Cotidiano

Conselho de Cultura elabora relatório que pedirá embargo

Representantes do segmento cultural de Roraima alegam que obra destruirá patrimônio histórico-cultural da cidade

Representantes do segmento cultural do Estado se reuniram ontem pela manhã, 4, na sede do Conselho Estadual de Cultura. Eles questionam a construção de um Centro Comercial Popular, conhecido como Camelódromo, no canteiro central da avenida Silvio Lofego Botelho pela Prefeitura de Boa Vista.

Os conselheiros iniciaram a elaboração de um relatório, que será encaminhado ao Ministério Público do Estado de Roraima, pedindo o embargo da obra. Eles alegam que a construção de um camelódromo naquela área destruirá o Patrimônio Histórico-Cultural de Boa Vista.

De acordo com a presidente do Conselho Estadual de Cultura, Tânia Magalhães, a construção de um Camelódromo naquele local fere a Constituição Estadual de Patrimônio Histórico, uma vez que o canteiro central faz parte do ambiente da Praça Daicy Figueiredo Pereira, que é tombada e compõe o sítio histórico cultural da capital. “É uma agressão a nossa memória. Não podemos aceitar isso. É destruir literalmente nossa história, apagar nossas referências. Essa obra está infringindo a nossa Constituição de Patrimônio Cultural”, afirmou.

Conforme a diretora de Patrimônio do Departamento Histórico e Cultural da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), Cecy Brasil, a obra é uma falta de respeito com a população, que não foi consultada. “Destruir um local que faz parte da história do boa-vistense para construir um centro comercial popular não resolve a situação do mercado informal. Ao contrário, apaga da memória a história de um povo”, disse. “Esse documento que estamos elaborando é para isso, tomar providências enquanto é tempo e não deixar a administração municipal acabar com nosso acervo histórico cultural. Temos que tomar uma atitude e barrar coisas do tipo, caso contrário seremos um povo perdido, sem referência”, acrescentou Cecy.

Elena Fioretti, membro da Câmara de Patrimônio Histórico e Cultural, lembrou que essa não é a primeira ação da prefeita Teresa Surita que prejudica as referências históricas da cidade, levando em consideração os traços arquitetônicos da época de construção. Para Elena, as obras realizadas na gestão da atual prefeita são futuristas e não têm nada a ver com a forma que foi criada. “Desnecessário e muito grave isso. A prefeita está eliminando a arquitetura original urbana de nossa cidade. As construções idealizadas por ela são futuristas. Daqui a alguns anos nós não nos lembraremos do nosso passado”, enfatizou.

Membro do Conselho Estadual de Cultura, Jânio Tavares contou que já recebeu reclamações de moradores próximos ao local, de pessoas de famílias tradicionais do Estado e de pessoas que moram há pouco tempo na cidade. “Recebo queixas de muita gente que mora pertinho do local, gente tradicional e pessoas novas em Boa Vista. Essa obra é inaceitável”, frisou.

OPINIÃO CONTRÁRIA – A equipe de reportagem da Folha conversou com um comerciante que mora próximo ao canteiro central onde será construído o Centro Comercial Popular. Para ele, que não quis ser identificado, a obra do Camelódromo vai trazer desenvolvimento econômico para cidade e dar oportunidade às pessoas. “Essa construção vai organizar o centro da cidade, ajudar as pessoas que trabalham no mercado informal, além de trazer dinheiro pra cá”, ressaltou, reafirmando que é a favor da obra.

OUTRO LADO – Procurada pela reportagem da Folha, a Prefeitura de Boa Vista informou que ainda não tomou conhecimento do teor do documento e assim que tiver se posicionará.

Em nota anterior encaminhada à Folha, a administração municipal ressaltou que “naquele local antes existia o terminal de integração de ônibus e agora receberá um centro comercial gerando emprego e renda para a população”, que o projeto arquitetônico levará em consideração todos os aspectos ambientais. “Com o Camelódromo, Boa Vista ganhará mais uma bela obra que representará um novo atrativo para quem mora e quem visita a cidade”, disse. (E.S)