Em entrevista ao programa Agenda da Semana deste domingo (22), o professor Vladimir de Souza, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), explicou as diferenças entre hidrogênio branco (geológico) e hidrogênio verde, além de destacar o potencial do estado na produção desse combustível limpo.
O hidrogênio branco, conforme o professor, é formado naturalmente em profundidades de 15 a 20 mil metros, em áreas geológicas específicas, como as encontradas em Roraima. Diferente do hidrogênio verde – que demanda alto consumo energético para ser produzido a partir da água –, o hidrogênio geológico já existe na natureza e pode emergir até a superfície, onde se manifesta em formações como as lagoas circulares do lavrado roraimense.
“Estamos tratando de um novo tipo de combustível, uma energia limpa”, afirmou Vladimir. Ele citou que Roraima, junto com Tocantins, Ceará e Minas Gerais, está entre os estados com maior potencial para esse recurso, segundo estudos internacionais e da Petrobras. A descoberta de hidrogênio natural no Mali, em 2011, impulsionou pesquisas globais, e hoje empresas como a Petrobras buscam parcerias para explorá-lo no Brasil.
Parceria com a Petrobras
A UFRR foi contatada pela estatal em dezembro de 2023 para integrar um projeto de pesquisa. Desde então, diretores da empresa visitaram a universidade e avaliaram sua infraestrutura. “Eles não esperavam encontrar uma universidade tão bem estruturada”, disse Vladimir, ressaltando que a instituição já possui equipamentos de medição de hidrogênio, doados por uma deputada federal.
Em outubro, pesquisadores da UFRR participaram de um simpósio internacional no Rio de Janeiro, organizado pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES), onde discutiram avanços com especialistas estrangeiros. “É uma coisa tão nova que eles ainda estão começando, e é bom começar junto”, comentou o professor.
Impacto econômico e ambiental
O hidrogênio branco é considerado uma alternativa limpa ao petróleo, pois sua queima produz apenas água. Vladimir destacou que grandes empresas petrolíferas, como Exxon e Shell, também investem no recurso. “Para elas, é mais um ativo”, explicou.
Quanto às lagoas do lavrado – possíveis indicadores do gás –, o professor afirmou que sua drenagem para agricultura não prejudicaria a pesquisa, já que o hidrogênio está no subsolo. A exploração, no entanto, exigirá estudos geológicos detalhados para identificar bolsões do gás.
Futuro energético
Segundo Vladimir, o hidrogênio geológico pode colocar Roraima em posição estratégica no mercado de energias limpas. “O valor econômico dele é muito maior que o do petróleo em algumas áreas”, disse. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) já discute regulamentação específica para o recurso.