CONTRATA-SE CARÁTER: quando o currículo não sustenta o comportamento

Em um mundo cada vez mais competitivo e dinâmico, as empresas buscam incessantemente profissionais capazes de agregar valor, trazer resultados e, ao mesmo tempo, manter relações saudáveis e respeitosas no ambiente de trabalho. O processo de seleção, historicamente, se apoia em currículos recheados de títulos, formações e competências técnicas que, em teoria, deveriam garantir a excelência do desempenho. No entanto, a realidade tem se mostrado bem diferente. A frase “CONTRATA-SE CARÁTER”, quando refletida no universo corporativo, expõe uma verdade cada vez mais evidente: contrata-se pelo currículo, mas demite-se pelo comportamento.

Ao observar o cenário atual do mercado de trabalho, nota-se um grande distanciamento entre habilidades técnicas e habilidades comportamentais. Empresas contratam pessoas com base em diplomas, certificados e experiências passadas descritas em papéis. No entanto, não é raro descobrir, na prática, que esse repertório não garante atitudes éticas, respeito às normas, zelo pelo coletivo ou responsabilidade com os compromissos assumidos.

O conhecimento técnico pode ser ensinado, treinado e atualizado. Mas o caráter, entendido como o conjunto de valores, princípios e condutas que regem a vida de uma pessoa, é o que realmente diferencia quem constrói uma trajetória sólida e confiável de quem se perde em atitudes nocivas, destrutivas ou irresponsáveis. Por isso, o currículo impressiona na entrada, mas o caráter é o que sustenta a permanência.

Nas estatísticas internas das empresas, muitos desligamentos não estão relacionados à incompetência técnica. O que pesa, na maioria das vezes, é a ausência de respeito, o descaso com regras básicas de convivência, a falta de comprometimento com prazos e responsabilidades, e o comportamento antiético que mina a confiança das equipes.

Quando um funcionário demonstra repetidamente comportamentos incompatíveis com os valores da organização, nenhuma habilidade técnica consegue equilibrar a balança. O custo emocional, financeiro e cultural de manter alguém que não honra compromissos é muito mais alto do que investir em treinamentos técnicos para um profissional ético e disposto a aprender.

A demissão, nesses casos, é o reflexo de uma distância imensa entre o que está no papel e o que se vive no dia a dia. É a confirmação de que caráter não pode ser terceirizado, nem simulado por muito tempo.

Esse fenômeno tem sido ainda mais evidente entre os jovens que ingressam no mercado de trabalho. Muitas vezes, eles carregam consigo uma visão imediatista da vida, marcada pela busca por resultados rápidos, ascensão instantânea e reconhecimento imediato, sem compreender o valor do processo, da experiência e do tempo necessário para consolidar uma carreira.

Há uma crescente falta de foco. A distração causada pelo excesso de estímulos digitais, pela cultura do imediatismo e pela falsa sensação de autossuficiência fragiliza a capacidade de concentração em tarefas importantes e no respeito às normas do mercado. O compromisso com regras básicas de convivência, como horários, entregas e prazos, tem sido negligenciado.

Além disso, o relacionamento com clientes, algo essencial em qualquer área, muitas vezes não é valorizado. Jovens profissionais, ao se colocarem em uma posição de “sabe-tudo”, esquecem que o cliente é o centro do negócio e que o respeito, a escuta ativa e a humildade são indispensáveis para construir confiança.

Outro ponto crítico é a falsa sensação de que não precisam de orientação ou de aprendizado com os mais experientes. A humildade, que deveria ser um dos pilares de quem está começando, muitas vezes é substituída pela arrogância de acreditar que a juventude, por si só, já é suficiente para inovar e transformar.

É claro que a juventude traz frescor, novas ideias e energia criativa. Mas sem equilíbrio, essa energia pode se transformar em imprudência e falta de respeito pela bagagem daqueles que já trilharam caminhos complexos. A experiência ensina nuances que nenhum curso, livro ou tutorial na internet é capaz de transmitir.

O mercado, embora esteja em constante transformação, continua regido por princípios básicos: ética, disciplina, compromisso e respeito. Quando esses pilares são ignorados, abre-se espaço para uma geração que acredita poder “brincar de deuses”, impondo suas verdades e desconsiderando regras coletivas.

Se há algo que o mercado tem mostrado é que caráter é a moeda mais valiosa no longo prazo. Ele transcende o currículo, porque o currículo pode ser adornado, mas o comportamento não consegue esconder-se por muito tempo. É o caráter que gera confiança, que constrói relações sólidas, que sustenta carreiras e que transforma equipes em verdadeiras comunidades de propósito.

Quando uma organização encontra profissionais que unem competência técnica com caráter íntegro, os resultados vão muito além dos números. Há engajamento, pertencimento, cooperação e credibilidade — ingredientes que nenhuma certificação sozinha é capaz de proporcionar.

Esse quadro não pode ser visto apenas como falha dos jovens, mas também como reflexo da sociedade em que estão inseridos. A educação formal, muitas vezes, prioriza conteúdos técnicos em detrimento da formação de valores. A família, em alguns casos, terceiriza responsabilidades de caráter e cidadania para a escola. E o próprio mercado, ao valorizar excessivamente currículos brilhantes sem investigar a fundo a conduta, acaba reforçando a superficialidade.

É urgente resgatar a ideia de que o sucesso verdadeiro não se mede apenas em conquistas materiais ou posições hierárquicas, mas na forma como se constrói esse caminho: com ética, respeito, compromisso e caráter.

No cenário global, marcado por incertezas e rápidas transformações, empresas e profissionais que sobreviverão serão aqueles capazes de alinhar conhecimento técnico com solidez moral. A coerência entre discurso e prática será cada vez mais exigida.

O futuro do trabalho não será apenas tecnológico, mas humano. O mercado precisa de pessoas que saibam lidar com máquinas e sistemas, mas, acima de tudo, que saibam lidar com outras pessoas. E isso só é possível quando o caráter é a base.

“COBRATA-SE CARÁTER” não é apenas uma frase de impacto; é um grito de alerta. É um lembrete de que currículos atraem, mas comportamentos sustentam. É a constatação de que conhecimento técnico, sem caráter, é como uma bela casa construída sobre areia: inevitavelmente, desmorona.

A juventude precisa compreender que não há atalhos que substituam o compromisso, a disciplina, o respeito e a humildade de aprender. A vida profissional, assim como a pessoal, cobra coerência entre aquilo que se promete e aquilo que se entrega.

No fim, o mercado não precisa de “deuses” que brincam de poder. Precisa de seres humanos íntegros, comprometidos e conscientes de que o maior diferencial competitivo não é a quantidade de diplomas em um currículo, mas a qualidade do caráter que se revela nas atitudes diárias.

Por: Weber Negreiros
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