
Onze meses atrás, o artigo “O caso Rorainópolis e o cenário que vem sendo desenhado há 16 anos de descaso” já chamava a atenção para a criminalidade que havia se apoderado daquele importante município no Sul do Estado, que é vizinho do Estado do Amazonas, que por sua vez tem exportado para aquela cidade roraimense o tráfico e o crime organizado. No próximo mês, serão 17 anos de descaso.
Naquele mês de maio de 2024, Rorainópolis registrava dois crimes brutais: o de uma adolescente de 17 anos, na calada da noite, cujo autor foi um policial militar, e de um empresário em frente ao seu estabelecimento comercial, à luz do dia, em pleno horário comercial, ambos executados a tiros. A realidade não mudou muito de lá para cá, com a população acossada por assaltos, furtos, tráfico de drogas e o crime organizado.
Na segunda-feira passada, dia 14, um novo crime registrado. A vítima foi um homem alvejado com um tiro no peito e que morreu após ser levado para o hospital, caso este noticiado pela imprensa sem apontar as motivações do crime, o qual certamente tem as características de um acerto de conta diante do cenário que se desenha por lá.
As autoridades policiais têm pleno conhecimento do que se passa naquela região. Em dezembro do ano passado, uma operação integrada por forças policiais atuou por mais de um mês investigando o tráfico de drogas naquela cidade, o que resultou na prisão de 23 pessoas e na desarticulação de cinco bocas de fumo na sede e nas vilas Nova Colina e Jundiá. Mas tudo voltou ao que era alguns meses depois.
O que chamou a atenção naquela operação é que um traficante que já era condenado a quase dois anos de prisão usava câmeras de vigilância para monitorar não apenas seu negócio criminoso, como também para observar a movimentação policial, em uma clara inversão de papel, em que o poder público se deixava vigiar em vez de monitorar o crime.
Outro detalhe é que um faccionado foragido de Manaus (AM), que havia sido baleado, estava por lá expandindo o domínio de seu grupo criminoso. Não menos importante foi a interceptação de um carregamento de combustível de avião destinado ao tráfico aéreo de drogas na Vila Jundiá, revelando o nível de organização e atuação do narcotráfico.
É aquela história: quando os malfeitores sentem a ausência do poder público, eles passam a agir de forma deliberada. Foi assim que três criminosos agiram, também em Rorainópolis, em dezembro de 2019, ao invadirem a casa da empresária Joice Camilo, durante a madrugada, e cometeram o latrocínio, fato este que já mostrava a escalada da criminalidade e que foi ignorada pelas autoridades.
O flagrante descaso está no fato de que três anos antes, em julho de 2016, a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) comemorava a implantação do sistema de monitoramento de vídeo na sede da 3ª Companhia Independente de Polícia Militar em Rorainópolis, o que foi responsável por reduzir em 80% os índices de criminalidade naquele município. Mas tudo isso se perdeu e a criminalidade foi se apoderando novamente daquela cidade diante da incompetência das autoridades.
Neste momento, a população vive aterrorizada, com muitos já pensando em deixar a cidade diante da insegurança e da crescente criminalidade, com a prostituição avançando ao lado do tráfico de droga e da expansão do crime organizado em consórcio com bandidos amazonenses. E não há esperança de que esse quadro possa mudar em curto espaço de tempo, pois a esculhambação também se apoderou da política.
É importante destacar a operação da Polícia Federal, em dezembro passado, para desmantelar um esquema de corrupção eleitoral em Rorainópolis que envolvia aliciamento de eleitores e compra de votos, com ramificações em São Luiz do Anauá, município este que neste momento está passando por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa, que já aponta um rombo de R$38 milhões.
Tempos tenebrosos no Sul de Roraima, que foi sequestrado pelo crime organizado do narcotráfico e da política partidária. E a conclusão é só uma: ou as autoridades agem para passar tudo isso a limpo, em uma ampla força-tarefa, ou os criminosos bem organizados e articulados irão se apossar definitivamente de tudo…
*Colunista