Cotidiano

Centro de Valorização da Vida busca voluntários

Disque 188 atende até 11 mil pessoas por dia

O Centro de Valorização da Vida (CVV) está precisando de voluntários. O serviço de Disque 188, que ajuda na prevenção de suicídios de forma gratuita e preservando anonimatos, realizará curso gratuito para capacitação e seleção de novos integrantes em Boa Vista, no Colégio Aplicação da Universidade Federal de Roraima, às 8h do dia 30 deste mês.

As inscrições deverão ser feitas pelo e-mail [email protected]. Voluntários disponibilizarão quatro horas semanais de seu tempo para atender, ouvir e ajudar pessoas que estejam se sentindo solitárias ou com vontade de tirar a própria vida.

Segundo o porta-voz do CVV em Boa Vista, Guilherme Ramos, a necessidade por voluntários, em meio ao setembro amarelo, que é voltado justamente para a valorização da vida, é fundamental para que o máximo de pessoas seja abrangido pelos serviços gratuitos do órgão.

“O CVV atende de 7 a 11 mil pessoas por dia, pelo menos essa é a quantia que atendemos no nosso ramal, que atende todo o Brasil. Entretanto, sempre lamentamos pelas pessoas que não conseguimos conversar. Estamos com 13 voluntários, cinco a menos do que em junho. Pessoas optam sair por questões profissionais ou emocionais, por isso precisamos dessas reposições”, explicou.

Este encontro será inicial. A ideia é que haja uma série de outros encontros para discussões e aprendizados voltados à empatia e compreensão do próximo.

“Serão quatro encontros iniciais. Depois combinaremos encontros frequentes de duas horas. Daí vem o estágio, na qual aplicaremos técnicas de empatia. Colocaremos essas pessoas para vivenciarem papéis, que façam com que certos dogmas sejam quebrados. É importante para ver se essa pessoa possui empatia, é flexível, e capaz de lidar com cenários extremamente dolorosos. Sem julgar em nenhum aspecto”, disse Guilherme.

Sobre a metodologia adotada pelos voluntários em suas abordagens, Guilherme destacou que o CVV preza em ouvir as pessoas, acima de tudo. Ele afirma que o voluntário precisa ouvir e entender as angústias de cada pessoa que liga.

“Tem uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde que diz que 90% dos suicídios podem ser prevenidos. Muitas vezes, essas pessoas precisam ser escutadas. E é isso que fazemos. Nós ouvimos e procuramos ter a empatia pela pessoa, independente de ideologia, religião, crença, ou qualquer outra coisa. E não ficamos dando conselhos do tipo ‘calma, vai ficar tudo bem’. O que fazemos é compreender as angústias dela”, frisou.

O ato de ouvir, por mais fácil que possa soar, é bem mais desafiador do que parece. Guilherme destacou que, em sociedades que prezam por valores individualistas, é muito difícil que pessoas parem para ouvir o que as outras possuem a dizer em meio aos seus tormentos. Ele aponta que a prática disso requer preparação para todo tipo de situação.

“O voluntário precisa estar pronto para ouvir um pouco de tudo. Existem conversas que duram cinco minutos, e outras que duram duas horas, vai de cada caso. Há caso de pessoas que dizem só querer falar com alguém enquanto se matam e precisamos respeitar e compreender. Também existem aquelas que só dão boa noite e falam um pouco de seu dia. A compreensão total, sem julgamentos, melhora a saúde dessas pessoas”, contou.

O porta-voz da CVV em Boa Vista finalizou destacando que a solidão é um sentimento muito presente entre brasileiros em geral, que se sentem presos e não conseguem falar de seus sentimentos e problemas de forma aberta. Daí, a necessidade do disque 188.

“Não há como classificar os tipos de casos que atendemos. Mas vemos que o principal tema abordado entre as pessoas que falamos geralmente é a solidão. Existem muitas pessoas sozinhas por aí, e que querem se sentir ouvidas. Vale destacar que se sentir só não é na mera ausência de pessoas, mas na ausência de alguém que você sinta que possa falar tudo, todos os problemas, pânicos, mágoas. Nós ouvimos, e queremos voluntários para ajudar”, concluiu. (P.B)