Pearl Street, em Manhattan, na esperança de capturar a família Combs, incluindo sua mãe, Janice Combs, conhecisa por usar roupas extravagantes.

Dentro do tribunal, os episódios foram igualmente conturbados. Em 16 de junho, o juiz Arun Subramanian dispensou um jurado por inconsistências sobre sua residência (Nova York ou Nova Jersey), concordando com a promotoria de que ele buscava participar de um julgamento de alto perfil.

Na semana seguinte, outro jurado foi interrogado sobre conversas inadequadas com um ex-colega. Em meados de junho, Subramanian repreendeu a acusação e defesa pelo vazamento de provas sigilosas ao TMZ e Daily Mail.

Com o encerramento das alegações da acusação, a defesa informou na segunda-feira que não apresentará testemunhas em favor de Combs, optando por contrapor provas que demonstrem “participação voluntária” das mulheres envolvidas. Confira as acusações:

Acusação por tráfico sexual

A acusação federal contra Sean Combs inclui duas contas de tráfico sexual mediante força, fraude ou coerção, além de transporte interestadual para prostituição. As supostas vítimas Cassie Ventura e “Jane” descreveram rituais idênticos: as chamadas “noites selvagens do rei” ou “freak-offs”, onde consumiam drogas e realizavam atos sexuais com profissionais do sexo masculinos diante de Combs por horas, sob suas ordens e filmagem.

O júri assistiu a trechos dessas sessões com fones de ouvido, material sob sigilo judicial, inacessível ao público. A defesa sustenta que as relações foram “totalmente consensuais”. Ventura, durante quatro dias de depoimento, detalhou agressões físicas, estupro, controle profissional e ameaças de chantagem com os vídeos. Relatou que a agressão de 2016, capturada em vídeo, ocorreu ao tentar fugir de um “freak-off”. Fotografias de seus ferimentos corroboram o testemunho.

Provas materiais apresentadas pela promotoria:

  • Recibos e registros de viagem interestadual;
  • Mensagens de funcionários de Combs zombando da contratação de profissionais do sexo;
  • Relatório de agentes federais que encontraram “milhares de garrafas de óleo de bebê e lubrificante” em buscas às propriedades do réu;
  • Depoimento de profissionais do sexo como Daniel Philip e Sharay “The Punisher” Hayes.

“Agentes federais apreenderam AR-15s desfigurados e mais de 1000 garrafas de óleo para bebê e lubrificantes da casa de Sean “Diddy” Combs”

Jane, em seis dias no banco, afirmou que as maratonas sexuais a deixaram com infecções urinárias e fúngicas frequentes, arruinando sua carreira e gerando dependência financeira. Em novembro de 2023, enviou a Combs a mensagem-chave: “Sinto que estou lendo meu próprio trauma sexual”. Seus registros pessoais ao longo de três anos mostram humilhação e recusa em participar dos eventos.

Crime organizado

Paralelamente, a acusação de racketeering (RICO) alega que Combs usou seu império empresarial para ocultar crimes como trabalho forçado, sequestro e suborno. A promotoria não precisa provar que ele cometeu pessoalmente os atos, mas que beneficiaram seu controle.

Kristina Khorram, ex-chefe de gabinete não-testemunha, surge como peça central:

  • Mensagens dela mostram transporte de drogas entre estados e monitoramento de Ventura;
  • Textos com Jane revelam conhecimento de chantagem com “fitas de sexo”;
  • Gravações telefônicas indicam que Jane se sentia “usada”, mas Khorram ainda agendava suas participações.

Ex-assistentes confirmaram preparar quartos de hotel para os rituais, comprar drogas e limpar resíduos de óleo de bebê. George Kaplan, que renunciou após testemunhar violência contra Ventura, paradoxalmente chamou Combs de “um deus entre os homens”. Notas fiscais comprovam pagamentos por danos a hotéis.

Defesa: Admite “preferências sexuais não convencionais” e “estilo de vida swinger“, mas insiste na consensualidade, citando mensagens das vítimas com declarações de amor e participação logística.

Trabalho forçado

A ex-funcionária “Mia” testemunhou por três dias no julgamento de Diddy, detalhando condições degradantes de trabalho. Sob pseudônimo, relatou que ele a forçava a trabalhar 20 horas por dia, chegando a impedi-la de dormir por dias consecutivos sem pagar horas extras.

Durante os oito anos de emprego, Mia afirmou ter sofrido agressões físicas e sexuais repetidas por parte do réu. Justificou sua permanência à época: “Fui submetida a lavagem cerebral para crer que isso era normal no entretenimento”.

A defesa apresentou dezenas de posts em que Mia elogiava Combs nas redes sociais, questionando sua credibilidade. A testemunha rebateu: “Os altos eram muito altos e os baixos eram muito baixos“, frase que repetiu durante o depoimento.

Acusação de sequestro

Ex-assistente de Diddy, Capricorn Clark, saindo do depoimento em Nova Iorque (Foto: Adam Gray/Getty Images)

A ex-funcionária de Sean Combs, Capricorn Clark, testemunhou no julgamento que foi vítima de dois sequestros ordenados pelo magnata. O primeiro ocorreu em 2004, quando Combs suspeitou que ela roubou joias de alto valor. Associados do réu a trancaram por cinco dias em um prédio abandonado, submetendo-a a múltiplos testes de polígrafo. Seu interrogador ameaçou: se falhasse nos exames, seria “jogada no Rio East”. Os resultados foram inconclusivos.

Ao relatar o caso aos executivos da Bad Boy Records, Clark foi demitida. Anos depois, recebeu um acordo financeiro de Combs após processá-lo por demissão injusta.

Sem alternativas na indústria musical, Clark retornou ao emprego. Em 2011, após Combs descobrir que ela sabia do romance entre Cassie Ventura e Kid Cudi, foi sequestrada novamente. “Estava sob seu controle outra vez”, afirmou ao júri.

Incêndio criminoso

O músico Kid Cudi (Scott Mescudi) subiu ao banco de testemunhas para relatar uma sequência de ataques em 2011, quando namorava Cassie Ventura. Em dezembro daquele ano, sua casa em Los Angeles foi invadida. “Eu sabia que Sean Combs era violento”, declarou ao júri.

Imagens de 2012 fornecidas à imprensa mostram Porsche de Kid Cudi após incidente com coquetel molotov (Foto: Reprodução/Internet)

Um mês depois, em janeiro de 2012, seu Porsche Cayenne foi incendiado com um coquetel molotov enquanto estacionava na residência. Anos mais tarde, Mescudi afirmou que Combs o puxou de lado em um evento e pediu desculpas “por tudo”.

Lance Jimenez (investigador de incêndios de LA) atestou: fogo foi “ataque direcionado” com artefato caseiro. Além disso Christopher Ignacio (policial) vinculou o episódii um Cadillac Escalade no local à gravadora de Combs.

Kid Cudi saindo do depoimento contra Diddy em Nova Iorque (Foto: Reprodução/BBC)

Capricorn Clark também testemunhou que ele a forçou a acompanhá-lo até a casa de Kid Cudi gritando “Vamos matá-lo”. Ela também relatou ameaças de morte caso denunciasse às autoridades.

Suborno

Eddy Garcia, ex-supervisor de segurança do Hotel InterContinental de Los Angeles, testemunhou em 3 de junho que Sean Combs subornou sua equipe com US$ 100 mil (R$ 545 mil) para esconder um vídeo do circuito de vvigilância de 2016 que mostra o Diddy agredindo Cassie Ventura. Segundo Garcia, o dinheiro foi entregue “em um saco de papel”, e ele assinou um acordo de sigilo (NDA) exigindo destruição de provas e silêncio. (NDAs não impedem testemunhos verdadeiros em tribunais.)

A negociação teria envolvido Kristina Khorram, ex-chefe de gabinete de Combs – detalhe que reforça a acusação de racketeering (crime organizado). O júri também viu mensagens entre Ventura e Khorram nas quais Cassie escreveu: “ninguém merece ser arrastada pelos cabelos”, referindo-se à agressão.

Outra testemunha, “Mia”, afirmou que D-Roc (ex-funcionário de segurança de Combs) tentou suborná-la após o processo civil de Ventura. O júri analisou dezenas de mensagens e ligações de Combs, Khorram e D-Roc para Mia na época, incluindo uma com a frase: “Sei que não pediu nada, mas posso enviar um presente para minha irmã”.

Regina Ventura, mãe de Cassie Ventura, indo ao tribunal depor contra Diddy (Foto: Charlie Triballeu)

Regina Ventura, mãe da cantora Cassie Ventura, testemunhou que sua família pagou US$ 20 mil (cerca de R$ 109 mil) a Sean Combs em 2011. O objetivo era impedir que Diddy vazasse vídeos íntimos de Cassie após descobrir que ela namorava Kid Cudi . Segundo Regina, Combs devolveu o dinheiro dias depois.

O depoimento ganhou respaldo de Derek Ferguson, ex-diretor financeiro das empresas de Combs. Ele confirmou ter visto o pagamento dos Ventura ao empresário. Outra testemunha, o estilista Deonte Nash, que trabalhou para Combs e Cassie, reforçou a acusação: afirmou que presenciou Combes ameaçar divulgar os vídeos inclusive para os empregadores dos pais da cantora, “para fazê-los ser demitidos”.

Trecho do vídeo em que Diddy agride Cassie Ventura (Reprodução: Internet)

Nash também relatou ter visto Combs agredir fisicamente Cassie. Até agora, o júri ouviu múltiplas alegações contra o réu, incluindo episódios de violência contra funcionários e parceiras românticas, além de uso descontrolado de drogas.

O que diz a defesa

A defesa reconheceu que Combs teve relacionamentos “tóxicos” e “ciumentos”, mas argumenta que essas condutas, ainda que reprováveis, não configuram crimes federais. “O júri pode discordar do estilo de vida do réu, mas isso não é base para condenação neste processo”, sustentaram os advogados.

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