Cultura

Obra 'Macunaima criando Roraima' é restaurada após 20 anos

A tela é única e foi confeccionada por um artesão chinês no Rio de Janeiro. A moldura, feita em madeira de cedro amargo, foi talhada por um artista parintinense

Um dos ícones mais marcantes do Salão Nobre do Palácio Senador Hélio Campos, a obra “Macunaima criando Roraima”, completa 20 anos em 2015. Com três metros de comprimento por dois de altura, a tela de autoria do artista plástico roraimense Augusto Cardoso passa pela primeira restauração. E para essa missão ninguém melhor que o próprio artista, que aceitou o desafio.

A obra, que utiliza a técnica de óleo sobre tela, ilustra a criação de Roraima pelo próprio Macunaima, utilizando quatro elementos: terra, água, fogo e ar, que são feitos pelas ninfas.

Segundo o artista, o quadro marcou a carreira dele. “Tenho 34 anos de trabalho e essa obra foi o ponto máximo da minha carreira como artista plástico. E ter a oportunidade de restaurá-la, após 20 anos, é uma satisfação. É como ter a oportunidade de voltar no tempo”, disse.

A obra foi encomendada em 1995 pela então primeira-dama Suely Campos e demorou cerca de quatro meses para ficar pronta. Ela retrata a apoteose de Macunaima no céu, dando ordens às ninfas para que elas utilizem os elementos para criar Roraima. Para Cardoso, um dos objetivos era desmistificar o Macunaíma de Mário de Andrade, retratado como um herói sem caráter. “Na minha visão, Macunaima é um deus macuxi. E é um grande orgulho saber que essa obra contribuiu para acabar com esse mito negativo e hoje podemos comprovar, nas salas de aula, o respeito com que ele é tratado”, declarou.

A tela utilizada pelo artista é única e foi confeccionada por um artesão chinês no Rio de Janeiro. A moldura, feita em madeira de cedro amargo, pesa 25 quilos e foi talhada por um artista parintinense a partir de esboços feitos por Augusto Cardoso que lembram folhas de Acanto, muito comuns na região do Mediterrâneo, e que eram usadas como adorno na era medieval. Elas são símbolo do triunfo, a vitória de quem soube vencer os espinhos.

Um detalhe curioso é que o artista não via o quadro há exatos 20 anos. A última vez foi na própria entrega. Cardoso destaca o conjunto harmônico da obra. “O resultado é fantástico e a qualidade dos materiais empregados fica demonstrada após todo esse tempo. Ela continua nova e vibrante. Naquela época, eu queria mostrar todo o potencial da minha técnica, que foi inspirada na arte renascentista, muito comum na Europa, incorporando elementos híbridos da arte regional, nacional e universal”, ressaltou.

Sobre a carreira, o artista disse ter uma missão. “Eu estou na Terra com uma obrigação: eternizar paisagens, mitos e lendas do nosso estado. Acho que estou no caminho certo. Ter um estado desse que é bom de se viver, pesquisar e produzir obras como essa, é indescritível. A arte enobrece e nos faz chegar perto de Deus. Eu me sinto obrigado a fazer um inventário das belezas que Deus criou”, destacou.

BIOGRAFIA – Artista autodidata, Augusto Cardoso iniciou sua carreira artística aos 14 anos. Entre individuais e coletivas, já realizou 64 exposições, tendo 1.600 obras comercializadas em acervos privados e públicos, museus e embaixadas no Brasil, Venezuela, Itália, Argentina, Holanda, Japão, França, Canadá, Áustria e Estados Unidos.

Em 1989, foi nomeado conselheiro estadual de Cultura. Entre 1995 e 1996 foi destaque na revista Amazônia Nossa. Ilustrou o Livro Fatos e Lendas dos Mistérios da Amazônia e é destaque no Livro de Talentos da Listel, com a Obra Macunaíma. Recebeu Diploma de Reconhecimento do Rotary Club Boa Vista-RR; Honra ao Mérito e Notoriedade Cultural do Estado de Roraima; Destaque em 2002 pelo Triptico de São Francisco, com 18 m².

Possui obras em exposição permanente na Di Cardoso Galeria de Arte, em Boa Vista, e Galeria Palácio das Artes, em Manaus (AM). Destacam-se ainda a Via Sacra (15 peças) na Matriz de Nossa Senhora do Carmo e “São Francisco do Lavrado”, que compõem o Acervo do Museu do Vaticano.