Agentes da Delegacia do Município de Normandia, ao Leste de Roraima, cumpriram Mandado de Prisão Preventiva contra Adriano Bezerra, conhecido em Normandia e nas comunidades indígenas como o “Matador de Feiticeira”. Ele é acusado do homicídio que teve como vítima Cecília da Silva. O fato ocorreu na Comunidade da Raposa, no dia 14 de maio do ano passado.
O delegado Alberto Alencar, responsável pelo caso, disse que a vítima, Cecília da Silva, era muito conhecida na região e considerada uma bruxa na comunidade da Raposa, assim como em outras comunidades indígenas do entorno. “Ela era muito temida porque a comunidade indígena teme muito as bruxas e feiticeiras. Segundo depoimentos colhidos, ela teria colocado feitiço nesse Adriano, mais precisamente na perna dele, e vinha dizendo que ele tinha matado outras pessoas. A situação vinha afetando o acusado, resultando nesse ocorrido, em que ele desferiu três facadas, uma nas costas, uma no ombro e outra, cravando no coração da feiticeira”, relatou.
O delegado também esclareceu que o acusado teria informado que precisava acertar o coração da vítima para confirmar a morte. “Na lenda indígena para se matar uma feiticeira, tem que cravar uma faca no coração ou um punhal, para realmente confirmar a morte, que é de onde emanam os fluídos de todo o mal que ela pratica. E foi isso que ele fez”, explicou.
Depois do assassinato, Adriano teria ameaçado os netos da vítima caso gritassem ou chamassem a polícia, seguindo para a região do Surumu. “Depois do ocorrido, ele passou a fugir para as outras comunidades. Se tornou famoso, se tornou uma lenda em Normandia e nas comunidades da Raposa e demais comunidades indígenas. Todos o chamam de ‘O matador de feiticeiras’. A comunidade ficou com medo dele”, comentou Alencar.
Depois de assumir a titularidade da Delegacia de Normandia, Alberto Alencar disse à Folha que solicitou que o acusado fosse monitorado para realizar a prisão. “Porque a lenda, a fama dele é muito grande e quando foi nesta quarta, dia 20, nós conseguimos cumprir o mandado de prisão dele em relação a esse homicídio praticado. Foi um crime bárbaro, de muita repercussão nas terras indígenas”, destacou.
Após passar pelos procedimentos legais, Adriano Bezerra foi encaminhado à Pamc (Penitenciária Agrícola de Monte Cristo), na zona Rural de Boa Vista, onde ficará à disposição da Justiça.
DEPOIMENTOS – Dentre os depoimentos prestados à polícia consta o da esposa de Adriano Bezerra, com quem ele tem cinco filhos. Ela disse ao delegado que depois que passou a conviver com o acusado, informou para ele que Cecília da Silva era “do mal” e que foi responsável pela morte de dos familiares dela.
A testemunha disse que a primeira vítima teria sido o irmão, quando a suposta feiticeira declarou que faria um trabalho para acabar com o sofrimento do rapaz e no mês seguinte ele morreu. Em seguida, a irmã da depoente também morreu depois de um desentendimento com a filha de Cecília. Segundo a esposa de Adriano, a irmã teria sido ameaçada pela “feiticeira” e morreu três meses depois em decorrência de uma hemorragia súbita. Por fim, a mulher disse que o pai também teria sido vítima dos trabalhos de feitiçaria, circunstâncias que fizeram com que o homem sofresse muito, chegando a ficar cego antes da morte.
Adriano relatou à polícia que foi ameaçado de morte durante uma das conversas que teve com a vítima, na qual ela confessou que teria lançado o feitiço na perna dele e que ele não viveria muito tempo. O acusado disse que chegou a se converter à igreja Assembleia de Deus por ter medo das promessas feitas pela mulher. Mas o estopim para a morte, teria sido o fato de a vítima acusar Adriano da morte do sogro.
O tuxaua da Comunidade da Raposa, disse em depoimento que Cecília era vista na comunidade como feiticeira, mas que ela só assumia que fazia feitiços quando estava bêbada, o que causava temor em muitas pessoas.
A liderança indígena relatou ainda que a morte de cinco pessoas foram associadas, pela comunidade, aos “trabalhos” de Cecília e que por algumas vezes Adriano solicitou intervenção para que a autoridade indígena pedisse que a vítima deixasse de fazer ameaças e macumbas contra ele. (J.B)