O número de venezuelanos acampados por toda área no entorno da Rodoviária Internacional de Boa Vista, localizada no bairro Treze de Setembro, zona sul, aumenta a cada dia com a chegada de mais imigrantes. A área gramada tornou-se uma imensa “favela” formada por barracas de camping ou improvisadas com lona e papelão. As árvores também servem de abrigo para atar rede.
Na medida em que a ocupação aumenta, avançam os problemas no local. Os donos de restaurantes e lanchonetes reclamam que o faturamento deles caiu em 50% por causa do acampamento montado por venezuelanos que fogem da crise econômica de seu país. Muitos deles abandonaram tudo e vieram tentar uma vida nova em Roraima. Os comerciantes alegam que a situação dos imigrantes espanta a clientela devido aos pedidos, sujeira e mau cheiro. Segundo a comerciante Diomaria Carvalho, os venezuelanos que estão morando de forma improvisada incomodam os clientes pedindo insistentemente esmolas, além de fazerem suas necessidades fisiológicas ao ar livre. “Eles pedem muito e sujam tudo, não limpam. Os clientes têm se afastado cada vez mais. É muito complicado, meu rendimento caiu muito”, comentou.
Outro comerciante, que não quis se identificar, disse que o lucro do seu restaurante diminuiu de forma considerável, ao ponto de ser obrigado a demitir três dos cincos funcionários. Ele lava o espaço do comércio quatro vezes ao dia e, mesmo assim, disse que não dá conta de manter limpo por causa da grande sujeira. “Isso aqui já não tem mais controle. Estou para falir e trabalhando o dobro. Demiti pessoas”, disse indignado.
Segundo o vendedor José Carlos, que sustenta a família há oito anos comercializando salgados na parte externa da rodoviária, as pessoas já não querem mais comer por conta do mau cheiro de urina e fezes. “Mesmo com fome, as pessoas já não comem mais, não tem quem aguente o mau cheiro. A gente pede para usarem o banheiro ou pelo menos fazerem suas necessidades mais afastadas, mas eles não respeitam, fazem é aqui mesmo, é um caso sério”, enfatizou.
GOVERNO – Segundo o presidente da Companhia de Desenvolvimento do Estado de Roraima (Codesaima), Ronaldo Nobre, responsável por administrar a Rodoviária, a determinação da governadora Suely Campos (PP) é para que todos os secretários contribuam de alguma forma com a questão dos imigrantes que vivem em solo roraimense.
Disse que o problema maior é realmente em relação à situação dos alojados na Rodoviária. Frisou que a Codesaima, em ação conjunta com a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Defensoria Pública da União está fazendo um levantamento da situação das pessoas e o contexto do local para desenvolver políticas públicas que solucionem o caso.
Grupo Fraternidade sem Fronteiras vai disponibilizar alojamento para estrangeiros
A entidade sem fins lucrativos Grupo Fraternidade sem Fronteiras, do Moto Grosso do Sul, anunciou que vai lançar, no sábado, 28, às 9h, na Universidade Federal de Roraima (UFRR), a campanha Brasil Coração que Acolhe, que tem o objetivo de construir um abrigo para os venezuelanos alojados na Rodoviária Internacional de Boa Vista e dar suporte social com a manutenção de alimentação, produtos de higiene pessoal, atendimento médico, odontológico e psicológico através da mobilização da sociedade civil organizada.
Segundo o presidente do Grupo Fraternidade sem Fronteiras, Wagner Moura, a entidade já tem a doação do terreno de tamanho 50 x 100 com localidade que será anunciada no lançamento da campanha. A entidade também já recebeu a ajuda voluntária de construtores para realização da obra da estrutura física que vai contar com banheiros, refeitório e dormitório.
“Estamos mobilizando a sociedade de Roraima e de todo Brasil para realizarmos o nosso projeto, que é a construção de um abrigo para alojarmos os venezuelanos que se encontram morando na Rodoviária de Boa Vista. A campanha é para concentrarmos os esforços e conseguirmos os recursos que precisamos. Esse projeto é fantástico e o objetivo é dar todo suporte social àquelas pessoas através de mobilização social”, afirmou. (E.S)