OPINIÃO

Síndrome de Pilatos

Walber Aguiar*

A busca do homem é, sobretudo pela verdade.

                                                               Cícero

Insistiu na salvação e foi pregar nos cemitérios. Isso até descobrir que o existir humano é permeado pela história, por aquilo que se toca, que se pode mensurar. Cansado da mesmice e do tédio que se prega nos templos sem vida, partiu em busca de alguma coisa concreta.

Percebeu que há discussões filosóficas e teológicas que não levam a nada, do tipo que pensa o sexo dos anjos, que tenta tapar os buracos da ciência com tampões teológicos. Viu que o dado científico não consegue explicar tudo, que Deus não pode ser encontrado em tubos de ensaio, que Jesus não pode ser crucificado outra vez, pelo menos historicamente falando.

Ora, nessa caminhada socrática, o pregador de cemitérios descobriu a teologia holística, a missão integral da igreja. Isso porque o galileu, o homem de Nazaré chamou pra si a responsabilidade de vivê-la integralmente, no que tange à salvação e responsabilidade social. Depois de entender o Jesus histórico, viu que a salvação, longe de conceder sombra e agua fresca em loteamentos celestiais, oferece perspectiva de eternidade àqueles que se envolvem com a praticidade do Reino , que gastam sua vida na promoção do mesmo.

Depois de encontrar o fio da meada no labirinto religioso, viu que não adianta pregar uma salvação abstrata, metafísica, vazia de resultados. Não adianta afirmar o amor de Jesus ao mendigo se não estamos dispostos a tocá-lo com esse amor. Não adianta fazer conferências sobre a liberdade se não visitamos os encarcerados. Não há lógica em falar do aconchego divino e não vestir o nu. Também percebeu que não adianta tirarmos o homem de dentro da favela se não tirarmos a favela de dentro do homem.

Depois de chegar à aldeia de Emaús, o viajante entendeu que o evangelho não se resume a manias e modismos, a esquisitices e legalismos, a uma lei moral de ação e reação. À noite encontrou Sócrates e Pilatos. Não houve rodeios e relativismos. A verdade foi servida como sobremesa…

*Poeta, professor de filosofia, historiador, Mestre em Letras e membro da Academia Roraimense de Letras…[email protected]