Cotidiano

Mulheres de baixa escolaridade são as que mais desistem de procurar emprego

Conforme pesquisa do Ipea, número de pessoas que perderam a esperança de encontrar trabalho aumentou no segundo trimestre de 2018

O cenário de desemprego no Brasil tem se mostrado cada vez mais deteriorado, conforme mostrou a pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mesmo que tenha ocorrido um leve recuo na taxa de pessoas desocupadas, o número de brasileiros que desistiram de procurar efetivação aumentou no segundo trimestre de 2018.

As mulheres, nordestinos e pessoas com baixa escolaridade representam o perfil de pessoas que estão sem esperança de conseguir emprego ou não têm vontade de trabalhar. Desde 2016, a taxa de pessoas que transitavam do desemprego para o desalento cresceu de 14% para os 22,4% até junho deste ano, isso representa também uma permanência maior no tempo de desocupação. Junto com o aumento da taxa de desemprego, uma parcela cada vez maior dos desocupados desiste de procurar emprego.

Desse perfil, a pesquisa mostra que, nesse período trimestral, as mulheres representam 54,7% dos desalentados. O Nordeste abriga 59% dessas pessoas, seguido da Região Sudeste, com 21,4% e da Região Norte, totalizando 10,9%. Os não chefes de família são a maioria dos desalentados, com quase 70%. Já os que não têm ensino fundamental completo são 50%.

Os jovens entre 18 a 24 anos representam 15% da população em idade ativa, mas correspondem a 25% dos desalentados e obtiveram uma queda na ocupação nesse trimestre. As pessoas entre 25 a 39 anos tiveram o percentual maior, com 30,6%. Em contrapartida, o Ipea também apontou que tem crescido a população que sai da atividade para a inatividade em um curto período de tempo e já se consideram desalentadas, mesmo tendo ficado pouco tempo no desemprego.

Taxa de desemprego cai

O Ipea ressaltou que o número de desemprego vem recuando, entretanto, aumenta-se o tempo de permanência de pessoas desocupadas. Segundo a pesquisa, a parcela de desempregados cujo tempo de procura por emprego é superior a dois anos chega a 24% em 2018.

Neste perfil de desemprego, as mulheres também são maioria: 14,2% e a maior parte localizada no Nordeste, com quase 15%. Os jovens entre 18 a 24 representam quase 27% dos desempregados, em que 21,1% possui ensino médio incompleto e estão dentro da região metropolitana, com 14,4%. 

Em relação aos dados nacionais, o desemprego caiu de 13,1% para 12,4% nos dois trimestres de 2018. O estado de Roraima está entre os cinco estados que registraram aumento no desemprego neste ano, mas a pesquisa não revela esse quantitativo. 

Socióloga relaciona desalento com falta de programas sociais

Conforme a socióloga e professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Márcia Oliveira,estar sem emprego não significa necessariamente que não trabalha, pois há diversas formas de produzir meios para o sustento da família através do trabalho, mas somente quando não consegue esse feito, é considerada, de fato, desempregada.

Para a especialista, o desalento representa uma pessoa que não tem vontade de continuar na luta pelo emprego e é abatida pelas dificuldades encontradas no cotidiano. O número expressivo de mulheres e jovens que se encaixam nos desalentados é preocupante.

“Esse dado assusta porque revela que a conjuntura do desemprego no Brasil coloca em estado de desalento uma faixa etária importantíssima para fazer crescer a economia, que é a inserção dos jovens no mercado de trabalho”, explicou.

Márcia destacou ainda que os resultados da pesquisa consideraram que os desalentados estão ligados ao fato de não conseguirem trabalho adequado, não possuir experiência profissional ou qualificação. Além de serem considerados muito jovens ou muito idosos em alguns cargos.

De acordo com a socióloga, os dados revelam que, em questão da escolaridade, está ligada com o término de programas de inclusão das classes populares na educação superior.

“As pesquisas revelam que os jovens desempregados não avançaram nos estudos nos últimos dois anos, o que coincide com a mudança de governo e os dramáticos cortes dos recursos voltados para educação. Com menor acesso ao ensino superior, aumenta a proporção de jovens desempregados por causa da formação”, enfatizou.

Eleições podem ter influência para pessoas que estão desempregadas

A cientista social destacou ainda que essa taxa de desemprego mostrada na pesquisa do Ipea não tem nenhuma relação com a migração venezuelana, pois se trata da população local economicamente ativa, ou seja, independente dos imigrantes, a taxa cresceu em Roraima.

Márcia entende também que o desalento relacionado à impossibilidade de ingresso no mercado de trabalho pode sofrer variações. No período de campanha eleitoral, muitas pessoas sem trabalho realizam “bicos” ou diárias para esse fim político, sem conferir vínculo empregatício aos prestadores de serviço. 

“Isso poderia explicar a diminuição temporária, nesses últimos meses que antecedem as eleições, do número de pessoas que saiu em busca de trabalho, não significa necessariamente que estão em condição de desalento. Pode ser um reflexo do recorte temporário da pesquisa e pode não ter sido mencionado ou considerado na pesquisa”, relatou.

Para a socióloga, é necessário chamar atenção das autoridades públicas para um sintoma de problema que poderá se agravar com a conjuntura de cortes em recursos aos serviços essenciais da sociedade, como educação e geração de emprego. (A.P.L)