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Áudio revela momento de assassinato de casal no Cantá

Um dos envolvidos seria segurança de uma autoridade

O caso aconteceu no dia 28 de abril (Foto: Divulgação)
O caso aconteceu no dia 28 de abril (Foto: Divulgação)

A Folha teve acesso a um áudio que está sendo periciado pela Polícia Civil, que mostra uma conversa entre as vítimas Jânio Bonfim de Souza, de 57 anos, e Flávia Guilarducci de Souza, de 50 anos, e os assassinos do casal. O crime ocorreu na Vicinal do Surrão, no dia 23 deste mês. Um dos envolvidos seria segurança de uma autoridade.

Provavelmente, o áudio tenha sido gravado por Flávia durante uma conversa entre o casal com pelo menos dois homens. No conteúdo, é possível ouvir um homem falando “se o senhor não sabe, essa terra tem documento. Nós temos essa terra por mais de 40 anos. É mil e poucos hectares aqui mesmo, mas nunca tínhamos mexido porque o pessoal ficava lá no canto”, diz trecho do áudio.

Jânio questiona qual a proposta que o homem tem a oferecer. “Então o que você quer que [a gente] faça?”, perguntou Jânio.

“Eu vim aqui fazer essa proposta para o senhor lá da Caju. Lá nós temos uma área e podemos negociar lá porque essa área aqui…. para amenizar”, segue o diálogo entre os dois.

Os dois continuam conversando sobre as terras e Jânio se recusa a sair do local. Ele afirma que comprou a terra por 70 hectares e o homem o questiona dizendo que não é possível. 

“Agora você vir fazer uma proposta, querer vir tirar eu da terra para levar para outra, falando que esse local aqui é seu”, disse Jânio.

O debate entre eles continua e ambos afirmam possuir a documentação das terras.

O homem disse o seguinte: “Eu até entendo o senhor na questão da negociação daqui. O senhor já tem bens palpáveis e já teve um gasto. O senhor não vai querer sair daqui para ir para onde ele está dizendo independente do tamanho dos hectares”, disse.

“Agora para vocês derrubarem uma documentação do Iteraima do jeito que foi feita, em cima do certo, sem está um pingo fora da linha”, falou Jânio. Flávia reiterou a fala do marido.  

As últimas palavras de Jânio antes de ser baleado foi “agora vir aqui onde eu tô para coisar…”

Um dos homens disse “falar que eu estou armado, que não sei o que, estou mesmo oh” e cerca de seis disparos, em seguida, os assassinos falam “vamos embora” e saem da residência.

Jânio e Flávia foram socorridos por um vizinho até o Hospital Geral de Roraima (HGR). Ele passou por cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos e foi a óbito. Ela ficou internada na UTI por seis dias e morreu no domingo, 28.

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A reportagem não divulgou o final do vídeo em respeito às famílias.

PRISÕES

No dia seguinte ao crime, dia 24, dois homens envolvidos nos homicídios foram presos em flagrante por agentes da Polícia Civil lotados na Delegacia do Cantá.

O delegado titular do município, Ronaldo Sciotti, informou que as investigações apuraram que os dois homens estiveram numa loja e compraram munição e também estavam juntos quando as vítimas tiveram suas terras invadidas e foram baleadas.

Diligências estão sendo realizadas de forma contínua para localizar os outros dois homens que continuam foragidos.

MOTIVAÇÃO DO CRIME

Conforme apurado pela polícia, a mesma testemunha que prestou socorro ao casal, também foi ameaçada pelos quatro homens no dia anterior.

A testemunha e o agricultor haviam combinado de fazer uma plantação de feijão numa parte da terra. Na segunda-feira a testemunha olhava o local onde fariam a plantação quando chegaram os quatro homens e um deles estava armado com uma pistola calibre 380.

“Eles foram na propriedade e encontraram a testemunha que é um policial militar da reserva. Eles fizeram a ameaça afirmando que o casal havia invadido as terras deles e, logo depois, foram embora”, relatou o delegado. 

De acordo com o relato da testemunha, que ainda chegou a conversar com o agricultor sobre as ameaças, este afirmou que a terra lhe pertencia e estava toda documentada.

“A vítima disse a essa testemunha que era dono da terra e que tinha toda a documentação comprobatória, mas que já tinha recebido outras ameaças anteriormente dos suspeitos e, inclusive, registrado um Boletim de Ocorrência dessas ameaças”, disse o delegado.

Após a prisão, os suspeitos foram interrogados pelo delegado, acompanhados de um advogado, e usaram o direito constitucional de somente falar em juízo.

Eles foram encaminhados ao IML (Instituto Medicina Legal) onde passaram por exames de integridade física e foram apresentados no dia 25, na Audiência de Custódia.