COMPORTAMENTO

Psicologia do consumo: Por que ainda temos dificuldade em falar de dinheiro?

Comportamento financeiro influencia mais do que renda nos hábitos de economia e investimento, dizem especialistas

Cresce o número de brasileiros interessados em tirar o dinheiro da poupança e aplicar de forma mais estratégica (Foto: Reprodução Sora)
Cresce o número de brasileiros interessados em tirar o dinheiro da poupança e aplicar de forma mais estratégica (Foto: Reprodução Sora)

Embora o acesso à informação sobre finanças pessoais nunca tenha sido tão amplo, milhares de brasileiros ainda enfrentam dificuldades para lidar com o próprio dinheiro. O problema nem sempre está na falta de renda, mas sim no comportamento financeiro, que envolve decisões, emoções e crenças sobre consumo, poupança e investimentos.

“Dinheiro é um tema que vem carregado de tabus e traumas. Muita gente aprende a gastar ou a se endividar desde cedo, sem nunca ter contato com uma educação financeira de verdade”, afirma a planejadora financeira certificada Letícia Munhoz.

Comportamento molda resultado

Pesquisas de comportamento mostram que hábitos simples — como gastar por impulso, esconder dívidas ou adiar decisões de longo prazo — têm impacto direto sobre a estabilidade financeira, independentemente da faixa de renda.

Entre os comportamentos mais comuns que dificultam o equilíbrio financeiro estão:

  • Procrastinação para revisar contas ou montar um orçamento;
  • Autossabotagem, como gastar para “compensar” frustrações;
  • Medo ou vergonha de investir por falta de conhecimento.

A psicologia do consumo

A chamada psicologia econômica já reconhece que dinheiro é, antes de tudo, emocional. Segundo a especialista em finanças comportamentais Gabriela Mendes, muitas decisões financeiras são tomadas de forma impulsiva, influenciadas por sentimentos como medo, culpa, ansiedade ou euforia.

“O impulso de gastar vem muitas vezes da tentativa de suprir algo emocional, não uma necessidade real. A lógica e a planilha vêm depois — se vierem”, explica.

Investir é também comportamento

Quando o assunto é investimento, o comportamento continua sendo um fator decisivo. Medo de perder, apego ao conhecido (como a poupança) e falta de planejamento impedem muitos brasileiros de aproveitar melhor seu dinheiro.

De acordo com a Anbima, mesmo com a taxa Selic elevada em 2024, mais de 80% dos brasileiros ainda deixam o dinheiro parado em produtos de baixo rendimento.

Caminhos possíveis

Especialistas recomendam começar com passos simples:

  • Criar o hábito de anotar gastos ou usar aplicativos de controle financeiro;
  • Estabelecer metas reais e prazos para poupar;
  • Buscar informação confiável sobre investimentos básicos (como Tesouro Direto ou CDBs);
  • Evitar decisões financeiras em momentos de estresse emocional.

“Educação financeira é mais sobre comportamento consistente do que sobre saber tudo sobre o mercado. Quem entende isso, avança rápido”, afirma Letícia.

Falar de dinheiro, entender seus próprios hábitos e criar uma rotina de controle e planejamento são atitudes mais poderosas do que qualquer rendimento milagroso. Em tempos de incerteza econômica, quem domina o próprio comportamento financeiro tem uma vantagem real sobre o futuro.

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