Cotidiano

Postos estão evitando vender etanol

Nos bairros onde há baixa procura para abastecer, os donos de postos de combustível estão deixando de vender álcool

Frente aos recentes aumentos do preço da gasolina em todo o País, os condutores de veículos têm a opção de encher o tanque de seus veículos com o etanol, o álcool combustível. O preço do litro do produto chega a custar até 70% o preço da gasolina.

No entanto, para a surpresa de consumidores boa-vistenses que preferem o álcool, o produto está em falta na maioria dos postos da Capital, cujo litro é vendido de R$ 2,80 a R$ 2,90. Já a gasolina é encontrada numa faixa de R$ 3,49 a R$ 3,55. A questão é que, com baixa demanda, os donos de postos têm deixado de vender o álcool.

A empresária Lêda Cunha, que mora no bairro Centenário, na zona Oeste de Boa Vista, afirmou que não entende o motivo de os postos, onde costumava abastecer o carro, deixarem de vender o etanol. “Passei em três postos antes de encontrar um que tivesse álcool”, disse, mencionando que, antes, costumava gastar R$ 250,00 por semana em gasolina. “Mudei para etanol porque não queria aumentar o valor gasto por semana. Estava impraticável continuar com a gasolina. Mas agora a dificuldade é encontrar um posto que tenha álcool”.

Ela agora abastece em um posto perto do Centro, onde o preço do litro de álcool é vendido a R$ 2,89. Segundo destacou, vale a pena se deslocar tão longe para abastecer. “O custo-benefício ainda vale o esforço. Já fiz o cálculo e devo economizar uns R$ 400 mensais com o que eu ando diariamente”, frisou.

A Folha esteve em alguns postos, em distintas partes da cidade, e pôde perceber que, dependendo da região, existe maior ou menor demanda do produto. O servidor público Pedro Camacho, que mora no bairro Senador Hélio Campos, na zona Oeste, relatou que já há alguns meses não encontra o etanol perto de onde mora. “O jeito é abastecer no São Francisco [bairro zona Norte]. Os frentistas me dizem sempre que os chefes já não trabalham com álcool porque não sai muito”, disse.

Em um posto no Centro, os frentistas dizem que a empresa trabalha com a venda de álcool, apesar de estar em falta no local onde ela trabalha. “Vendemos tudo ontem. Por aqui sai muito, sim. Acredito que o pessoal abastece com álcool porque alivia o bolso”, frisou.

O gerente de posto de combustível no Asa Branca, na zona Oeste, Wisnaldo Silva, trabalha para uma rede que possui cinco unidades na Capital. Ele afirmou que somente dois postos oferecem álcool. “Fizemos alguns cálculos e chegamos à conclusão de que só neste e no outro posto o produto vende bem. Não faz sentido oferecer em determinado lugar se não existe demanda”.

Ele assegurou que, nos postos de onde o produto foi removido, a equipe não escuta muitas reclamações dos clientes. “Não houve nenhum impacto, para falar a verdade. Se notarmos o contrário, acredito que retomamos a distribuição novamente”, disse.
A Folha tentou ainda conversar sobre o assunto com a diretoria do Sindicato dos Postos de Combustíveis (Sindpostos-RR) em Boa Vista, mas não obteve retorno. (JPP)
 

Só 2% dos postos de combustíveis ainda não têm licença ambiental

Proprietários dos postos de combustíveis em Roraima devem se enquadrar à normativa estabelecida pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) para não correrem o risco de fechar, a partir de 19 de outubro, quando a exigência passa a valer e a fiscalização solicitará, entre outros documentos, uma licença ambiental de operação e laudo de vistoria do Corpo de Bombeiros.

Dados da Secretaria Municipal e Gestão Ambiental confirmam que 98% dos postos de combustível de Boa Vista são licenciados. A regulamentação exige itens como tanques de armazenamento com paredes duplas, piso impermeabilizado e canaletas em volta das bombas para captar água ou combustível. O objetivo é evitar a contaminação do lençol freático ou de rios e nascentes, em casos de vazamento. Essas exigências têm um custo estimado em R$ 250 mil.

A Prefeitura de Boa Vista afirmou que a resolução é de 2014, mas as cobranças começaram a ser feitas a partir do segundo semestre deste ano e que não há possibilidade de qualquer estabelecimento que eventualmente seja causador de poluição de qualquer espécie funcionar sem ter se adequado ao que rege a lei ambiental federal e municipal.

O secretário municipal de Gestão Ambiental, Daniel Peixoto, informou que os 2% dos postos ainda não regularizados estão em processo de renovação, uma vez que o documento vence a cada quatro anos, conforme a legislação. “Se a Agência Nacional do Petróleo chegar aqui e esses postos não tiverem a licença, mas tiverem o protocolo da Secretaria de Gestão Ambiental ou uma certidão de que o pedido está tramitando, ele fica isento da fiscalização”, complementou.

A Diretoria de Prevenção e Serviços Técnicos (DPST) do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima (CBMRR) é que executa as vistorias em postos de combustível com base na Resolução 57 da ANP, somente no que diz respeito ao risco de incêndios e pânico. Em relação à contaminação de solo, a fiscalização cabe aos órgãos ambientais municipais.

Para emissão do Auto de Vistoria, os técnicos da corporação levam em consideração a área construída (para área maior que 750 m² as exigências são diferentes), como, por exemplo, instalação de hidrantes fixos, alarmes e a necessidade de projeto de prevenção a incêndio e pânico. Neste sentido, para que não haja prejuízo para os postos, a orientação é que os proprietários deem entrada na solicitação de vistoria pelo menos 30 dias antes do vencimento.  (J.B)