A cantora Preta Gil faleceu aos 50 anos, em Nova York, em decorrência de complicações causadas por um câncer colorretal, também conhecido como câncer de intestino. Diagnosticada em janeiro de 2023, Preta passou por diversos tratamentos, incluindo cirurgia, quimioterapia, radioterapia e, mais recentemente, terapia experimental nos Estados Unidos. O caso trouxe à tona uma doença que, embora tradicionalmente mais comum em pessoas acima dos 50 anos, tem registrado crescimento expressivo entre jovens nas últimas décadas.
Aumento dos casos entre jovens
Estudos recentes indicam que cerca de 10% dos casos de câncer colorretal ocorrem em pessoas com menos de 50 anos. No Brasil, entre 2015 e 2023, houve um aumento de mais de 80% nos diagnósticos entre beneficiários de planos de saúde, com crescimento particularmente preocupante entre pessoas de 20 a 39 anos. No cenário global, dados da revista científica BMJ Oncology apontam que, entre 1990 e 2019, a incidência da doença em adultos jovens cresceu 79%, enquanto a mortalidade subiu 28%. A previsão para os próximos 15 anos é de que os casos no Brasil aumentem mais de 20%, com destaque para as regiões Norte e Centro-Oeste.
Os motivos desse crescimento ainda são investigados, mas fatores como alimentação pobre em fibras e rica em carnes processadas, sedentarismo, obesidade, consumo excessivo de álcool, tabagismo, alterações no microbioma intestinal e histórico familiar são considerados determinantes. Algumas síndromes hereditárias, como a Síndrome de Lynch, estão diretamente associadas ao desenvolvimento precoce da doença, e há evidências de que fatores ambientais também desempenham papel importante.
Doença silenciosa
O câncer colorretal é uma doença silenciosa, cujos sintomas iniciais costumam ser confundidos com alterações intestinais comuns, o que frequentemente atrasa o diagnóstico. Entre os sinais mais frequentes estão sangramentos nas fezes, dor abdominal, mudanças no hábito intestinal, perda de peso inexplicada e anemia. Jovens muitas vezes não são investigados com a mesma atenção que adultos mais velhos, o que contribui para que a doença seja identificada em estágios mais avançados.
O diagnóstico precoce é a principal arma contra o câncer de intestino. A colonoscopia, exame que permite a visualização do interior do cólon e do reto, é fundamental tanto para detectar o tumor quanto para identificar pólipos que podem se transformar em câncer. Atualmente, sociedades médicas recomendam que o rastreamento comece aos 45 anos, ou antes, em pessoas com histórico familiar ou outros fatores de risco.
Tratamento
O tratamento depende do estágio da doença. Em fases iniciais, a cirurgia para retirada do tumor pode ser curativa. Em casos mais avançados, a quimioterapia e a radioterapia são frequentemente indicadas, assim como terapias-alvo e imunoterapia. A sobrevida pode chegar a mais de 90% nos casos diagnosticados precocemente, mas cai significativamente quando há metástases.
Além dos impactos físicos, o diagnóstico em pessoas jovens traz uma série de desafios emocionais e sociais. A maioria desses pacientes está em fase produtiva da vida, muitas vezes com filhos pequenos e responsabilidades profissionais. Estudo recente mostrou que 85% dos jovens diagnosticados com câncer colorretal desenvolvem sintomas de ansiedade ou depressão, embora pouco mais da metade tenha acesso a acompanhamento psicológico. Questões como preservação da fertilidade, planejamento familiar e impacto financeiro também estão entre as preocupações mais comuns nesse grupo.
