Em algum momento da vida, todos nós seremos atravessados pela dor da perda. Mas há uma dor que não encontra palavras, que não cabe em nenhuma lógica, que rasga o peito e desorganiza o mundo: a dor de perder um filho.
Essa não é a ordem natural da vida e talvez, por isso, doa tanto. Um pai ou uma mãe que sepulta um filho não está apenas se despedindo de alguém que ama. Está enterrando planos, risos, aniversários, sonhos. Está tentando entender como continuar respirando num mundo em que o tempo parou. O luto, nesse caso, não passa. Ele se transforma, se acomoda em silêncios, se traduz em saudade. Mas não vai embora.
A sociedade, muitas vezes, impõe prazos para a dor. Espera que depois de um tempo, a pessoa “supere”, volte ao trabalho, sorria como antes. Mas quando se perde um filho, o antes deixa de existir. A pessoa que sobra já não é mais a mesma.
O luto não é uma fase. É um processo. É um caminho que precisa ser percorrido com respeito, acolhimento e escuta. Não há fórmulas. Há dias bons e outros em que o ar parece faltar. E tudo isso faz parte.
Como psicóloga, sempre digo: não tente apressar o luto de ninguém. Não minimize, não silencie. Às vezes, tudo que alguém enlutado precisa é de presença. De alguém que diga: “Eu estou aqui. Pode chorar. Pode se calar. Pode sentir tudo que está sentindo.”
E se você está passando por essa dor, permita-se viver esse luto. A dor não precisa ser combatida ela precisa ser acolhida. E você não precisa passar por isso sozinho. Não se trata de esquecer, mas de aprender a viver com a ausência. E isso leva tempo.
No meu livro “A dor só passa quando você passa por ela”, escrevo sobre como a dor emocional não é inimiga: ela é parte do caminho. Falo sobre a importância de não fugir da dor, mas sim de caminhar por ela com gentileza. Isso também vale para o luto.
Perder um filho é caminhar por um território sem mapa. Nada ensina, nada prepara. E, muitas vezes, nem a fé explica. Mas é possível aprender a conviver com a ausência sem deixar de amar, sem se culpar por continuar vivendo.
A dor só passa quando você passa por ela, com os olhos marejados, mas abertos. Com os pés trêmulos, mas em movimento. Essa dor não será esquecida, e nem deve. Porque o amor não morre com o corpo. Ele permanece em cada lembrança, em cada gesto, em cada palavra que o tempo não apaga. O luto é uma forma de amor que precisou encontrar outro jeito de existir.
A dor é uma travessia. E você não precisa atravessar sozinha, mas precisa permitir que ela se revele. Se você está vivendo essa perda, ou acompanha alguém que está, aqui vão cinco pontos essenciais para acolher essa jornada:
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Não tente ser forte o tempo todo: ser forte não é segurar o choro, é permitir-se sentir. A dor precisa ser expressa. Chorar, gritar, se calar: tudo é parte do processo.
Permita que o luto tenha voz: fale sobre seu filho. Lembre dele. Guarde suas memórias com carinho. O silêncio pode sufocar. Nomear a dor é o primeiro passo para atravessá-la.
Evite comparações: cada luto é único. Não se cobre por “estar melhor” nem se culpe pelos momentos em que sente alívio ou culpa. A sua forma de sofrer é legítima.
Busque apoio: amigos, grupos de acolhimento, terapia. Você não precisa carregar tudo sozinho. O luto compartilhado se torna menos solitário.
Acolha a saudade com amor: a saudade será permanente, mas com o tempo, ela pode deixar de ser só dor para também ser presença. Um amor que não se apaga, só se transforma.
Se você deseja seguir respirando, mesmo com o peito apertado, saiba que está tudo bem. A dor pode caminhar ao seu lado por um tempo ou pela vida toda, mas ela não precisa comandar seus passos.
Viver com dor não é fraqueza. É coragem de seguir mesmo quando o coração ainda sangra. Você não está sozinho. E sua dor importa.
Mirian Pereira, psicóloga com pós-graduação em Neurociência e Comportamento, escritora, palestrante internacional, trainer e master practitioner em Programação Neurolinguística