Nenhum asfalto. Lama. Poeira. Buracos. Essa é a realidade dos moradores do bairro Aeroporto há décadas. Ao dobrar na BR-174, próximo ao shopping do bairro Cauamé, a equipe de reportagem entrou em uma das únicas ruas asfaltadas do local, a Rua Valdemar Bastos de Oliveira. Todas as transversais estão encobertas de lama por conta do período chuvoso e que, no verão, se transformam em poeira.
Os moradores do bairro pedem melhorias aos órgãos fiscalizadores, mas afirmam que são esquecidos pela Prefeitura de Boa Vista. Para alguns, as ações em benefício do bairro Aeroporto não chegam a todos os pontos do local e a criação de um novo bairro seria uma solução.
Isso é o que defende a moradora Mayner Amorim, que reside há 16 anos no local e diz que nunca viu um asfalto contemplado nas ruas. “Não tem asfalto, as pessoas não conseguem passar e sair de casa para trabalhar, levar as crianças para as escolas. É triste a situação da comunidade. Nós já tivemos aqui pelo menos umas três a cinco reuniões com os moradores do bairro e já foram feitas várias reclamações, inclusive para vereadores. Investigação do porquê não acontecem esses projetos aqui. As respostas são as mais variadas possíveis”, afirmou a professora.
De acordo com Mayner, já foram feitos questionamentos à prefeitura sobre melhorias e que duas respostas foram dadas: a primeira, que as ruas já estariam asfaltadas e, a segunda, que o bairro seria contemplado com projetos no ano seguinte. “Todas as ruas lá debaixo são asfaltadas. Elas não vêm para cá, então esses recapeamentos nunca vêm aqui pra cima. Nós temos que, primeiramente, transformar isso aqui em Base Aérea, um bairro único com esse nome. E aí os projetos viriam especificamente para esse lado do bairro”, completou a professora.
A técnica em enfermagem Juliana Garcia já sabe como é a situação há 15 anos. Mesmo morando em uma das únicas ruas asfaltadas do bairro, ela garante que a rua ao lado está se tornando cada vez pior devido a intensidade das chuvas nos últimos meses e que já é possível ver buracos sendo formados. “Tem um bairro que é depois daqui, e é tudo asfaltado para lá. Aqui parece que não é prioridade. No verão é como se o barro todo daqui de fora fosse para dentro de casa, não adianta varrer, passar pano”, lamentou.
Como se não fosse o suficiente, a lama causa prejuízos para os moradores que possuem automóveis por conta da dificuldade em passar pelos grandes buracos e pelo lamaçal das vias. Durante a visita da equipe de reportagem ao local, vários moradores imploraram para que a situação fosse contada e resolvida o mais breve possível.
O advogado Paulo Bandeira foi um deles, que parou o carro e desabafou sobre a situação. “Moro aqui há nove anos, na Rua 12 de Julho, e nós precisamos do básico, uma infraestrutura. A rede de esgoto que é uma das desculpas para que as ruas sejam pavimentadas, o nosso bairro praticamente já tem por completo. Então não há o que se buscar amparos em outros artifícios, como falta de verbas ou outro planejamento, para que não seja atendido também o nosso bairro como outros vêm sendo atendidos”, lamentou.
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Paulo seguiu dizendo que já realizou buscas nos documentos da Secretaria de Obras do Município que tudo o que encontra são informações que o bairro será contemplado, mas que até o momento, nenhuma medida foi realmente feita. “Sempre ficamos a espera que o município, por meio da prefeita, olhe com carinho para nós. Nós moradores do bairro Aeroporto merecemos o mesmo tratamento. Que a prefeitura seja imparcial e que nos dê um pouco de dignidade que nós merecemos, como ela não tem conhecimento, porque não vive o cotidiano de nós moradores, mas se verificarem em uma determinada chuva, o mínimo que seja, não precisa ser uma chuva com grande intensidade, vão perceber que muitos pais deixam de trabalhar e muitas crianças deixam de frequentar as escolas porque a grande maioria não possui transporte ou meio de locomoção para que possam sair de suas casa”, ressaltou.
O morador finalizou dizendo que os pedidos dos moradores não se expandem para praças ou outros tipos de melhorias, apenas a pavimentação, pois as cobranças dos impostos estão sendo realizadas da mesma maneira.
Já para alguns moradores, a situação chegou a total calamidade quando a Rua Mauro Pereira de Melo ficou intrafegável por conta de uma chuva. Para diminuir os danos e conseguir sair de casa, a autônoma Leda Moraton, que reside há 11 anos no bairro, relembra que precisou pagar para serem despejados entulhos com pedras na rua.
“A mesma desculpa. Eles não olham pra cá. Eles vieram colocar o esgoto e ficou uma situação horrível. Minha família fez a casa e ninguém quis morar mais aqui por conta justamente disso. Tento alugar a residência, mas ninguém quer porque percebem que aqui é muito ruim de transitar”, finalizou.
OUTRO LADO – A Secretaria Municipal de Obras informou, por meio de nota, que todas as ruas citadas no bairro Aeroporto foram contempladas em um convênio do Ministério das Cidades. O projeto está em análise na Caixa Econômica Federal e, após aprovação, será licitado. A previsão é de que os serviços sejam executados no segundo semestre deste ano. As obras precisam obedecer todos os prazos legais exigidos para serem executadas.
A Secretaria esclareceu ainda, que em seus cadastros a rua citada não figura como asfaltada, como disse o morador, e a Secretaria de Obras “gostaria que o morador identificasse o setor da prefeitura que deu informação errada e reforça que não compactua com esse tipo de comportamento”. (A.P.L)
