Política

Kopenawa cobra Lula por segurança aos Yanomami: ‘garimpeiros são bravos'

Xamã yanomami diz temer ser morto caso vá à região sozinho. Presidente voltou a dizer que vai retirar “definitivamente” todos os garimpeiros dos territórios indígenas

O xamã yanomami e ativista Davi Kopenawa cobrou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que o governo federal amplie a segurança na Terra Indígena Yanomami. A cobrança foi feita nesta segunda-feira (13), durante a Assembleia Geral dos Povos Indígenas de Roraima, na Terra Raposa Serra do Sol, em Normandia, Norte do Estado.

Kopenawa denunciou que garimpeiros ilegais ainda estão escondidos na região de Homoxi ou fugiram para a Venezuela. Com isso, o líder defendeu a retirada total dos invasores e relatou um caso ocorrido na última quinta-feira (9).

“Dia 9, desceu, acho que 20 barcos que estavam lá em cima, no rio Palimiú, passou, parou [sic] onde está a barreira. Senhor presidente, precisamos colocar um cabo de aço bem forte pros garimpeiros não cortarem. Queria colocar pro senhor para reforçar o efetivo do Ibama, do Exército, da Força Nacional. Garimpeiros são bravos e queria que o senhor aumentar [sic] o pessoal que tá protegendo a comunidade Palimiú”, declarou ele, que diz temer ser morto caso vá a região sozinho.

“Não quero mineração na Terra Yanomami e na Raposa Serra do Sol. Não precisa, porque a mineração mata nós [sic], povo da cidade também, mata alma do rio, mata alma da floresta. Não precisa trazer mineração pesada na nossa casa, na nossa floresta. Vamos respeitar o patrimônio da União do nosso Brasil”, disse.

Kopenawa endossou o discurso contra o garimpo em terras indígenas, e lembrou da visita da ministra da Saúde, Nísia Trindade, à região de Surucucu, para pedir novamente reforço contra a crise humanitária com ações que garantam água potável para a região.

O líder indígena ressaltou não querer que mais crianças morram de desnutrição, prometeu lutar pelo povo yanomami, falou da iniciativa da organização não-governamental Expedicionários da Saúde (EDS) para instalar um hospital em Surucucu e finalizou pedindo mais atenção à saúde e segurança dos povos que vivem no lado amazonense da Terra Yanomami. “Doença não tem fronteira, policial para pegar e ir embora”, disse.

Em seu discurso, Lula voltou a dizer que vai retirar “definitivamente” todos os garimpeiros dos territórios indígenas. “Mesmo que tenha ouro aqui em Roraima, na Terra Indígena, aquele ouro não é de ninguém, tá lá porque a natureza colocou. Ninguém tem o direito de tirar de lá, sem autorização de quem mora lá, que são os indígenas”, disse, também citando o caso dos madeireiros ilegais.

A ministra dos Povos Originários, Sônia Guajajara, também alertou para a saída de garimpeiros do território yanomami para outras terras indígenas. “Temos que intensificar essa fiscalização para que eles não venham para Raposa Serra do Sol, para o Amazonas, para Munduruku, para o Pará. A gente precisa resolver de uma vez por todas essa saída dos garimpeiros e madeireiros em territórios indígenas”, disse.

“A gente não vai descansar enquanto não conseguir retirar esse problema do território yanomami. Tem problema de falta de assistência de saúde, a gente entendeu que a raiz desse problema é a invasão, são os garimpeiros, a contaminação dos rios”, destacou.

Comitiva presidencial

A comitiva veio ao Estado para participar da quinquagésima segunda edição do evento, cujo tema é “Proteção Territorial, Meio Ambiente e Sustentabilidade”. Lula veio acompanhado da primeira-dama Janja Lula da Silva, dos ministros José Múcio (Defesa), Márcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência), Paulo Pimenta (Comunicações), Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Nísia Trindade (Saúde), da presidente da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), Joenia Wapichana, e do secretário nacional especial de Saúde Indígena, Weibe Tapeba.

O grupo foi dividido em dois helicópteros ao território indígena, onde desembarcou às 11h13. A equipe foi recebida pelos prefeitos Arthur Henrique (Boa Vista) e Wenston Raposo (Normandia).

Em seguida, a comitiva, acompanhada por Davi Kopenawa, foi recepcionada por crianças indígenas que cantaram uma música que referenciava o nome do presidente, seguido por organizações e produtores indígenas do Estado. Por fim, o grupo presidencial se dirigiu ao centro regional do lago Caracaranã para os discursos na assembleia. Eles deixaram o evento por volta das 13h30.

Veto

O governador de Roraima, Antonio Denarium (Progressistas), foi vetado no evento, segundo a organização da assembleia, que cedeu ao menos a presença do prefeito da capital do Estado. No entanto, Denarium recebeu Lula na Base Aérea de Boa Vista.

Susto

Uma hora antes da comitiva presidencial chegar ao local, uma rápida ventania abalou a estrutura do evento às margens do lago Caracaranã, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Normandia, Norte do Estado. Uma das colunas de ferro chegou a “pular”, e precisou ser reforçada.

Quem estava presente na assembleia deixou a tenda. Apesar do ocorrido, a organização pediu calma aos participantes, mas parte do público preferiu se abrigar debaixo de árvores próximas até que o problema fosse resolvido.

*Por Lucas Luckezie