Polícia

Ocorrência policial termina com duas mortes no Asa Branca

Versões de policiais militares que atenderam o caso e de familiares das vítimas divergem em alguns pontos

Uma ocorrência policial na noite da quinta-feira, dia 6, por volta das 21h10, na rua Raimundo Penaforte, bairro Asa Branca, zona oeste de Boa Vista, resultou na morte de dois jovens, identificados como Jhon Cleiton da Silva Goulart, de 28 anos, e Isac Gabriel Lima dos Santos, de 18 anos. Eles são tio e sobrinho. As versões contadas pela Polícia e pela família dos rapazes são totalmente distintas.

Segundo a Polícia Militar, os jovens são meliantes que estavam em dois veículos, sendo um Ford/Fiesta, cor prata, e um Volkswagen/Gol, cor preto, e atentaram contra a vida de um policial militar em sua residência.

“Os meliantes desceram do Ford/Fiesta, cada um com uma arma em punho, quando começou uma gritaria, momento que o policial ouviu e temendo pela sua vida e de sua família (mãe, esposa e filhos menores), pegou sua arma e foi até a frente da residência, momento que os meliantes passaram a atirar no homem, que revidou de imediato, sendo alvejado na perna esquerda”, declarou.

Ainda conforme a Polícia, no momento da troca de tiros, uma guarnição da PM passava nas proximidades e, ouvindo os tiros, foi rapidamente ao local, onde os jovens também atiraram contra a guarnição, sendo repelidos de imediato e alvejados.

Os policiais também destacaram que imediatamente socorreram o policial ferido e os suspeitos, levando os três na viatura até o Hospital Geral de Roraima (HGR), mas após os primeiros socorros os dois rapazes acabaram morrendo, enquanto o policial ficou em observação médica.

“Com os meliantes foram encontrados, além das duas armas, mais de R$ 3 mil, relógios, joias e celulares. Os outros meliantes que estavam dando apoio no Gol preto se evadiram do local. Algumas vítimas dos meliantes os conheceram no HGR, inclusive, também, alguns bens roubados”, concluiu.

CORPORAÇÃO – A Polícia Militar de Roraima, por meio do Comando de Policiamento da Capital, esclareceu que dois homens trocaram tiros na porta de uma residência que se tratava de um policial militar, que seria alvo da dupla.

No momento, uma viatura fazia ronda nas proximidades e os policiais ao ouvirem os disparos e chegarem ao local, se depararam com dois homens com armas em punho, investindo contra os policiais, vindo a trocar tiros com os suspeitos, que acabaram baleados, mas foram socorridos e não resistiram aos ferimentos.

A Polícia Militar esclarece ainda que todos os procedimentos foram relatados pela equipe e estão no âmbito da delegacia de Polícia Civil. Esclarece ainda que qualquer denúncia motivada por familiares dos envolvidos pode ser feita na Corregedoria da Polícia Militar ou no Ministério Público Estadual (MPRR). (J.B)

Família contesta as mortes e diz que jovens eram inocentes

Tio e sobrinho teriam ido à residência cobrar a devolução de uma arma de pressão que foi emprestada (Foto: Divulgação)

Na manhã de ontem, dia 7, a reportagem da Folha esteve na sede do Instituto de Medicina Legal (IML) e conversou com os familiares de Jhon Cleiton e Izac Gabriel. Mesmo abalados, eles contaram que toda a ocorrência da Polícia foi um verdadeiro equívoco, que a história não tinha nada a ver com policial militar, que os rapazes foram vítimas de um crime, uma vez que saíram do local da ocorrência ainda vivos.

Eles relataram que um dos jovens havia comprado um rifle de ar comprimido de um indivíduo e, em seguida, emprestaram a arma para o mesmo homem, que vive em uma vila residencial na rua Raimundo Penaforte, bairro Asa Branca, e decidiram fazer a cobrança juntos, tendo em vista que o ex-dono da arma estaria se esquivando para não devolvê-la.

A delegada Suébia Cardoso, que acompanha o caso, conversou com a Folha para dar informações que possam elucidar o fato. Segundo ela, suspeita-se que quando os jovens chegaram ao local para fazer a cobrança, possivelmente se desentenderam com a outra parte que passou a gritar e dizer que estava sendo vítima de um assalto. A partir dos gritos, um policial militar teria saído de outro apartamento da vila, já armado, e efetuou disparos contra os dois rapazes.

Conforme os parentes, Jhon Cleiton e Isac Gabriel estavam usando o carro da família, modelo Ford/Fiesta, cor prata, e não estavam acompanhados de mais ninguém. Depois de feridos, muitos populares chegaram ao local para acompanhar a ocorrência. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) teria sido chamado, mas não compareceu. Minutos depois os dois jovens foram levados na carroceria da viatura da PM.

Um vídeo feito por um dos populares mostra que os rapazes estavam feridos, mas vivos, inclusive, Isac Gabriel aparece nas imagens demonstrando medo e nervosismo. Quando chegaram ao HGR, os dois estavam mortos com tiros no peito. “Não sabemos ao certo onde os tiros acertaram. Ficamos sabendo que, quando alvejados, um foi atingido na barriga e outro ferido na perna. Como eles chegaram mortos no hospital e com tiros no peito? Isso é o que me destrói. Eles foram mortos”, disse Glaiquiete Lima de Souza, mãe de Isac Gabriel e irmã de Jhon Cleiton.

Quanto ao dinheiro, relógio e joias encontrados com os dois jovens, Glaiquiete informou que não são roubados, que as joias são fruto de muito trabalho na região do garimpo de Mucajaí. A família afirmou que os dois rapazes tinham R$ 12 mil, sendo R$ 5 mil de Isac Gabriel, dinheiro dado pela mãe para que ele comprasse um carro, e mais R$ 7 mil de Jhon Cleiton que seriam usados para a compra de um novo maquinário para o garimpo. Nas fotos que a família mostrou à reportagem da Folha, os rapazes usavam as joias há alguns meses. “Temos notas fiscais das joias, relógio e celulares”, acrescentou.

A Folha perguntou da delegada Suébia Cardoso se tio e sobrinho tinham passagem pela Polícia ou pelo sistema prisional e foi informada de que somente Isac Gabriel, quando adolescente, foi apreendido por estar em posse de uma arma, mas depois disso nunca mais foi preso e nem tem histórico de qualquer envolvimento com o crime. Jhon Cleiton chegou do garimpo no último domingo, dia 2, e nunca tinha sido conduzido à Delegacia.

Quanto ao policial militar que teria sido alvejado na perna, a família disse ter apurado que ele não deu entrada no HGR para ser medicado ou ter o ferimento tratado e não está internado. Na nota da PM, não há confirmação de policial ferido.

Os corpos foram levados do HGR para o IML e ao fim dos exames de necropsia, na manhã de ontem, foram liberados pela família para realização de funeral e sepultamento. Os parentes pedem justiça e afirmaram que vão levar o caso para a Corregedoria da Polícia Militar porque precisa ser esclarecido. (J.B)