Polícia

Caseiro mata homem e diz que ele estava possuído pelo Canaimé

As lendas indígenas que permeiam a cultura do norte do país continuam fortes mesmo nos dias atuais. Um caseiro de 48 anos, que pertence à etnia Macuxi, é suspeito de golpear e decapitar com terçado um homem ainda não identificado, dentro de uma fazenda localizada na Comunidade Indígena do Pium, no município do Bonfim. O corpo da vítima foi encontrado às margens do Rio Tacutu, em avançado estado de decomposição, nesta segunda-feira, dia 20.

A Polícia Militar foi acionada pela proprietária do local logo após ter sido informada da existência de um corpo às margens do rio. Feitos todos os procedimentos, a guarnição já estava de saída quando o caseiro se apresentou por livre e espontânea vontade e confessou ser o autor do assassinato e contou que o crime ocorreu na quinta-feira passada, dia 16, por volta das 18h. A vítima foi apontada como sendo um guianense, conhecido na comunidade apenas como ‘Jhonata’.

De acordo com Alberto Alencar, delegado que investiga o caso, o homem alegou ter agido em legítima defesa e disse que foi atacado por Jhonata quando o mesmo estaria possuído pelo espírito maligno indígena conhecido como ‘Canaimé’, que naquele momento tinha assumido a aparência de uma onça. 

O Canaimé é um personagem mítico indígena que, segundo a crença das tribos macuxi e wapixana, é responsável por acontecimentos maléficos e pode se apossar do corpo de qualquer um, se transformando em monstro ou em algum animal.

Em depoimento, o acusado contou que tinha ido ao rio para colocar um malhador de pesca e que Jhonata estava a sua espera. Quando se aproximou, a vítima tomou a forma do animal e o atacou. O caseiro então se armou com o terçado e desferiu pelo menos seis golpes na suposta criatura maligna, que caiu no chão e retornou à forma humana com um corte no pescoço e outros pelo corpo. O acusado também disse que saiu imediatamente do local e contou à esposa sobre o ocorrido.

Para o delegado, o caseiro quis apenas justificar o assassinato fazendo uso da crença dos povos tradicionais. “É uma lenda indígena muito forte na região. O conduzido disse que foi o Canaimé, mas ele não é aquele índio que fica na aldeia. Ele já é assimilado. Então, é muito fácil ele utilizar a lenda do Canaimé pra se safar do crime. Ele continua dizendo que era o Canaimé, que nunca tinha visto e que se ele não tivesse feito isso, o bicho teria matado ele”, disse.

Ainda durante o depoimento, o caseiro disse que Jhonata era conhecido na região por realizar sacrifícios de crianças e que por volta de 15 dias atrás a sua esposa deu a luz e ao enterrar o cordão umbilical, viu o canaimé sugando o sangue da placenta.

Os primeiros depoimentos apurados pela polícia civil local apontam que Jhonata era uma ‘pessoa problemática’, que segundo a comunidade, seria suspeito de ter cometido assassinatos em seu país de origem. O corpo da vítima foi removido pelo Instituto Médico Legal (IML) somente na manhã desta terça-feira, dia 21, e como não houve flagrante, o suspeito foi liberado após prestar depoimento.