Opinião

Opiniao 30 10 2017 5062

Por detrás das máscaras – Tom Zé Albuquerque*

Na filosofia grega, uma máxima exposta no Templo de Delfos provoca cada vez mais turbulências em nossos comportamentos: “Conhece-te a Ti Mesmo!”. Não obstante este termo conduzir o homem ao processo do autoconhecimento, o advento e expansão das redes sociais na internet têm transformado a sociedade num grande grupo teatral.

Conhecer a si deveria ser algo contributivo para melhoria em nossos pensamentos, falas e atos, especialmente naquilo inerente ao que as pessoas pensam ou julgam sobre nós. Mas, as redes sociais têm servido para nós numa bengala superficial na tentativa de se transpor ou mascarar aquilo que realmente somos. O filósofo Rui Souza tem uma frase incrível ao descrever a performance de muitas pessoas no facebook, afirmando ser aquele “um local pra fazer inveja aos outros”. Afinal, por trás de uma tela ou teclado é o ser humano intelectualizado, defensor do meio ambiente, abominador do preconceito, expurgante do racismo, e assim por diante.

No teatro da Grécia antiga, as máscaras eram largamente usadas no intuito de tornar o ator uma pessoa hercúlea e impessoal, cujo disfarce encobria sua personalidade naquele papel ora exercido. No teatro oriental, há tempos, se utiliza desse recurso artístico, para qual cada caráter é representado por respectivas máscaras. E são muitas, justamente para expressar a perecibilidade humana. E, atualmente, ainda nos deparamos com a mesma teatralização.

A psicóloga Márcia Bortolazo tem se debruçado com intensidade no estudo do falseamento social, na utilização diária das máscaras convenientes do dia-a-dia. Ela defende que adaptar-se é algo natural e que o ser humano deve saber Ser e Estar dentro de uma sociedade em constante processo de mutação, não necessariamente ser isso caracterizado como falsidade. O problema é que a sociedade está perdida pela bruteza e deformação das máscaras utilizadas, culminando no adoecimento emocional, no desequilíbrio espiritual e, por consequência, na degradação física.

Até pouco tempo, a necessidade de ser aceito em seu meio era exclusivo para adolescente que, para sua inserção em determinados grupo, classe, ordem ou ambiente se submetiam a diversas situações (inclusive constrangedoras) para ser absorvido. Hoje, contudo, muitos adultos lideram essa carência, e publicam o que for preciso para passar uma imagem de perfeição, estabilidade e encanto.

Relacionar-se criando paisagens do cotidiano e significados emocionais para outras pessoas é uma técnica eficiente, mas não é estável. Aliás, nenhuma felicidade perdura; ser feliz é um estado momentâneo, assim como a tristeza também é. Ambas não são plenas, embora o modismo literário e a frivolidade midiática torturem as pessoas a acreditarem no contrário. Sejamos livres!

*Administrador

500 anos da Reforma Protestante – Oscar D’Ambrosio*

A reforma Protestante completa 500 anos e, com ela vem a Contrarreforma, o Barroco e um período de opulência de deslumbramentos artísticos, pleno de contrastes, dramaticidade, dúvidas e agitações sociais. O que esses cinco séculos podem nos trazer de reflexão sobre a vida contemporânea?

Atualmente, a arte perdeu boa parte de seu vínculo com a sociedade no sentido de mobilizar as pessoas. Ela pode gerar comoção ao tratar de temas como religião, como ocorreu recentemente em Porto Alegre, ou ao tratar de questões morais, como vivenciamos no MAM em performance com artista tratando de questões do corpo, mas a discussão é sobre os temas tratados, não especificamente sobre os trabalhos em questão, o que levaria a uma discussão mais estética. Desse modo, o assunto é mais importante do que a obra, o que é ruim para a arte, pois o debate é muito mais emocional e apaixonado do que técnico ou visual.

Vivemos, portanto, um momento ambíguo. De um lado, as discussões são muito apaixonadas e radicais em todos os aspectos. Configuram-se dois extremos. Há uma visão que tudo permite sem limites ou reflexões em termos de ética, por exemplo. De outro, há ações e pensamentos conservadores.

O melhor caminho parece ser sempre o do diálogo, pois, historicamente, sabemos que toda posição extremada não acaba bem em termos individuais e globais. As polêmicas são saudáveis exatamente porque promovem conversas e estimulam diferentes formas de pensar a, pelo menos, se conhecerem melhor.

O Barroco, nesse contexto, foi e continua a ser um momento estético fascinante. Na dicotomia entre a religião, que torna Deus maior que o homem, e a ciência, que torna o homem maior do que Deus, surgem seres angustiados e drapeados maravilhosos nas roupas. Entre a cruz divina e a luneta de Galileu, está uma tensão que nos torna mais frágeis e, por isso, mais ricos em termos de pensamento.

O maior fascínio desse processo está na contínua busca por cada um de nós por resolver suas indagações internas sobre a existência. E esse processo costuma gerar trabalhos artísticos de qualidade, muitas vezes excessivos em seu rebuscamento, mas geralmente fascinantes em suas inquietações em busca por respostas para o sentido de estar no mundo.

Estamos, assim, após 500 anos da reforma protestante, num momento muito rico e peculiar, repleto de possibilidades, mas que só podem ser aproveitadas se não houver posturas dogmáticas que limitem a nossa capacidade de compreensão e apreensão do mundo. *Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp

Valorize-se no que você é – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Não se mede o valor de um homem pela tarefa que ele executa e sim pela maneira de ele executá-la.” (Swami Vivecananda)

Como você faz é o que vai dizer o que e como você é. E isso indica que é seu modo de agir e fazer, e não o que você faz, que vai mostrar o seu real valor. Quem já viveu o movimento industrial brasileiro das décadas dos cinquentas e sessentas, sente isso. Foi um dos mais intensos movimentos na implantação do controle de qualidade e das relações humanas, no trabalho. Foi um momento realmente riquíssimo no profissionalismo brasileiro, notadamente na indústria.

Eu já tinha uma pequena experiência na indústria, quando iniciei minha tarefa numa grande empresa no ramo da refrigeração. Foram dez anos naquela empresa, que me deram uma experiência notável no campo da qualidade. E esta está tanto no serviço quanto na prestação do serviço. Foi um momento formidável com o trabalho que fizemos juntamente com o SESI, na implantação do Controle de Qualidade, na indústria. Vivemos momentos aparentemente hilários. Mas, que na verdade foram edificantes e construtivos.

Trabalhei dez anos naquele setor. Vivi uma experiência notável, em contatos diretos com grandes empresas, dentro e fora do Estado de São Paulo. Uma das maiores experiências que vivi foram os dias que passei, a serviço da empresa, em Joinville, Santa Catarina. Estive ali para evitar a devolução de um material considerado defeituoso; mas que não tinha defeito nenhum. É uma estratégia usada por determinadas empresas, quando não têm condições de usar o material adquirido. E segundo o presidente da empresa em que eu trabalhava, nenhum engenheiro especializado em Controle de Qualidade teria conseguido o resultado positivo que eu consegui. E isso, embora tenha me feito muito feliz não me tornou um vaidoso, nem fez me sentir o dono da cocada preta. Apenas aprendi o que já sabia e não sabia que sabia: que o importante não é o que você faz, mas como você o faz.

E aprendi isso ainda na década dos cinquentas, num livro extraordinário, do Swami Vivecananda. Aprendi que devemos dar mais atenção à sabedoria dos que souberam viver, e nos deixaram um legado importantíssimo no mundo da evolução racional. Você pode estar mostrando sua superioridade dando mais importância ao gari que trabalha na limpeza das ruas. Já encontramos garis por aí que merecem todo o nosso respeito, como profissionais. Vamos dar mais atenção à sabedoria do Swami Vivecananda. É no conhecimento das grandes mentes que nos deixaram exemplos de grandeza, que seremos grandes dentro da nossa simplicidade. Pense nisso.

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