MAIS DO MESMO OU RENOVAÇÃO?

Leo Daubermann*

Em qualquer cidade do mundo as pessoas querem viver bem, o que inclui acesso ao trabalho, moradia digna, saúde acessível e de qualidade, educação, segurança pública, transporte público, mobilidade urbana, ruas asfaltadas, com calçamento e drenagem, água encanada, além de cultura e lazer para todos. Em Boa Vista não é diferente.

Mas, para assegurar esse direito aos cidadãos boa-vistenses é preciso soluções inovadoras para velhos problemas. A qualidade de vida dos munícipes está relacionada à aplicação correta dos recursos arrecadados pelas prefeituras.

Ano de eleição. Como todos já sabem, o brasileiro vai escolher seus representantes no poder público municipal: prefeito, vice-prefeito e vereadores. Estamos com a faca e o queijo nas mãos. Cabe ao eleitor fazer a diferença em 2020.

A atual gestão (que está há oito anos à frente do Palácio 9 de Julho) vai deixar um legado positivo e que deve ser mantido nas próximas gestões, em relação aos projetos sociais e isso não se pode negar. Crescer, Dedo Verde, Rumo Certo, Artcanto, Cabelos de Prata e Conviver são projetos que promovem a inclusão de crianças, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social. Mas fica sempre o questionamento: são atendidas todas as pessoas nessas condições?? É preciso fazer mais, é preciso ampliar essa rede de atendimento.

A primeira infância também teve um tratamento diferenciado. Programas como o Família que Acolhe, Criança Feliz e a Visitação Domiciliar atendem esse público que vai desde o nascimento até os seis anos de vida. A intenção, de acordo com a atual gestão é transformar Boa Vista na “Capital da Primeira Infância”, mas será que todas as crianças, tanto da área urbana, como a rural, estão tendo acesso a esses programas? Novamente fica o questionamento. Estudos revelam que esse período, o da primeira infância, são os anos mais ricos de aprendizado, uma espécie de janela em que experiências, descobertas e afeto são levados para o resto da vida. Então, que a próxima gestão dê continuidade a esse trabalho, impulsionando o desenvolvimento das crianças e gerando impactos positivos no futuro delas e, consequentemente, do país.

No último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) realizado em 2010, a capital de Roraima apareceu como a terceira cidade mais arborizada da região Norte. O levantamento revelou que 47,5% das casas da capital possuem árvores por perto. Boa Vista superou, inclusive, a cidade de Manaus, capital do Amazonas.

Quem mora em Boa Vista sabe disso e quem chega para conhecer a capital mais setentrional do Brasil se depara com ruas e casas tomadas por árvores, plantas e flores, que além de deixar a cidade mais bonita esteticamente, colaboram para o bem-estar da população. Eu, particularmente amo esse colorido todo, aqui em casa cultivamos várias espécies da nossa flora, desde árvores frutíferas, plantas ornamentais, flores de todas as cores e até PANCs, as Plantas Alimentícias Não Convencionais. Mas não é o suficiente.

A próxima gestão não pode cair no erro da atual, que se preocupou mais com a urbanização da cidade, do que com a saúde municipal. Nesse setor ainda há muito que se fazer. Usuários dos centros de saúde distribuídos nos bairros de Boa Vista reclamam da falta de médicos e remédios, além da não realização de exames dentro das unidades. Por diversas vezes percorri postos de saúde aqui da Capital atrás de remédios e a resposta é sempre a mesma: “estão em falta”. Minha mãe está passando uma temporada conosco e ela faz uso de remédios contínuos (pressão, má circulação, coração e depressão), alguns deles, com preços bem amargos. Na cidade onde ela mora, no RS, ela recebe gratuitamente os remédios, menos o da circulação. Lá, todos os usuários do SUS, cadastrados, recebem os remédios necessários, aqui, raramente conseguimos algum, muito raramente.

E somos a única capital do país sem uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h). As UPAs devem funcionar de modo ininterrupto nas vinte e quatro horas do dia e em todos os dias da semana, incluídos feriados e pontos facultativos, contando com uma equipe multiprofissional interdisciplinar compatível com seu porte. São unidades de urgência e emergência para serviços de média e alta complexidade, um meio-termo entre o centro de saúde e hospitais, com mais recursos do que um posto de saúde. Seria a solução para desafogar o atendimento no Hospital Geral de Roraima (HGR).

E com relação à infraestrutura? A Prefeitura diz que o município chegou à marca de mais de 200 km de ruas asfaltadas. Diz ainda que todos os bairros da cidade teriam sido contemplados, principalmente os da zona Oeste, mais afastados do Centro. Essa marca histórica, de acordo com a atual gestão, que representa a distância de Boa Vista a Pacaraima só em asfalto dentro dos bairros da capital, representaria mais de 400 ruas asfaltadas em seis anos. Mas por que temos a sensação de vivermos em duas cidades diferentes, com realidades completamente opostas? É só percorrer esses “bairros mais afastados” para comprovar o que estou dizendo. Enquanto avenidas como a Ville Roy e Capitão Júlio Bezerra são asfaltadas sem necessidade, bairros como o Jardim das Copaíbas e João de Barro não possuem uma rua sequer, pavimentada. A Boa Vista que a gente quer não é aquela só para turista ver.

Precisamos de políticas públicas de desenvolvimento urbano que contemplem toda a capital, sem divisões, sem maquiagem. Mas precisamos também de uma Câmara de Vereadores atuante, que exerça de fato o seu papel que é o de legislar e fiscalizar as ações do Executivo. Você lembra em quem votou no cargo de vereador nas eleições passadas? Você saberia dizer o nome de todos os nossos representantes no legislativo municipal? Se a gente não conhece quem está lá para nos representar, como poderemos cobrar algo? Uma Câmara de Vereadores que atue dentro das suas competências, faz toda a diferença na vida das pessoas.

A consciência do eleitor sobre o valor do seu voto é de extrema importância em uma democracia. Votar nulo não resolve. A escolha deve ser calcada no sentimento de responsabilidade, já que o resultado irá afetar a vida de todos. O caminho que escolhermos percorrer vai nos acompanhar por muito mais de quatro anos. Que tal começar fazendo o exercício de olhar para um futuro não tão distante e nos perguntarmos o que a gente quer? Mais do mesmo ou renovação?

*Jornalista, pós-graduada em Assessoria de Comunicação e Novas Tecnologias e mestranda em Comunicação pela UFRR.

SUICÍDIO E DEPRESSÃO: QUESTÕES INDIVIDUAIS OU COLETIVAS?

Maria Emília Rodrigues*

Na obra “O Suicídio”, publicada em 1897, o sociólogo francês Émile Durkheim traz uma abordagem sociológica para um fenômeno envolto em uma série de preconceitos. A novidade não foi somente em analisar um tema que era (e ainda é) considerado tabu sob um viés isento de juízos de valor, mas também em designá-lo como fato social e, portanto, objeto de estudo da sociologia. Ou seja, apesar de o ato ser individual, o suicídio possuiria relação com fatores externos que não apenas as trajetórias particulares das pessoas que cometeriam tal ato extremo.  

Na sociedade europeia do século XIX os estudos sobre suicídio estavam se deslocando da ideia de que fosse uma questão moral, passando a ser visto como um crescente problema social. O acúmulo de informações estatísticas sobre o assunto permitiu correlacioná-lo a outros dados e formular hipóteses. Valendo-se dos dados estatísticos e do método comparativo, a análise de Durkh
eim estabelece conexões entre a forma com que o suicídio ocorre e sua frequência, ao meio social.

Além das regularidades relativas a variáveis como perfil, faixa etária, região e época do ano, Durkheim também observou que o grau de integração social dos indivíduos seria um fator a incidir consideravelmente nas taxas de suicídio. E a partir disso, elaborou uma classificação dos tipos mais comuns: o suicídio anômico, que seria uma resposta a alguma situação de anomia social (como uma crise econômica, por exemplo); o suicídio egoísta, que se manifestaria em indivíduos não socialmente integrados,  numa espécie de “desencaixe” com o mundo social; e o suicídio altruísta, em que ocorre o contrário, o indivíduo encontra-se tão profundamente identificado e engajado ao seu grupo social que está disposto a dar a vida por isso  – que, adaptando para a contemporaneidade, encontraria seu exemplo nos “homens-bomba”.

Passados mais de cem anos desde a publicação do estudo percebe-se que, apesar dos avanços, ainda há muito desconhecimento e preconceitos em relação ao fenômeno e aos transtornos que geralmente o acompanham, como a depressão. Mais do que isso, a maior parte das discussões sobre suicídio e depressão os concebe como problemas individuais cujo tratamento e solução também seria individual.

Não se trata de afirmar que pessoas que se encontram em sofrimento psicológico e possuem ideações suicidas não devam buscar tratamento especializado para si, longe disso. No entanto, quando a Organização Mundial da Saúde declara a depressão como o mal do século e as taxas de suicídio se elevam consideravelmente em épocas de crise e especialmente agora, em meio à pandemia, podemos concluir, como Durkheim, que o problema é também social. E que, portanto, exige um tipo de abordagem diferenciada e a busca por soluções coletivas.

Além de ser necessário que todos tenham condições mínimas de viver com dignidade, precisamos rever urgentemente nosso modelo societal, baseado em padrões extremamente individualistas e competitivos que são excludentes para boa parte da população. Certas definições sobre o que seria o sucesso, a felicidade, a beleza e o bem-estar, potencializadas pelas redes sociais, colaboram para a geração de sentimentos de inadequação e angústia para quem não consegue alcançá-las.

Tratemos nossas aflições pessoais e nossas – como diria Durkheim – anomias sociais. Pois ambas estão conectadas e precisam de tratamento adequado.

*Mestra em Sociologia, professora da área de Humanidades do curso de Sociologia do Centro Universitário Internacional Uninter.

A EDUCAÇÃO É PRIORIDADE

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Era hora de possuirmos escolas incomuns, para que não abandonássemos nossa educação quando começamos a ser homens e mulheres.” (Henry D. Thoreau)

E não estamos exagerando. Todas as crises que já enfrentamos mostraram o quanto ainda temos que nos educar. Elas passam e nós ficamos parados sem saber que a próxima virá. E se não sabemos é porque não nos educamos suficientemente. Se entrarmos no assunto, agora, vamos ficar tontos. Então vamos pisar no breque. Mesmo porque não estou falando do Brasil, mas do mundo. Porque somos todos iguais pensando que somos diferentes. Ninguém está preparado para encarar novas crises que virão. Imagina como será quando chegar o próximo dilúvio.

Você já fez uma pausazinha para imaginar e analisar que o crime está matando tanto quanto a pandemia? Quanta boboquice está acontecendo por falta de educação? Quantos casais estão se destruindo por falta de preparo? Vamos maneirar. Continuamos pensando e agindo como os nossos antepassados. O problema é que continuamos pisando em explosivos porque não aprendemos a atravessar o campo minado. E o explosivo está na má educação. E ninguém tá nem aí para o problema. Porque este está na educação e isso não interessa aos maus políticos. E como eles continuam sendo a maioria, vamos continuar marionetes. Simples pra dedéu.

Vamos encarar o problema, mas sem arrufos. Mesmo porque arrufos e educação não se combinam. O que temos que fazer é nos educáramos para educar nossos descendentes. As crianças atuais estão nos indicando o caminho que nem todos têm competência para perceber. E o que isso irá produzir no futuro, estamos vendo agora, com os que não perceberam no passado. Porque é assim que a educação caminha. A educação começa no lar. Mas continuamos, como antigamente, esperando que os professores façam por nós, o que nós mesmos deveríamos fazer. Continuamos confundindo educar com ensinar. É como confundir ver com olhar.

Não se apavore com a crise. Ela sempre faz parte do desenvolvimento do ser humano. O problema está em, não aprendermos com as crises. Continuamos navegando em canoas furadas. Agora lembrei-me de uma que já te contei por aqui, e que casa com o caso. Ele atravessava o rio numa canoa e começou a conversar com o canoeiro:

– Você sabe ler?

– Não sinhô.

– Pôs eu sei. Conhece alguma coisa de geografia?

– Não sinhô.

– Pôs eu conheço muito.

Já estavam no meio do rio quando o barqueiro olhou e viu que o barco estava furado e entrava muita água. Olhou para o entendido e perguntou:

– O sinhô sabe nadar?

– Não! Isso eu ainda não aprendi.

– Pôs eu sei!! E a canoa vai afundá!!

Pense nisso.

*Articulista

E-mail: [email protected]

95-99121-1460

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