Os motivos são variados: falta de tempo, desorganização, filas muito grandes e, principalmente, desinteresse político. É assim que o jovem responde o porquê não tirou o título eleitoral para as eleições deste ano. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), houve uma queda no percentual de eleitores de 16 e 17 anos, que são facultativos, em comparação com as outras eleições. Em Roraima, nas eleições de 2014, eram 9.618 eleitores dentro desse perfil. Em 2018, o número reduziu para 9.513, uma diminuição de 2,87%.
Para entender um pouco mais sobre essa mudança no perfil desses adolescentes, a equipe de reportagem visitou duas turmas de uma escola do ensino médio e fez o seguinte questionamento: “quem não tirou o título de eleitor?”. Foram tantos braços levantados que causou surpresa. No entanto, o comportamento desses jovens é notoriamente mais politizado e aberto às discussões que acarretam as problemáticas político-sociais.
Alguns deles enxergam o atual cenário político sem esperança e acreditam que o voto não é o suficiente para consolidar mudanças dentro da sociedade. Essa desmotivação política reflete diretamente na falta de diversidade e mentalidade jovem nos principais setores governamentais, o que afasta ainda mais o adolescente de se envolver politicamente.
Conforme a estudante Catherine Portella, de 17 anos, ela até tinha a intenção de tirar o título, mas não se programou antes do prazo final, além da constatação de saturação dos candidatos. “Não [mudaria a sociedade com o voto] por conta da qualidade dos candidatos. Pode não ser em todos os cargos, os de maiores influência não são bons. Eu acho que o jovem já é um ser político, a gente se vê numa situação que não tem como se esquivar da política, justamente pela conjuntura que está no país atualmente. Mas boa parte da população está desmotivada”, avaliou.
Porém, ainda há os jovens que enxergam o voto como a voz popular para realizar as mudanças necessárias dentro da política e na formação da social dos brasileiros. Luiz Falcão, de 17 anos, é um deles. Enfrentou fila o dia inteiro, mas não deixou de tirar o título de eleitor. “Nosso dever como cidadão é participar da política. Espero que meu voto faça a diferença. O país não tá legal, só que somos seres humanos e somos brasileiros. Como brasileiros, a gente tem que fazer o melhor para o Brasil e, como seres humanos, temos que fazer o melhor para humanidade, tentar fazer um mundo melhor. Isso inclui também ter participação política”, afirmou. (A.P.L)
TRE diz que diminuição não é significativa
A redução do número de jovens eleitores de 16 e 17 anos não ocorreu somente em Roraima. O Estado acompanhou a queda no número no país, que eram 1.638.751 em 2014 e caiu para 1.400.236 em 2018. Para a presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TER-RR), desembargadora Tânia Vasconcelos, a diminuição pode ter diversas justificativas para esse novo comportamento, um deles é o cenário político que desestimula o jovem a votar.
Tânia confirmou que não houve falta de campanhas para o cadastramento de novos eleitores roraimenses e que o TRE realizou visitas em todos os municípios e escolas. “Mas que a gente tenha um dado científico é preciso fazer um estudo da nossa população. Se houve uma diminuição, foi por falta de interesse do próprio cidadão ou o próprio cenário político que não é muito incentivador”, disse.
Mesmo com a redução, a presidente afirmou que os dados não são significativos e é preciso avaliar a população roraimense, saber se houve também diminuição no número de jovens habitantes nessa faixa-etária ou se realmente é uma característica mais grave de falta de participação política.
“A transformação não é um processo mágico da noite para o dia, é preciso que haja um investimento e nesse caso a gente precisa participar dele. É um diagnóstico a ser tratado. Dentro das políticas da Justiça Eleitoral, nós temos o Voto Ético, Meu Primeiro Voto, Eleitor do Futuro… Se esse é um diagnóstico que se confirma, então essas políticas vão ser intensificadas para que isso não se agrave”, continuou.
Sobre o futuro dos eleitores, tanto jovens quanto os mais velhos, Tânia ressaltou que é preciso entender que a população faz parte de um conjunto para transformações sociais. “Não pode transferir só para a Justiça Eleitoral. Nós somos um pequeno exército. Mas que vai funcionar na medida em que o conjunto for perfeito: a Justiça Eleitoral, o candidato, o partido e o eleitor. Então a gente espera que cada um faça a sua parte porque pode ter um resultado mais legítimo, e acabe com essa resignação que a gente vem manifestando diariamente em relação à política”, finalizou. (A.P.L)
Com 101 anos, aposentado afirma que vai vota
Os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostraram que o número de eleitores idosos, que estão acima dos 60 anos, aumentou em relação às eleições passadas. Em 2014, em Roraima, eram 30.008 e neste ano, subiu para 37.589 eleitores. Dentre eles, no Estado, estão inclusos seis idosos com mais de 100 anos devidamente registrados.
O ex-sapateiro Daniel Francisco Almeida, de 101 anos, mantém a lucidez e afirmou com toda a certeza que vai sair de casa para votar nessas eleições. “Eu vou votar porque é um direito que consiste a todos os cidadãos e é uma festa muito bonita. A gente fazer a escolha para as pessoas dirigirem a nossa cidade e fazer o bem, isso é o direito do voto”, disse.
Para o aposentado, que ainda relembra das primeiras eleições que participou, o voto faz a diferença na política, que deve ser administrada por candidatos com ficha-limpa, e que ele quer continuar fazendo parte “dessa lei pacífica”. “O voto é uma das coisas mais preciosas que tem. O voto é uma coisa muito bonita e muito descente”, finalizou. (A.P.L)