O bullying é caracterizado como uma violência física ou psicológica a partir de práticas repetitivas contra uma pessoa, seja por um ou mais indivíduos. Em alguns casos, as sequelas desse comportamento podem ser levadas para o resto da vida e exigir acompanhamento psicológico e até médico. Comum nas escolas, o bullying pode e deve ser combatido pelos pais. Nesta reportagem, especialistas indicam caminhos para isso.
Psicóloga e especialista em Neurociências, Desenvolvimento Infantil e Educação, Priscila Cunha (@priscilabcunha) afirma que o bullying precisa ser pensado a partir de uma perspectiva macro, ou seja, uma responsabilidade de todos: da sociedade, dos pais da vítima e do agressor, da vítima e do agressor, e da escola. Na avaliação dela, há uma cultura de relação de poder que contribui para os comportamentos agressivos.
“Alguns fazem uma leitura do ambiente escolar para identificar quem eles vão dominar, mas outros não. Eles já chegam com essa garantia [de dominação]. Como eles se sentiram tão seguros? Porque na sociedade isso é ensinado e, em casa, é reforçado, com a figura de autoridade, o tom de voz usado, a expressão corporal, as regras são minhas, eu mando e você obedece. A criança vai reproduzir isso em outro ambiente”, disse.
Priscila orienta que os pais precisam estar atentos aos comportamentos que reforçam uma agressão, por meio do preconceito contra crianças autistas, de classe social distinta e até mesmo racial. Isso faz com os responsáveis exigirem da escola medidas que inibam esse tipo de comportamento dos filhos.
“É sempre esperado da escola o papel de educar, e a escola tem, sim, essa responsabilidade, mas não é só isso. Todas as vezes que os pais vêm para a orientação parental eu digo que vai ser doloroso, não por lidar com o comportamento do filho agressor, mas porque os pais vão ter que mudar condutas que estão enraizadas. Sempre menciono que não podemos reproduzir violências, que não se caracterizam apenas pelo bater. O bullying pode ser uma exclusão silenciosa, um olhar, não ser escolhido para jogar por não ser bom. São comentários que as crianças tomam para si como verdades”, alertou.
Priscila deixa orientações sobre como os pais podem atuar nesse processo:
– Autoridade não significa ser autoritário
– É preciso observar os próprios comportamentos;
– A psicoeducação deve ser implementada nas escolas, para dialogar com a comunidade escolar e a família;
– Buscar ajuda profissional para que seja feito um acompanhamento familiar por meio da orientação parental, com mudança de rotina;
– Priorizar a educação respeitosa.
Cyberbullying
É justamente na escola que esses comportamentos são reproduzidos. Com as novas plataformas, eles ganham espaço nas redes sociais e dão proporção ainda maior a violência praticada. Por essa razão, o Programa de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), por meio do projeto “Educar é Prevenir”, aborda a temática nas escolas estaduais durante as palestras sobre o crime de tráfico de pessoas.
“Não deixamos de citar o cyberbullying, que tem uma lei recente de janeiro de 2024, que decretou, que criminaliza essa prática. Por isso, é importante alertar os alunos sobre esse crime, principalmente dentro das escolas, para evitar esses comportamentos e sequelas graves na vida de outros estudantes. É um tema primordial”, declara o coordenador do projeto “Educar é Prevenir”, Glauber Batista.
O cyberbullying ocorre nos ambientes virtuais, como redes sociais, emails e aplicativos de mensagens. Os objetivos são sempre os mesmos: humilhar, perseguir, xingar e até agredir fisicamente a vítima. E as consequências dessa prática podem ser observadas na vida adulta. Dizer “na minha época não tinha bullying, era tudo brincadeira” não é argumento válido, na avaliação do psicólogo Wagner Costa.
“Às vezes, as pessoas minimizam essa situação, usando a ideia de que isso sempre foi feito assim. Isso ocorria porque não conhecíamos a formação da mente humana. Precisamos lembrar que os estudos sobre o funcionamento do cérebro começaram na década de 1980, ou seja, é pouco tempo de conhecimento. Uma criança que sofre bullying e não recebe apoio emocional e proteção, cresce com o que chamamos de desamparo aprendido, isto é, cresce acreditando que nada pode fazer para mudar as situações de problemas”, exemplificou Wagner.
O profissional detalhou que o processo de violência torna a criança em um adulto sem iniciativa e com autoestima abalada. Ela menciona que quando estamos com a autoestima elevada, acreditamos e confiamos mais em nós mesmos e nos sentimos bem com a nossa vida.
“Digo, portanto, para todos os pais e educadores, que tenham um olhar mais perceptível às crianças que maltratam as outras e protejam aquelas que sofrem a violência, e intervenha para que aquele que pratica o bullying perceba a importância de conviver com os outros e não se imponha. Isso é fundamental para construirmos uma sociedade mais equilibrada e justa”, indicou.