Por Sílvio de Carvalho
Em meio a recentes debates sobre o transporte intermunicipal em Roraima, o Sistema OCB/RR (Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras em Roraima) esclarece a essencial contribuição das cooperativas em nosso estado. Com serenidade, mas com a firmeza que a verdade exige, queremos desmistificar equívocos e reafirmar o valor inestimável que esses empreendimentos representam para a nossa gente.
Primeiro, é crucial entender que uma cooperativa não é uma empresa convencional. Não somos guiados pela mesma lógica de lucro das grandes corporações. As cooperativas são formadas por pessoas que se unem de forma voluntária para atender a necessidades econômicas, sociais e produtivas em comum. Aqui, o verdadeiro capital são as pessoas, não o dinheiro.
A essência do cooperativismo está na solidariedade, na autogestão e na divisão justa dos resultados. Nosso objetivo principal é promover a inclusão social e gerar trabalho digno para milhares de famílias. Tratar cooperativas e empresas de ônibus com as mesmas regras é ignorar essa diferença fundamental. É como comparar um atleta amador com um profissional de elite e exigir que ambos sigam as mesmas dietas e treinamentos. Isso simplesmente não faz sentido e, mais importante, não é justo.
As cooperativas de transporte alternativo e complementar não visam o lucro. Elas existem para garantir o sustento de famílias, desde os cooperados até os motoristas auxiliares e prestadores de serviços. Essa é a nossa realidade e o nosso compromisso.
Muitas vezes, ouvimos que as cooperativas surgiram para fazer concorrência desleal. Mas a verdade é bem outra. As cooperativas de transporte nasceram como uma resposta à ausência histórica de transporte regular em diversas regiões do nosso estado, especialmente as mais distantes e aquelas que não eram economicamente atrativas para as grandes empresas.
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Culpar as cooperativas por um suposto “esvaziamento” do transporte por ônibus é, no mínimo, uma distorção da realidade. Isso ignora o fato de que, por muito tempo, fomos a única opção de mobilidade para muitos roraimenses, especialmente no interior do estado. Transferir para nós a responsabilidade por deficiências estruturais de grandes operadoras é, no mínimo, injusto e inaceitável.
Nossas cooperativas desempenham um papel crucial, atendendo a comunidades que dependem unicamente desse serviço para seu deslocamento diário, para acessar serviços essenciais e para manter suas vidas em movimento.
É gratificante ver que a sociedade e o parlamento estadual têm reconhecido o valor das cooperativas. Durante a recente audiência pública, a sensibilidade e o comprometimento do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Soldado Sampaio, e da presidente da Comissão de Transportes, deputada Catarina Guerra, foram evidentes. Eles demonstraram compreensão sobre a nossa causa e se comprometeram a defender soluções justas que não desamparem milhares de trabalhadores e, principalmente, não comprometam o direito de ir e vir da nossa população.
Esse reconhecimento é fundamental, pois valida a dedicação e o esforço de anos de trabalho de milhares de pessoas que se dedicam ao transporte cooperativado em Roraima. Somos parte integrante da solução de mobilidade do estado e merecemos respeito por essa trajetória. É importante ressaltar que a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas. Essa declaração não é um mero formalismo; é um reconhecimento global da importância das cooperativas como um modelo de negócio sustentável, inclusivo e que contribui para o desenvolvimento social e econômico em todo o mundo.
Nossas lutas aqui em Roraima, em defesa do transporte cooperativado, refletem os princípios que a ONU busca promover. São lutas por trabalho digno, por inclusão, por justiça social e pelo direito à mobilidade de todos. O cooperativismo é um caminho para um futuro mais justo e equitativo, e Roraima está inserida nesse movimento global. Merecemos, portanto, não apenas o respeito, mas também o devido reconhecimento por tantos anos de trabalho árduo e dedicação à população.
O Sistema OCB/RR reitera sua total disposição para o diálogo construtivo, para a regulamentação responsável e para a busca contínua pela melhoria dos serviços prestados. Acreditamos que a melhor forma de avançar é através da colaboração e da busca por soluções que beneficiem a todos.
No entanto, repudiamos veementemente qualquer tentativa de desqualificar o movimento cooperativista com argumentos distorcidos ou comparações inapropriadas. O setor de transporte em Roraima precisa de equilíbrio, inclusão, justiça regulatória e, acima de tudo, respeito à pluralidade de modelos que compõem o sistema de mobilidade do estado.
O fortalecimento das cooperativas não enfraquece o transporte; pelo contrário, ele amplia sua capilaridade, diversidade e capacidade de atender a quem mais precisa. E isso, sim, é servir à população roraimense com excelência e responsabilidade.
Continuaremos defendendo o legado e o futuro das cooperativas de transporte em Roraima, em busca de um sistema de mobilidade mais justo e acessível para todos.
*Presidente do Sistema OCB/RR (Sindicato e Organização das Cooperativas de Roraima)