Cotidiano

Homens heterossexuais são a maioria com AIDS em Roraima

De janeiro de 2015 a junho de 2018, foram registrados 1.306 casos de AIDS no Estado; desses, 982 foram em homens

A preocupação de que o fluxo migratório poderia influenciar massivamente nos índices de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) em Roraima não se concretizou, de acordo com os dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau). Até junho deste ano foram contabilizadas 199 pessoas com AIDS em Roraima, na sua maioria, homens brasileiros.

Segundo os índices do Núcleo de Controle de DST/AIDS de Roraima, a média permanece mais ou menos a mesma desde 2015. De janeiro de 2015 a junho de 2018, foram registrados 1.306 casos de AIDS no Estado.

Em 2015, foram 304 registros. Em 2016, o índice realmente subiu 34,5% e passou para 409. Em 2017, houve uma redução de 3,6% com o registro caindo para 394 e em 2018, até junho, foram 199.

PERFIL DOS PACIENTES – Dos 1.306 casos contabilizados em Roraima de janeiro de 2015 a junho deste ano, 982 foram em homens e 334 em mulheres. A faixa etária onde há a maior concentração da doença é entre jovens de 20 a 29 anos, com 477 infectados.

A categoria de exposição é mais expressiva em heterossexuais com 660 casos, seguido de homossexuais com 313 registros. Reforça-se ainda que a transmissão das doenças sexuais não pode mais ser considerada como para um determinado ‘grupo de risco’, mas por uma ‘situação de risco’, ou seja, quando acontece uma relação sexual desprotegida, seja ela oral, anal ou vaginal.

No caso da nacionalidade dos pacientes, dos 1.306, foram 1.246 brasileiros contabilizados, seguidos de 54 venezuelanos, cinco guianenses e um cubano. A Sesau ressaltou ainda que realizou ações de prevenção e levantamento da doença em dois abrigos do Estado, onde foram encontrados índices baixíssimos de HIV e sífilis. A atividade será promovida até o final de julho.

Com relação às DSTs, as doenças mais recorrentes no Estado são a AIDS, sífilis, gonorreia e gardnerella (vaginose bacteriana), entre outras. A maioria dos casos está em Boa Vista, por conta do índice populacional, seguido de Rorainópolis e Pacaraima. 

ANÁLISE DOS ÍNDICES – Para a técnica do Núcleo de Controle de DST/AIDS, Sumaia Dias, ainda não dá para prever se os números serão maiores ou menores em 2018, com relação às doenças sexualmente transmissíveis. Ela acredita que o motivo da média permanecer quase a mesma ao longo dos anos se dá pelo trabalho de prevenção executado pelos órgãos de saúde, com campanhas de testagem e orientação.

“A sífilis trata na atenção básica, mas o HIV é no Serviço de Assistência Especializada (SAE). No local, a pessoa inicia o seu processo de tratamento e realiza exames de rotina para entender as condições de saúde do usuário”, afirmou.

Segundo Sumaia, o paciente com HIV começa o tratamento imediatamente e, ao usar o medicamento, se reduz e muito a questão da transmissão. “A carga viral de uma pessoa com HIV e que toma o seu medicamento de forma correta vai zerar. A probabilidade de infectar outra pessoa é mínima. Por isso é importante ter esse acompanhamento bem minucioso para garantir a adesão ao tratamento, monitoramento e recebimento dos medicamentos”, disse.

Prevenção combinada é essencial para sucesso do tratamento

Uma das formas de melhor trabalhar o tratamento dos pacientes, explica Sumaia, é a utilização da prevenção combinada, ou seja, utilizar de formas diversas de abordagem com a população.

Em Roraima, são utilizados os métodos orientados pelo Ministério da Saúde, como o diagnóstico e a testagem regular para o HIV e outras DSTs; o tratamento das pessoas vivendo com HIV/AIDS; a imunização da HBV e HPV; orientação da importância do uso do preservativo masculino, feminino e gel lubrificante, além das ações focadas na Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e Profilaxia Pós-Exposição (PEP).

A PrEP consiste em um novo método de prevenção à infecção na forma do consumo diário de um comprimido que impede que o vírus causador da AIDS infecte o organismo antes de a pessoa ter o contato com o vírus. Já a PEP consiste no uso de medicação em até 72 horas após qualquer situação em que exista risco de contato com o HIV, tais como, violência sexual, relação sexual desprotegida ou acidente com instrumentos cortantes ou contato direto com material biológico.

“São estratégias que conjugam intervenções biomédicas, comportamentais e estruturais. Não só depende do médico, do profissional de saúde, mas de todos. Das unidades de saúde, do estudo de comportamento do usuário. Não adianta eu fazer um aconselhamento se eu não provocar uma reflexão na cabeça do usuário, de que é importante ele se prevenir e qual a melhor forma de fazer isso”, afirmou Sumaia.

COMPREENSÃO DO PACIENTE – A técnica afirma ainda que o Estado se encarrega de capacitar os profissionais de atendimento para não terem qualquer tipo de rejeição para o estilo de vida sexual da população. O princípio é que o atendimento não aparente preconceito ou desconforto, para que o paciente se sinta a vontade para informar como funcionam as suas relações e as melhores formas de se prevenir. “É preciso entender as formas como as pessoas se relacionam, se tem um parceiro do mesmo gênero ou de diferente sexo, se tem múltiplos parceiros e a forma como acontecem as práticas sexuais”, comentou Sumaia.

No caso dos casais que utilizam brinquedos sexuais entre si ou em grupos, o alerta é que os estimulantes também tenham proteção. “No caso de vibrador, tem que ter preservativo. Se for em grupo, tem que ser um preservativo por pessoa ou então usar um vibrador para cada parceiro. Se compartilhar sem a camisinha existe o risco de contrair hepatite ou sífilis”, alertou. “As orientações têm que se adequar a cada indivíduo. A gente não usa um método para todos os indivíduos para nós, temos sempre que se atentar para a demanda que eles trazem para nós”, completou a técnica.

No caso dos métodos contraceptivos, a informação é que os técnicos de saúde também orientem aos usuários que façam a melhor escolha para si. Segundo Sumaia, os profissionais acabam escutando relatos, por exemplo, de mulheres que não conseguem negociar o uso do preservativo com o seu parceiro. Principalmente, quando o companheiro tem histórico de alcoolismo, agressão ou acredita que o uso da camisinha seja uma forma de traição ou desconfiança da parceira.

“Se ela chegar e dizer que quer somente fazer a testagem ou se prevenir de apenas uma doença, eu não posso questionar. Esse não é o meu papel. A minha função é provocar a reflexão nela para que ela converse com o seu parceiro e quem sabe aumentar a sua forma de prevenção ou tomar alguma outra decisão para sua vida”, concluiu. (P.C.)