DO LUTO AO VOLUNTARIADO

Faxineira faz limpeza gratuita para mães e idosos sem rede de apoio em casa

A iniciativa ajuda mães no puerpério, mães de crianças atípicas e idosos, que têm dificuldades em manter a limpeza da casa devido às limitações físicas e à rotina diária

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Faxineira
Mariana é acadêmica de picologia e antropologia e realiza faxinas voluntárias para pessoas em rede de apoio - Foto: Nilzete Franco/FolhaBV

Em fevereiro do ano passado, o irmão da universitária Mariana Barros, de 29 anos, faleceu. Vivendo o luto, ela buscou ressignificar todo o amor que ainda sentia pelo ente querido por meio do voluntariado. Atuando como faxineira há mais de dez anos, há um ano ela decidiu realizar faxinas gratuitas para pessoas sem rede de apoio em casa.

A iniciativa ajuda mães no puerpério, mães de crianças atípicas e idosos, que têm dificuldades em manter a limpeza da casa devido às limitações físicas e à rotina diária. Para a acadêmica de Psicologia e Antropologia, a casa limpa também reflete no psicológico de quem nela reside, afetando outras áreas da vida.

“A partir dos relatos das minhas clientes, percebi a importância de uma casa limpa e organizada para a saúde mental das pessoas. Teve uma cliente que desabafou que, quando teve a primeira filha, entrou em desespero, pois houve uma mudança brusca na rotina e a casa estava do avesso. Esse foi o meu estalo, eu pensei que era isso que eu iria fazer”, relatou Mariana.

A jovem relata que, inicialmente, priorizou somente as mães no puerpério, mas que também passou a pensar em mães atípicas e idosos, que muitas vezes não têm rede de apoio para cuidar da própria casa e têm dificuldades em manter a limpeza. Foi então que ela começou a oferecer os serviços de limpeza gratuitos para esse público.

Inicialmente, a divulgação do serviço voluntário era feita por meio do boca a boca. Posteriormente, um grupo de mães no WhatsApp recebeu o card de divulgação, e Mariana afirma que até pessoas do interior do estado demonstraram interesse pelo serviço. Foi nesse momento que ela percebeu a necessidade de um gesto de cuidado na vida das pessoas e que poderia, assim, fazer a diferença na comunidade local.

Com o trabalho voluntário há mais de um ano, Mariana chega a fazer até oito faxinas voluntárias por mês e incentiva a prática em outras pessoas que queiram realizar a ação.

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Cada pessoa atendida passa por uma espécie de triagem, para que a jovem compreenda a necessidade e o perfil de quem pretende receber ajuda. O processo também contribui para a segurança de Mariana. Quem tiver interesse em solicitar o serviço voluntário e gratuito pode entrar em contato pelo número (95) 99172-8757 ou pelo perfil da jovem no Instagram: @mar_i_anabarro.

Preconceito com a profissão de faxineira

Durante entrevista à FolhaBV, Mariana também relatou o preconceito e estigma que sofre por trabalhar como faxineira, mesmo cursando duas graduações. Ela também cita os riscos que corre atuando na área, os quais, segundo ela, muitas vezes não são abordados pela sociedade.

“Embora a gente entre na casa dos outros com o propósito de cuidar, limpar e oferecer dignidade, muitas vezes esses espaços se tornam ambientes de risco para nós. Tornamo-nos vulneráveis a certos tipos de violência, tanto na exploração da mão de obra quanto, inclusive, de violência sexual, que é pouco falada aqui no estado”, afirma Mariana.

Ela destaca a importância de levantar o debate sobre a realidade das faxineiras, pois trata-se de um trabalho digno, mas ainda visto como um fracasso na vida de quem o exerce. “Ainda assim, eu sigo acreditando na beleza do que faço, porque o cuidado tem força. Quando limpo o ambiente para alguém que está vulnerável, também estou oferecendo acolhimento. Meu serviço voluntário nasceu do luto, mas hoje é uma forma de espalhar afeto. Isso, para mim, é o que dá sentido”, afirma a jovem.

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