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Big Brother só existe por conta da experimentação sem limites

Sucesso no mundo inteiro, programa chegou a vigésima edição no Brasil

Mais uma edição do Big Brother Brasil começou. É a vigésima, que mais uma vez será assistida por milhares de pessoas na TV, TV por assinatura, na web, IPTV entre outros. Fenômeno no mundo inteiro, a configuração do programa – pessoas desconhecidas vigiadas 24h por dia em uma casa – desperta a curiosidade de muita gente.

Um dos curiosos era o sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard, morto em 2007, mas que teve tempo para analisar filosoficamente o que o programa com edições nos Estados Unidos, Canadá, China, África do Sul, Albânia, Itália, entre outros, representa na vida da sociedade.

Baudrillard era crítico da chamada sociedade do consumo. Para ele, o mundo contemporâneo não era baseado na produção, mas justamente no consumo: as pessoas não querem apenas comprar coisas, mas sim serem incluídas no sistema consumista.

Seu principal argumento é que a manipulação de símbolos, com a infinita reprodução e sobreprodução de imagens e signos pela publicidade e pelo mercado, apagou toda a distinção entre o real e a imagem. Na fase contemporânea do símbolo, o Big Brother funcionaria como simulacro da realidade.

Baudrillard diz, fundamentalmente, que o programa existe porque “o homem moderno está entregue a uma experimentação sem limites sobre si mesmo” que só acontece porque não há mais um destino a se apegar. Assim, ele serve de laboratório de uma convivência entre pessoas que é modificada por meio da televisão, uma transferência da vida cotidiana para um circuito fechado e controlado.

“O Big Brother parece-se com a Disneylândia, que dá a ilusão de um mundo real, de um mundo externo, sendo que os dois correspondem exatamente à imagem um do outro. O universal televisivo não passa de um detalhe holográfico da realidade global”, escreve.

Baudrillard também compara o programa à pornografia, não por causa dos encontros sexuais que eventualmente acontecem entre os participantes, mas porque o mundo atual é aficionado pela “banalidade”, pela “superficialidade”.

“As pessoas estão fascinadas e aterrorizadas pela indiferença do nada a dizer, nada a fazer…”, reclama.

E em relação aos participantes, ele diz que a vontade de participar do reality show é, na verdade, o desejo de não ser visto: “Há duas maneiras de desaparecer: ou se exige não ser visto ou se descamba para o exibicionismo delirante da própria mediocridade. O indivíduo faz-se medíocre para ser visto e contemplado como medíocre”. Assim, o que há no Big Brother é uma contradição na ideia de não ser visto justamente por meio da intensa visibilização.

Por fim, o filósofo não lamenta: “O Big Brother é, ao mesmo tempo, o espelho e o desastre de uma sociedade inteira atolada na corrida ao insignificante e pasma diante de sua própria banalidade”.