Os bonecos Labubu, criaturas com aparência élfica e sorriso travesso, transformaram-se em um fenômeno global, impactando significativamente os lucros de sua fabricante chinesa, a Pop Mart, e, para alguns analistas, revitalizando o soft power da China.
A popularidade dos Labubu transcendeu as fronteiras geográficas e culturais, conquistando uma legião de fãs que inclui celebridades como Rihanna, Dua Lipa, Kim Kardashian e Lisa do grupo Blackpink.
O que é Labubu?
Labubu é um personagem fictício e uma marca, parte da série de brinquedos “The Monsters”, criada pelo artista Kasing Lung, de Hong Kong. Caracterizados por seus rostos de vinil acoplados a corpos de pelúcia, orelhas pontudas, olhos grandes e um sorriso com nove dentes, os Labubu geram debate na internet sobre sua estética, sendo considerados tanto fofos quanto bizarros. De acordo com a Pop Mart, Labubu é “bondoso e sempre quer ajudar, mas frequentemente acaba fazendo o oposto por acidente”.
O império da Pop Mart
A Pop Mart, fundada em Pequim por Wang Ning em 2010, iniciou sua trajetória como uma loja de variedades. O sucesso da empresa foi catapultado com o formato das “blind boxes” (caixas-surpresa), onde o conteúdo só é revelado após a compra. A parceria com Kasing Lung em 2019, que garantiu os direitos da marca Labubu, foi crucial para o crescimento exponencial da companhia.
Em dezembro de 2020, a Pop Mart abriu seu capital na bolsa de valores de Hong Kong, com suas ações valorizando mais de 500% no último ano. Atualmente, a empresa opera mais de 2 mil “roboshops” (máquinas automáticas de venda) em diversos países, e os Labubu são comercializados em mais de 30 nações, embora a alta demanda tenha causado suspensões temporárias de vendas em alguns locais. A popularidade internacional da marca contribui para quase 40% da receita da Pop Mart, e Wang Ning, seu CEO, tornou-se um dos homens mais ricos da China, com uma fortuna estimada em mais de R$ 120 bilhões.
A febre Labubu teve início na China no final de 2022, à medida que o país emergia do isolamento pandêmico. O grande salto na popularidade global ocorreu em abril de 2024, quando Lisa do Blackpink começou a compartilhar fotos com os bonecos em seu Instagram. Subsequentemente, outras celebridades, como Rihanna e Kim Kardashian, reforçaram a visibilidade dos Labubu.
Em fevereiro, a empresária Rihanna foi vista com um Labubu em sua bolsa Louis Vuitton, enquanto em abril, Kim Kardashian exibiu sua coleção de dez bonecos. Em maio, David Beckham também publicou uma foto com um Labubu, presente de sua filha.
O fenômeno Labubu é um exemplo de tendência viral, cuja explicação reside em uma combinação de timing, estética e a imprevisibilidade da internet. Para Pequim, o sucesso dos bonecos é visto como uma demonstração do apelo da criatividade e cultura chinesa, permitindo projetar uma imagem de “China descolada” para o mundo.
Controvérsias
Apesar do sucesso, o fenômeno Labubu não está imune a controvérsias. Recentemente, a Administração Nacional de Regulamentação Financeira (ANRF) da China proibiu instituições bancárias de utilizarem os Labubu como item promocional em suas campanhas de marketing. A decisão veio após o Ping An Bank, de Shenzhen, oferecer os bonecos como recompensa para novos clientes que depositassem 50 mil yuans por três meses. A ANRF justificou a proibição alegando que tais práticas elevam os custos operacionais dos bancos, geram desequilíbrio financeiro e concorrência desleal, além de poderem induzir clientes ao endividamento.
Além disso, a popularidade dos Labubu tem sido explorada por criminosos para aplicar golpes. A Kaspersky, empresa de segurança digital, alertou para o surgimento de plataformas falsas que se passam por revendedoras oficiais dos bonecos, oferecendo descontos tentadores ou “edições exclusivas” para roubar dados financeiros confidenciais dos consumidores. Esses sites fraudulentos imitam o visual de lojas confiáveis e estão disponíveis em diversos idiomas, oferecendo produtos a preços muito abaixo do valor de mercado, visando atrair vítimas. A empresa recomenda cautela e verificação da autenticidade dos vendedores para evitar fraudes.