Saúde e Bem-estar

Pais e alunos precisam superar o medo diante do cenário de ataques 

Especialista da Psicologia Positiva, Wagner Costa, pontua ações para que ataques nas escolas não sejam reforçados

Em 11 anos, o Brasil teve 25 ataques à escolas públicas e privadas. Neste ano, já foram registrados três casos, sendo em São Paulo, Santa Catarina e, nesta segunda-feira (10), no Amazonas. O levantamento atualizado leva em consideração o mapeamento recente de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Procurando formas de agir diante dos ataques e possíveis ameaças, a Folha procurou o psicólogo e especialista em Psicologia Positiva e Terapia Cognitiva Comportamental, Wagner Costa, para saber o que os pais podem fazer neste momento de tensão no país. Conforme o especialista, manter a calma, conversar e fortalecer laços com os filhos, e buscar políticas públicas psicossociais são algumas das ações a serem feitas.

A primeira medida a ser tomada é manter a calma. Segundo Costa, mesmo que os casos tenham tomado conta da mídia e se tornado frequentes, não é comum e por isso não podem haver ações extremas, como impedir a ida dos alunos às escolas.

“A gente tem que saber que isso não é uma coisa tão frequente quanto se divulga nesse momento. Acontece? Acontece! Mas isso não é uma coisa de todos os dias, então eu diria que os pais precisam conversar com os filhos e dizer para eles que a gente tem que continuar levando a vida. Do mesmo jeito que todo dia têm crianças violentadas, têm mulheres mortas, tem transexuais assassinados, a gente precisa continuar levando a vida”, afirma.

Para o psicólogo, a conversa é a melhor opção a ser seguida. Por isso, deve-se orientar os filhos a estarem atentos para as mudanças de comportamento dos colegas e às situações de violência entre alunos, como bullying, ameaças e brigas frequentes, e até professores.

“Lembrando, nem sempre essa violência é praticada por alunos de escolas. Às vezes é o aluno que pratica a violência, mas às vezes é alguém externo. E nós não podemos ficar só presos à escola. Nós precisamos perceber que temos de 1% a 6% das pessoas que têm transtornos mentais graves. Essas pessoas nem todas são agressivas. Então às vezes a gente pensa numa estratégia para combater, mas a gente não percebe que são muitas variáveis”, destacou Wagner Costa se referindo também a possíveis formas de combate à violência nas escolas.


O especialista em Psicologia Positiva, Wagner Costa, afirma que conversa e calma são ações para o momento de tensão. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Assim, é preciso, primeiramente, segundo o psicólogo, voltar a ter laços familiares entre pais e filhos. Costa aponta que a atualidade é marcada pelo distanciamento com as crianças, adolescentes e jovens, cada vez mais sozinhos e educados pela tecnologia das telas. Aliado a isso, há também as diversas realidades sociais e emocionais vividas pelos genitores, o que resulta em filhos deixados de lado. Uma dessas realidades é a gravidez na adolescência.

“Tem uma pesquisa que diz que os três anos iniciais da vida de uma criança são os mais importantes para que ela aprenda a reagir de forma adequada emocionalmente. E esses três anos incluem nove meses de gravidez. Então o que que a gente precisa fazer? Nós precisamos trabalhar as questões da gravidez na adolescência. São crianças que são concebidas e geradas numa vida sem acompanhamento, sem condição. Onde a mãe não tem possibilidades de criar o filho, não estuda, não incentiva o filho a estudar. Ela vai ser uma pessoa revoltada que vai passar revolta para o filho”, ressalta.

Wagner Costa reforça que o medo é o gerador para aumento da venda de armas, de opiniões a favor da redução da maioridade penal e endurecimento das leis. Ainda, que a divulgação detalhada também é uma forma de “efeito contágio”, já que estudos apontaram que o sucesso do ataque é visto como troféu por outros que pensam em outras possibilidades.

O especialista pontua que investimento em campanhas de educação emocional nas escolas e medidas psicossociais são mais adequadas do que segurança armada, detectores de metais e outros. “Nós realmente vamos ser abalados pelo medo, mas nós temos que encontrar estratégias adequadas que passam pelo processo de educação para evitarmos esse tipo de situação […]. Observa que parece um um choque nisso que eu estou falando mas é a realidade que nós vivemos. Nós valorizamos, enquanto sociedade, a violência e a luta para ser o melhor. Nós não valorizamos uma convivência social harmônica”, afirma.

*Por Adriele Lima