JESSÉ SOUZA

Por falta de passagens, delegação de Judô roraimense não irá para a seletiva regional

Kerlon Pessoa iria defender o bicampeonato no Piauí, mas ficou de fora da competição junto com o grupo de 20 atletas (Foto: Reprodução)

Cenas de atletas com cartazes pedindo ajuda nos semáforos da cidade ou promovendo bingos e feijoadas nas redes sociais sempre foram recorrentes devido à falta de apoio ao esporte por parte do poder público. Os discursos dos políticos nunca condizem com a prática. E foi assim que um grupo de 20 judocas sofreu um duro golpe, no início da semana, quando o governo estadual informou que não seria mais possível conceder passagens aéreas.

A delegação de Judô do Estado de Roraima está inscrita para uma competição que será realizada no próximo fim de semana em Teresina (PI), evento este que contará com a presença de judocas da Região 1 (Amazonas, Pará, Amapá, Piauí, Maranhão e Roraima), o qual serve como seletiva para as principais competições da Confederação Brasileira de Judô (CBJ). Sem passagens aéreas, os roraimenses ficarão de fora, um prejuízo incalculável para o grupo e o futuro desses jovens.

O problema maior é que, com antecedência, houve o pedido por parte da delegação de Judô, que recebeu a promessa de que os atletas teriam as passagens aéreas doadas pela Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes), mas durante três meses não houve mais resposta e, na segunda-feira passada, dia 1º de abril, faltando menos de uma semana para a competição, foi repassada a informação de que não haveria mais a doação das passagens.

Já que havia o comprometimento por parte do governo de garantir as passagens aéreas, as famílias dos atletas promoveram rifas a fim de conseguir dinheiro para pagar estadia, alimentação e locomoção durante a competição. Agora, diante dessa  notícia, ficou impossível para os atletas comprarem passagens aéreas em cima da hora, não só pela questão de voos disponíveis, mas principalmente pelo alto preço das passagens, já que a maioria dos atletas é de baixa renda.

A justificativa que a delegação roraimense recebeu para que não fossem mais doadas as passagens é que o recurso público destinado ao programa de inclusão de atletas seria usado para trazer palestrantes de outros estados, representando um baque muito grande no sonho desses jovens atletas, como também um prejuízo para a preparação de futuros atletas, além da inclusão social, que sempre está nos discursos dos políticos, mas nunca na prática.

“Peço desculpas pela incapacidade de, pela primeira vez, não dar oportunidade a vocês de participarem de um evento nacional, o Campeonato Brasileiro de Judô – Região 1, representando com galhardia o nosso Estado tão sofrido por não ter representatividade no esporte. Corri muito através do conhecimento, inclusive com pessoas que não mediram esforços para ajudar o Judô Federado e oficial de Roraima”, escreveu o Sansei Paulo, na mensagem enviada aos atletas e seus familiares.

E ele complementou: “Infelizmente, não fomos ouvidos nem tão pouco atendidos por aqueles que detém a condição de nos apoiar e ajudar. Esse Sensei, bem como todos vocês, não mereciam estar passando por isso. Não fomos levados em consideração, nos tratam como nada, e esse tratamento vem de pessoas que se acham esportistas, defensores…”

Esse fato representa fielmente a realidade de quem batalha pelo esporte roraimense em geral, não só o Judô, mas de outras modalidades que precisam de apoio e de projetos voltados para futuros talentos. Há um desprezo total por parte dos políticos para investir no esporte como política pública, que pode contribuir não só para Roraima ter atletas de elite, mas principalmente para ajudar na desigualdade social e promover inclusão social nas camadas mais pobres da população.

E, agora, quem vai pagar pelo prejuízo desses jovens que, por ficarem de fora dessa seletiva pela primeira vez na história, também não poderão participar das principais competições nacionais?

*Colunista

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