Cotidiano

Funcionários da Eletrobras fazem nova paralisação de 24 horas

Manifestação contou com cerca de 100 pessoas que pedem que o processo de venda da empresa seja cancelado e a renúncia do presidente da estatal

Funcionários da Eletrobras fazem nova paralisação de 24 horas Funcionários da Eletrobras fazem nova paralisação de 24 horas Funcionários da Eletrobras fazem nova paralisação de 24 horas Funcionários da Eletrobras fazem nova paralisação de 24 horas

Funcionários da Eletrobras Distribuição Roraima realizaram ontem, 17, uma paralisação geral de 24 horas nos serviços para protestar contra a privatização da empresa e de outras cinco distribuidoras de energia no Norte e Nordeste do país. O movimento aconteceu na frente da sede da concessionária, na Avenida Capitão Ene Garcez, e contou com a participação de 100 pessoas.

Esta é a segunda paralisação que os funcionários realizam para pedir apoio político contra a venda da distribuidora por afirmarem que a desestatização vai ocasionar uma demissão em massa do quadro de funcionários, além do aumento na tarifa da conta de energia. Os servidores presentes também lembram que o Estado de Roraima é o único que não é interligado ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e que a privatização vai prejudicar comunidades indígenas e ribeirinhas do interior.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Urbanitários de Roraima (STIU-RR), Gissélio Cunha, existe um embate político que motiva a privatização. “Hoje nós temos uma energia dependente da Venezuela, 80% da demanda é suprida de lá e 20% de termelétricas. Nós temos uma energia que não é uma das mais baratas do país, e a situação tende a complicar se for privatizado. Porque a solução para Roraima é interligar com o Sistema Nacional. Uma dependência que se arrasta há mais de duas décadas porque faltou vontade política de interligar”, afirmou.

O presidente do STIU esclareceu que, independente da vontade dos servidores, o processo de privatização em Roraima já tem acontecido há muito tempo quando o Governo Federal determinou o fim da concessão da Companhia Energética de Roraima (CERR) em 2016 e repassou os direitos de fornecimento de energia dos 14 municípios do Estado para a Eletrobras. Para Gissélio, o setor privado não vai fornecer energia para esses locais por ser tratarem de áreas extensas e distantes.

“Foi tirada a concessão sem nenhum planejamento, nem com os empregados, nem com a qualidade dos serviços e o passo seguinte do governo é privatizar a empresa. Significa elevar o custo da tarifa. Comprometer o fornecimento de energia elétrica. A termelétrica é cinco vezes mais cara que se fosse energia gerada por hidrelétrica, então se privatizar será uma dependência 100% das termelétricas”, completou o presidente do sindicato.

De acordo com o sindicalista, essa é mais uma ação feita pelos servidores para tentar impedir que o Projeto de Lei seja aprovado. Desde que entrou em votação na Câmara dos Deputados, lideranças sindicais estão enviando representantes para tentar conversar com a bancada de cada estado para reverter a situação. Agora, no Senado Federal, eles continuam tentando a mesma estratégia.

Caso o Governo Federal derrube a liminar que suspendeu o leilão das empresas na semana passada, novas paralisações serão realizadas e, se o Projeto for aprovado, os funcionários planejam uma greve por tempo indeterminado.

ENTENDA – O Governo Federal anunciou no ano passado que as distribuidoras de energia seriam leiloadas com a justificativa das altas dívidas acumuladas durante os anos e que a iniciativa privada melhoraria a prestação de serviços para a população. Desde então, o governo tenta encontrar meios de viabilizar a venda das concessionárias de Roraima, Amazonas, Rondônia, Acre, Piauí e Alagoas por meio de um leilão que aconteceria no dia 26 deste mês, em que cada empresa foi ofertada com o valor de R$ 50 mil.

Para que haja a privatização, o governo criou um Projeto de Lei que já foi aprovado na Câmara dos Deputados e espera votação no Senado Federal. O leilão da venda foi suspenso pela Justiça Federal do Rio de Janeiro na semana passada por não apresentar autorização legislativa para as vendas.

A votação do Projeto de Lei nº 77/18 deve acontecer em agosto, após o recesso legislativo do Senado.

Servidores temem perder o emprego caso privatização seja concluída

Muitos funcionários da Eletrobras Distribuição Roraima que aderiram à paralisação de 24 horas nessa terça-feira, 17, relataram o receio de perderem o emprego caso o projeto de privatização seja aprovado e a empresa leiloada. Uma grande parte do quadro de funcionários é composto por servidores que estão há mais de uma década trabalhando na empresa. Cada vez que o projeto avança no Congresso Nacional, o sentimento de medo aumenta.

Marcelo Alvino é do setor de distribuição de energia e está na empresa há 14 anos. Ele afirma que muitas famílias seriam afetadas caso a privatização ocorra justamente porque a empresa privada não iria permanecer com o mesmo quadro de funcionários da estatal. “A empresa privada visa principalmente o lucro, essas pessoas [que estão no cargo há muito tempo] já possuem um nível salarial alto, então para iniciativa privada, não faz sentido manter essas pessoas. Não é só medo da perda do emprego, mas também o aumento tarifário que vai vir com tudo”, afirmou Marcelo.

O funcionário ainda apontou sobre o possível aumento na tarifa de energia que pode ocorrer com a venda da Eletrobras. “A Aneel [Agencia Nacional de Energia Elétrica] já deixou claro que o impacto direto vai ser de 14 a 16% e o Estado de Roraima tem uma particularidade, que continua isolado. Então, privatizar não vai dar diretamente um ganho na melhoria de serviço porque a gente vai continuar recebendo energia da Venezuela, não vejo sentido em uma distribuidora do Estado de Roraima ser privatizada”, finalizou. 

Para o servidor Lenixon Rezende, que trabalha na Eletrobras há 10 anos, o processo de privatização está sendo feito sem qualquer planejamento em relação aos serviços e funcionários. “É uma coisa intranquila, é não ter a certeza que esse novo serviço vai ser melhor que o que está sendo ofertado. A gestão está sendo mal feita. Nós, funcionários, só obedecemos, quem determina os investimentos é a política. O governo atual é responsável pela situação da empresa. Quando a gente acha que tem alguma decisão ao nosso favor, não acontece”, confessou.

Segundo o servidor Ricardo Loreto, que trabalha no sistema operacional e está no cargo há 19 anos, a paralisação e ações feitas para barrar a privatização são feitas pensando também na população. “A energia elétrica é algo base na sociedade, então é ruim demais se privatizar o setor elétrico. A base está empenhada na luta, mas o interessante é chamar atenção da sociedade, porque se privatizar, a conta de luz vai ficar ainda mais cara. Dificilmente uma empresa privada vai levar energia elétrica para o interior mais distante que tem. A sociedade pensa que se privatizar, vai melhorar, mas não vai”, apontou. (A.P.L)

Compartilhe via WhatsApp.
Compartilhe via Facebook.
Compartilhe via Threads.
Compartilhe via Telegram.
Compartilhe via Linkedin.