Cotidiano

RR é passagem para imigrantes que querem chegar à Argentina

A maioria prefere países economicamente estáveis e onde não tenha dificuldade com a língua

RR é passagem para imigrantes que querem chegar à Argentina RR é passagem para imigrantes que querem chegar à Argentina RR é passagem para imigrantes que querem chegar à Argentina RR é passagem para imigrantes que querem chegar à Argentina

No período de 2017 a 2018, o número de venezuelanos que entrou no Brasil pela fronteira com Pacaraima chega a 111.581. A informação é da Organização Internacional para as Migrações no Brasil (OIM), com base em dados da Polícia Federal.

Desse total, pouco mais que a metade (60.601) saiu do Brasil, sendo 42.463 por via terrestre e 18.103 por via aérea. Outros 50.980 permanecem em estados brasileiros, predominantemente em Roraima e Amazonas.

Dos imigrantes que saem por via terrestre 67% partem da Rodoviária de Pacaraima com destino à Manaus e 14% com destino à Foz do Iguaçu (PR). De lá tentam chegar à Argentina através da Ponte Tancredo Neves, na fronteira.

Em relação às saídas aéreas o monitoramento indica que após saírem de Roraima, 60% têm como destino principal o aeroporto Governador André Franco Montoro, na cidade de Guarulhos (SP), em seguida o aeroporto Eduardo Gomes em Manaus com 15%, e 11% desembarcam no aeroporto Presidente Juscelino Kubitschek, em Brasília.

Dos 48% que querem ficar no Brasil, 59% optam pelo Amazonas, 22% preferem Roraima, 6% São Paulo, 5% Rondônia e 4% preferem Brasília ou Rio Grande do Sul.

Perguntados sobre a fixação de residência em outros países, 52% dos imigrantes tem vontade morar na Argentina, 16% preferem o Chile, 10% o Uruguai, 8% a Venezuela e 8% o Peru.

Venezuelanos buscam trabalho e melhores condições de vida

A estatística é reforçada por relatos de imigrantes que todos os dias partem de Boa Vista em voos comerciais. É o caso do venezuelano Rafael Toro, que está de viajem para Manaus e vai para a Argentina com a esposa e um filho.

“Estamos indo em busca de condições dignas de sobrevivência. Infelizmente, a Venezuela não tem nada a nos oferecer. A única saída foi abandonar o país e nos juntarmos ao grupo de amigos que fixou residência na Argentina e está se adaptando muito bem. Enquanto tivermos esse governo socialista a tendência é piorar. O país está um caos, muita pobreza e fome”, disse.

Do mesmo modo, Amilcar Guzman, 39, está deixando Roraima rumo à Brasília. De lá, pretende ir para Foz do Iguaçu, tendo como destino final a Argentina, onde quer se fixar levando a família.

“Graças ao apoio de amigos, consegui um emprego e espero que as condições sejam melhores do que as que passamos. É muito difícil a adaptação, mas pelo bem de meus familiares estou deixando a Venezuela, para novo recomeço”, comentou.

Sociólogo diz que retirantes preferem países mais ricos 

Ao comentar a pesquisa referente à saída de imigrantes de Roraima com destino a outros países, o sociólogo Paulo Racoski, destacou que a preferência se dá por dois motivos: a língua e as condições econômicas de países como Uruguai, Bolívia e Paraguai superiores às do Brasil nos últimos quatro anos.

“Estes locais estão atraindo pessoas do mundo inteiro. Um dos maiores capitais financeiros do Paraguai é formado por chineses que se estabeleceram e estão com suas empresas em pleno funcionamento. A Argentina é um caso particular, pois nos últimos meses enfrenta crise e recessão, afastando os imigrantes. Por outro lado, há o atrativo de algumas funções serem renumeradas em dólar”, avaliou.

Ao analisar o perfil dos imigrantes, Racoski observou que permanecem em Boa Vista as pessoas de classe média baixa. Uma parte dos jovens qualificada em várias profissões a outra por venezuelanos de boa escolaridade, mas sem nenhuma qualificação.

“Isso tem obrigado a maioria dos profissionais qualificados a trabalhar em serviços gerais ou atividades da construção civil. O grande atrativo para quem possui curso técnico ou universitário, é que nos países hispanofalantes não precisam revalidar diplomas a exemplo dos advogados, médicos e engenheiros. Profissões muito requisitadas nestes países”, observou.

Em relação ao processo de interiorização que desperta interesse por São Paulo, o sociólogo observou que a ilusão de fácil empregabilidade não é verdadeira. Lembra que no Brasil o índice de desempregados supera a casa dos 10%.

“Em torno de 15 milhões de brasileiros estão sem emprego e este número é crescente a cada bimestre. São Paulo deixou de ser polo atrativo de ocupação e passa por dificuldade em relação a abertura de frentes de trabalho. O país como um todo vive este momento delicado na economia, onde as vagas de emprego estão cada vez mais limitadas e disputadas”, comentou.

 MUDANÇA 

Na avaliação do sociólogo, caso ocorresse uma mudança no governo, com a saída do presidente Nicolás Maduro, seriam necessários de 15 a 20 anos para se reestabelecer as condições econômicas naquele país.

“Mas, parece não haver interesse interno, pois os venezuelanos estão divididos na questão política. Por outro lado, independente a qual classe pertença, a população não aceita intervenção militar. A diplomacia e o diálogo ainda é o caminho mais acertado para resolver estes conflitos”, avaliou Racoski. (RG)

83% recebem menos de um salário mínimo 

A pesquisa de monitoramento do fluxo coletou dados sobre a situação laboral dos venezuelanos em Roraima. Conforme a pesquisa, 57% estão desempregados, 42% empregados e 1% possui outro tipo de renda.

Deste total 82% das pessoas estão em trabalhos informais e 83% dos entrevistados recebem menos de R$ 954,00, valor do salário mínimo brasileiro. Quanto ao tipo de ocupação 33% estão no setor de serviços, 31% no comércio, seguido de 13% na construção civil.

Questionados sobre o motivo de terem deixado seu país e imigrado para o Brasil 67% declararam que foi devido a situação econômica e laboral, 22% por falta de acesso a alimentos e dificuldade quanto aos serviços de saúde. (R.G) 

76% dos entrevistados enviam recursos para familiares na Venezuela 

Outra informação identificada na pesquisa é que os imigrantes enviam recursos aos parentes que ficaram na Venezuela. Dos entrevistados 85% disseram enviar dinheiro, 14% mandam alimentos e 1% medicamentos.

Quanto a forma de envio, 76% dizem que a operação ocorre informalmente, 16% encaminham em espécie, por intermédio de conhecidos, 4% por mecanismos formais, 2% por taxistas que transportam passageiros para a Venezuela e 2% por outros meios. (RG).

Compartilhe via WhatsApp.
Compartilhe via Facebook.
Compartilhe via Threads.
Compartilhe via Telegram.
Compartilhe via Linkedin.