Opinião

Podem apagar símbolos, mudar nomes… Mas, jamais apagarão uma história!

Toda e qualquer história tem sempre início, meio e fim, sendo que a minha se inicia no dia 07/01/2002, ao ingressar na Polícia Militar de Roraima, por meio de concurso público. Jovem, com apenas 21 anos de idade, sempre tive o sonho de ser policial. Analisando a ação de desmonte da Divisão de Inteligência e Captura da SEJUC – DICAP – após meu pedido de exoneração, não poderia jamais deixar de contar essa história; uma trajetória que transformou essa Divisão em uma referência, uma divisão atuante, respeitada e de grande relevância para o sistema prisional, para a segurança pública e para a sociedade como um todo. Não posso deixar de me pronunciar diante de tantas narrativas criadas, as quais não condizem em nada com a verdade do que realmente aconteceu e acontece!

Com muita luta, deixamos uma infraestrutura montada (móveis projetados, com compartimentos pensados, subdivididos, com improviso, mas com extrema funcionalidade), um sistema de consulta (Sistema Canaimé) em pleno funcionamento (lembrando que, no início, os dados do Sistema Prisional eram em fichas manuais, em papel mesmo!) e o principal: um projeto de trabalho que realmente funcionava e que auxiliava não só a segurança pública de Roraima, mas sim de todo o Brasil, com policiais penais capacitados e com uma enorme forca de vontade de dar continuidade ao trabalho.

Meu pedido de exoneração em nada tem a ver com o desmonte da equipe de Policiais Penais que atuavam na DICAP. Foi uma decisão da gestão em transferir todos eles, policiais treinados e extremamente qualificados para dar continuidade ao trabalho. Porém, o ódio e a vaidade superaram o profissionalismo, contrariando a narrativa de valorização da Polícia Penal, até porque 96% dos integrantes da DICAP eram Policiais Penais.

Diante disso, faço uma pergunta: transferi-los significa “valorização profissional”? Esse processo de transferência abrupta e não planejada, onde os gestores não tiveram a cautela mínima em analisar que muitos que atuavam na linha de frente do combate ao crime organizado foram colocados em unidades prisionais, junto aos seus algozes. Aliás, transferências têm sido uma constante, além de perseguições veladas, seguidas de narrativas criadas. Tudo isso tem feito o ambiente de trabalho do Sistema Penitenciário de Roraima virar um verdadeiro campo de batalha, desestimulando muitos servidores. Um triste cenário foi criado a ponto do policial penal não pode ter amizades com pessoas que a gestão não aprova. E se você tirar uma foto e publicar em suas redes sociais tendo um cargo comissionado, imediatamente é exonerado do cargo, se isso desagradar a gestão (são vários casos! Vários!).

Diariamente, mais notícias surgem a respeito de policiais penais que sofrem calados e adoecem com essa forma de administrar, onde o profissional não é tratado como profissional, tornando o ambiente de trabalho um local insalubre, em que não há o ânimo necessário para exercer essa tão honrada profissão.
Sei que hoje muitos profissionais gostariam de poder falar isso e pedir socorro, mas não conseguem por temerem mais perseguições.

Expresso-me com o objetivo de alertar às autoridades, pois isso não vai terminar bem. Pode ser que esse meu relato não venha a resultar em nada, talvez apenas perseguições a mim, mas não me importo, pois a minha consciência ficará tranquila em poder ter dito o que era preciso e, se um dia algo acontecer, e eu espero que não aconteça, não poderão jamais dizer que não foram alertados.

Voltando a essa história vencedora, ao ingressar para o sistema de segurança pública, tendo como público-alvo criminosos, passei a buscar bancos de dados e fotográficos na tentativa de facilitar o trabalho; mas vi uma carência enorme, quase não existia nada. Resolvi, então, com a adversidade encontrada, criar um banco fotográfico dos criminosos e passei a fazer isso durante meu serviço na ROCAM/PMRR. O tempo passava e a evolução desse banco de dados não estava como imaginava. Em 2004 resolvi buscar o sistema prisional, na tentativa de melhorar o banco de dados com banco fotográfico dos presos. Fui até à Cadeia Pública de Boa Vista, recepcionado pelo então Diretor, Dr. Sérgio Santiago, que me deu a triste informação da inexistência de tais registros.

Os motivos para desistir, como vocês podem ver, eram enormes, mas de imediato me voluntariei para criar esse banco fotográfico naquela unidade, o que foi aceito de pelo Dr. Sergio Santiago, sendo portanto criado de forma voluntária o primeiro banco fotográfico do sistema prisional. Ao apresentar a novidade ao Conselho Penitenciário, o então Diretor do DESIPE Dr. Gilson José dos Santoz, fez o convite para realizar o mesmo trabalho voluntário nas demais unidade (PAMC – CPFBV e CABV). Em 2006, por conta desse trabalho, ainda Soldado da Polícia Militar e, por conta da memória fotográfica com a qual Deus me presenteou, fui convidado a integrar a equipe da DICAP (que não foi eu que criei), passando a desenvolver um trabalho nessa equipe. Em 2008 fui convidado a chefiar a referida equipe.

Gradativamente, fomos formando uma equipe integrada que contava com Policias Militares, Civis e Agentes Carcerários. Fomos formatando, aprendendo, errando, acertando e a cada dia que se passava, um novo aprendizado era adquirido.

Vivíamos em uma sala de 4mx4m, em um prédio alugado à SEJUC, no bairro São Francisco, até quando, em 2012, mudamos para o local onde estávamos. Como estamos falando em história de luta, o espaço destinado à equipe era pequeno e precisávamos evoluir. Foi quando solicitei do então Secretário da SEJUC, General Eliezer Monteiro, a autorização para ocupar um prédio abandonado e sem condições de receber qualquer equipe. Mas com muitas ideias na cabeça e vontade de desenvolver um trabalho melhor, corremos atrás de parceiros que nos ajudaram, gradativamente, a levantar aquela estrutura. Lembro do grande dispêndio de recursos próprios empenhados para a melhor execução administrativa daquele espaço, por acreditar que podíamos fazer um bom trabalho.

Lembro dos primeiros pronunciamentos em relação à existência de facções criminosas, no qual o mapeamento considerado como oficial foi realizado naquela divisão, sendo citado, inclusive, em vários trabalhos científicos como mapeamento geográfico da criminalidade, o que de fato foi realizado para auxiliar nas atividades laborais das instituições policiais, tanto ostensivas como investigativas; e das demais investiduras em capacitação e troca de conhecimento acerca de foragidos oriundos de outros estados, o que nos trouxe notoriedade referente à integração da atividade penitenciária.

Considero todos esses feitos como partes de um processo histórico vitorioso de uma equipe que, com muito afinco, cumpriu cada missão com muita honra.

Em 2013, após proposta indecorosa e maquiavélica que prejudicaria o próprio Secretário da SEJUC, sugerida pelo então diretor do DESIPE, resumi como resposta a seguinte frase: “Não faço com as pessoas o que não gostaria que fizessem comigo, ainda que elas possam fazer um dia” e preferi entregar o cargo.

Em seguida, sem me envolver em “tramoias” e resolvendo não “jogar sujo”, tive a oportunidade de evoluir pessoal e profissionalmente. Foram 6 meses nos quais consegui me dedicar à carreira, galgando a graduação de Cabo e, na sequência, a de Sargento. Tive a oportunidade de integrar o Departamento de Informação e Inteligência da PMRR e, também, de trabalhar na Secretaria de Grandes eventos em Brasília, para atuação específica no evento COPA DO MUNDO de 2014.

Após isso, levado pelo então MAJ PM Francisco Xavier (à época Diretor da PAMC) à presença do então governador Chico Rodrigues, fui convidado a retornar à DICAP, sob uma nova gestão da SEJUC e do DESIP, o que permitiria a continuidade do trabalho feito outrora. Aceitei o desafio e retornamos com o propósito de sempre poder realizar um trabalho que pudesse ser efetivamente útil. Nessa etapa, criamos uma sistemática integrada de consulta que, gradativamente, foi evoluindo e se estendeu a todos os órgãos de segurança, com medidas simples e com custo quase zero para o Estado, mas com uma eficiência enorme! Isso realmente estava fazendo a diferença na segurança pública e no sistema prisional! Essa sistemática de trabalho foi avaliada por vários estados da federação de forma positiva, levando-me, inclusive, a passar tal conhecimento para outras forças, inclusive, recentemente, atendendo um pedido da Diretoria de Inteligência da Secretaria Nacional de Políticas Penais, participei de um Fórum de Boas Práticas em Inteligência Penitenciária, apresentando esse trabalho.
Foram 16 anos construindo esse trabalho, dedicando-me além do comum. Uma dedicação não só minha, mas de todos os colaboradores que passaram pela DICAP ao longo desses anos. Essa dedicação me custou dezenas de ameaças de morte, privação na vida pessoal e muitos outros reflexos que jamais irão acabar, posso ter certeza.

Mesmo tendo um amor pelo que fazia, eu imaginava que um dia esse ciclo se encerraria. Imaginava isso de diversas maneiras, mas nós não sabemos de nada. Encerrei, porém, da maneira que menos imaginava. Nos últimos meses fomos consumidos por um ódio mortal, não dos criminosos, mas sim de pessoas que deveriam aproveitar o legado e buscar melhorar o sistema. No entanto, foram promovidas diversas atitudes de perseguição, nas coisas mais irrelevantes que se possa imaginar e que não valem que sejam comentadas. Criação de falsas narrativas, perseguição de servidores, transformação do ambiente de trabalho em um verdadeiro “campo de batalha” etc. Suportei até quando pude; tentei passar o bastão de uma forma que pudesse haver continuidade no trabalho. Tentei por inúmeras vezes, e tenho como provar isso, mas a narrativa é “tudo estava acontecendo em nome da valorização da polícia penal”.

No entanto, a DICAP era a Polícia Penal, pois era constituída por 96% de policiais penais. Como não havia outra alternativa, a única forma achada pela gestão foi dificultar o trabalho da equipe, prejudicar o atendimento aos demais órgãos de segurança pública, e me forçar sair. Confesso que, pela equipe, segurei o quanto pude e como pude. Como um operador da segurança pública e do sistema prisional, custo a entender tais atitudes que a mim prejudicam pouco, pois não deixo de ser policial e tão pouco deixarei de lutar pela segurança da sociedade.

Lamentável é a realidade dos excelentes profissionais que conheci no desempenho de minhas funções, e agora estão sofrendo perseguições internas, referentes à lotações em unidades que aumentam suas vulnerabilidades pessoais e limitações na execução dos trabalhos que tão bem desempenhavam.

Com os conhecimentos adquiridos na condição de acharel em Segurança Pública, afirmo que, enquanto existir a disputa por vaidades pelos gestores dos órgãos e instituições que compõem o artigo 144 da Constituição Federal, no qual subscreve que “segurança pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos” quem sai vitoriosa é a criminalidade, constatando-se o aumento da sensação de insegurança. Vamos lutar por uma Segurança Pública planejada e efetivamente integrada.

Finalizo dizendo que o senhor Governador Antônio Denarium NÃO TEM CULPA ALGUMA. Ele tem um Estado inteiro para tomar de conta e nem sempre o que é levado a ele reflete o que está realmente acontecendo. Preocupo-me como cidadão roraimense, não apenas como policial, pois aqui viverei minha vida e meus filhos também, mas a verdade sempre prevalecerá.
Nunca criei monstros, combati àqueles que já existiam, Que as mentiras alheias não confundam nossas verdades!

RONEY CRUZ