Centro de boa vista

O personagem desta reportagem é o major norte-americano Arthur James Williams, piloto da Força Aérea dos Estados Unidos que ajudou a desenvolver a aviação na Guiana Britânica (inglesa, hoje Guiana). E, foi um benfeitor na área da saúde para Roraima, numa época em que Boa Vista só dispunha de um hospital, o Hospital Nossa Senhora de Fátima (hoje não mais existe), o prédio – construído em 1924 -, foi derrubado por ordem do Bispo da Prelazia de Roraima, dom Roque Paloschi, no dia 16 de fevereiro de 2015. Como “lembrança”, ficou de pé apenas o Portão anexo ao prédio.

O major Arthur (“Art”) James chegou à Guiana Britânica em agosto de 1934 pilotando um biplano anfíbio irlandês N-2C Neptune, (regn. NC183M), movido por um motor radial de 9 cilindros Pratt & Whitney R-1340 Wasp de 450 HP (340 Kw), pousando no rio Demerara, na Guiana.
Em Boa Vista o atendimento médico, como já foi aqui mencionado, se dava no Hospital Nossa Senhora de Fátima, administrado pelas Irmãs católicas (Madre Alquilina, entre outras). Mas, o ambulatório não dispunha de muitos medicamentos, o que obrigava a maioria dos doentes a procurar tratamento em Belém, Manaus ou no Rio de Janeiro (que era a capital do Brasil até 1960).

O paciente com qualquer doença grave, teria que procurar meios para o Tratamento Fora do Domicílio – o conhecido TFD -, que perdura até nos dias de hoje. E, nos casos de urgências, o “remédio” era chamar o Major Williams. De imediato, e gratuitamente, ele pegava o seu pequeno avião e vinha socorrer o doente.
O Major Williams vinha a Boa Vista em seu avião anfíbio, pousando nas águas do rio Branco, onde hoje está a Orla Taumanan.

O Major Wiliams recebia o doente e o levava de avião até o hospital de Georgetown, onde estava sediada a Base militar. Lá, os médicos americanos internavam e tratavam o paciente, fornecendo-lhes medicamentos gratuitamente.
A PENICILINA – Aconteceu que o senhor João Maciel (filho da primeira esposa de Adolfo Brasil), estava cortando umas varas dentro d`água, quando o terçado (facão) resvalou e cortou-lhe parte do joelho, decepando-lhe a rótula e acima do joelho.

A Boa Vista antiga não dispunha de meios médicos para ajudar o João Maciel que estava preste a perder a perna, pois ao passar dos dias, já estava apresentando sintoma de tétano e gangrena e, certamente, teria que amputar a perna para não perder a vida.
Foi então passado um chamado, via radiotelegrafia, para o Major Williams, e ele veio em seu pequeno avião apanhar o doente e o levou para a Base Americana. Por sorte, e coincidentemente, chegava ao aeroporto daquela Base, a primeira-dama americana Eleanor Roosevelt, esposa do presidente Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), que ia fazer uma visita de apoio aos americanos que lutavam nos campos de batalha na Europa.
O avião da primeira-dama parou na Guyana para reabastecer e trazer mantimentos. E, pasmem, conduzia frascos com Penicilina, um antibiótico descoberto em 1928 por Alexander Fleming, bacteriologista do St. Mary’s Hospital, de Londres.
Esse medicamento ia ser experimentado pela primeira vez nos soldados feridos na Guerra. Era um segredo militar. Mas, a pedido do Major Williams, a primeira-dama autorizou o uso em João Maciel devido o estado em que ele se encontrava. Foi-lhe aplicada à injeção de penicilina, o que lhe salvou a vida.
Graças à essa injeção, o senhor João Maciel, casado com a senhora Nídia Brasil (neta do coronel Mota), viveu ainda por muitos e muitos anos e não foi necessário amputar sua perna.
De outra feita, o roraimense Oder Brasil, foi salvo pela ajuda do Major Williams. Resulta que, o Oder viajava num pequeno avião para a região do garimpo quando o avião começou a perder altura e acidentou-se no Tepequém.
Quando encontraram os destroços do avião, chamaram o Major Williams. Ele veio, resgatou o Oder Brasil e o levou para tratamento médico num hospital em Miami (EUA), salvando-lhe a vida. Eu poderia citar tantos outros casos em que a ajuda do Major Williams foi vital.
Depois de prestar seus serviços na Guyana, o major Williams foi para a reserva, promovido a Tenente–Coronel e retornou para sua casa em West Palm Beach – Miami (EUA), onde viveu por muitos anos junto à família (a esposa Inez e o casal de filhos).
Um dos irmãos do Oder Brasil, o senhor Riobranco Brasil, atendendo a convite, foi visitar o Major Williams em sua residência em Miami e ficou encantado com a hospitalidade da família. A todo instante o Major fazia perguntas sobre Roraima.
O major Arthur Williams já faleceu, mas não foi esquecido. Em sua homenagem o Governo do Território denominou uma avenida como seu nome, a “Avenida Major Williams”.
A Avenida Major Williams nasce na Avenida Ene Garcez (na Praça das Águas), segue para Leste, atravessando as Avenidas Júlio Bezerra, Villerroy e Getúlio Vargas, findando na Rua Bento Brasil, próximo ao rio Branco, já no Bairro São Pedro. Ao longo do seu trajeto, essa avenida é a divisora do núcleo central de Boa Vista e os Bairros São Francisco e São Pedro.