A enfermeira Lindinalva Lopes Marques, de 50 anos, tomou posse no cargo de coordenadora do Distrito Sanitário Especial Leste (Dsei-Leste) na noite desta quinta-feira (5), em Boa Vista.
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Da cerimônia marcada por dança parixara e discursos, participaram familiares e amigos da nova gestora.
Além disso, havia lideranças de comunidades ligadas a etnias como macuxi, taurepang, wapichana e yanomami.
Entre elas, o presidente da Apirr (Associação dos Povos Indígenas de Roraima), Antônio Carlos, e o vice-coordenador da Apitsm (Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos).
O evento também contou com superintendentes estaduais de órgãos federais, como Evangelista Siqueira (Instituto Nacional de Colonização), dirigentes locais de PT, Psol e Rede, e políticos como o prefeito de Pacaraima, Waldery D’ávila (Progressistas).
A coordenação estava há três meses sem direção, o que atrasava, portanto, a compra de medicamentos e o envio de equipes de saúde para atender, presencialmente, comunidades indígenas de 11 dos 15 municípios de Roraima.
“A gente pretende reorganizar, de forma estrutural e técnica, a saúde do nosso Dsei. Estamos passando agora por momentos difíceis, onde a população de ponta tem se queixado muito das ausências de alguns serviços”, disse a nova coordenadora.
Solenidade fora da sede do Dsei
A cerimônia de posse, no entanto, foi no Centro de Abastecimento Farmacêutico (CAF) do distrito, no bairro São Vicente, a 260 metros de distância da sede do órgão.
Funcionários do distrito, então, transferiram o local do evento para evitar um conflito com os indígenas – ligados ao CIR (Conselho Indígena de Roraima) – que ocupam o Dsei desde o dia 29.
Eles defendem a nomeação da enfermeira Letícia Monteiro, indígena do povo taurepang. Com o impasse, o evento oficial iniciou com duas horas de atraso.
Policiais militares e federais montaram um forte esquema de segurança, com direito a bloqueios em trechos da avenida Ville Roy, em Boa Vista: interdição total na altura da avenida Surumu (perto do CAF) e parcial a partir da rua Uraricoera (próximo à sede do Dsei Leste).
A presidente da ALIDCIRR (Aliança de Integração das Comunidades Indígenas de Roraima), Neydaianne Queiroz, defende Lindinalva por ser oriunda da base das comunidades da Terra Indígena São Marcos, no Norte do Estado.
“Não é por briga de poder de cadeira, é que se faça cumprir [a indicação]. Se ela foi a segunda colocada (na votação do Movimento Indígena), então, que ela seja nomeada, porque o Conselho Indígena já indicou três nomes que não passaram no processo. A gente continua com o mesmo nome desde o princípio. Tenho certeza que ela irá fazer um ótimo trabalho”, declarou.
A liderança do CIR, no entanto, não quis comentar o assunto à Folha BV.
Antes da solenidade, Lindinalva Marques esteve na ocupação do distrito, onde realizou um duro discurso aos indígenas e sugeriu conciliação. “Estão falando em saúde, saúde, saúde, mas estão obstruindo o Dsei?”, provocou.
À Folha BV, Lindinalva Marques lamentou a postura do CIR, mas prometeu trabalhar para pacificar todo o movimento indígena no Estado em prol da saúde indígena do Leste.
“Nós lutamos muito pra ter hoje uma saúde especializada pro nosso povo. Então, isso é um ganho nosso e a gente conta também com eles nessa nova jornada […]. Enquanto coordenadora do Dsei Leste, eu estou disponível todo povo indígena de Roraima. E logo logo, isso vai ser resolvido”, analisou.
Briga em Brasília
Em Brasília, comitivas rivais se dividem na articulação junto ao Ministério da Saúde. Enquanto uma defende a permanência de Lindinalva, a outra briga pela nomeação de Letícia no cargo.
O CIR, que disse não ter sido recebido pelo Ministério da Saúde, enviou um ofício à pasta para reforçar o pedido e ainda não teve resposta.
Quem é Lindinalva Marques
Lindinalva Lopes Marques nasceu em Marabá (PA), no dia 6 de outubro de 1974. Ela é mãe de dois filhos e se declara indígena por ter mãe oriunda do povo xavante – que habita no Mato Grosso.
É formada em Enfermagem pela Fares e em Medicina na Venezuela – ainda em processo de revalidação no Brasil.
Além disso, é servidora da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) há 21 anos (desde 2004 como auxiliar de enfermagem e desde 2013 como enfermeira). Assim, foi cedida para comandar o Dsei Leste.
Foi diretora do Hospital Délio Tupinambá, de Pacaraima (RR). Em 2024, participou da primeira eleição ao se candidatar ao cargo de vereadora de Pacaraima, mas não se elegeu: terminou como terceira suplente do PDT com 61 votos.
Para o distrito, Lindinalva Marques tem o apoio de indígenas macuxi, taurepang, wapichana, patamona, ingaricó, xirixana e yanomami, ligados a cinco associações com posições historicamente antagônicas ao do CIR.
Uma delas é a Sodiurr (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima), que representa 22 mil indígenas. Inclusive, a presidente da entidade, Irisnaide Macuxi, participou da solenidade em apoio à Lindinalva.
Apesar do apoio de parte do movimento indígena, foi a bancada roraimense do Republicanos no Congresso que emplacou a indicação da nova coordenadora.